O padre Tiago Neto disse aos catequistas algarvios que o novo itinerário para a catequese vem mudar o entendimento existente de um percurso que se faz durante determinado tempo para atingir uma meta para o de um caminho que está “sempre a recomeçar”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele membro da equipa redatora do ‘Itinerário de iniciação à vida cristã das crianças e dos adolescentes com as famílias’, que foi o formador dos três encontros nos dias 6, 7 e 8 deste mês, respetivamente, para os catequistas das três regiões pastorais algarvias — barlavento, centro e sotavento —, exortou a “ver a iniciação cristã e o processo de evangelização como um permanente iniciar na fé”. “No processo de acompanhamento de crianças, adolescentes e famílias estamos sempre a começar”, realçou, apontando a “um processo permanente e contínuo”.

O sacerdote considerou mesmo que “a lógica do sacramento ao fim do percurso é uma lógica complexa e problemática porque pode dar a entender que a pessoa só pode receber o sacramento se fizer todo este percurso”. “É bom que compreendamos o lugar dos sacramentos e, sobretudo, percebamos também que são dons que têm de encontrar da parte da pessoa a abertura do coração e a disponibilidade interior para serem recebidos”, afirmou.

O formador considerou que, “mesmo naquilo que é a orgânica dos sacramentos”, é preciso “fazer opções que também estejam em consonância” com a iniciação à fé. “A lógica dos sacramentos é uma lógica que deve corresponder àquilo que a pessoa pode e consegue fazer no seu caminho de fé”, defendeu, reconhecendo que uma catequese em ordem aos sacramentos “é necessária”, mas alertando que “a catequese não tem de estar amarrada aos sacramentos”. “Nunca os sacramentos, na lógica da iniciação, são o fim. A finalidade é a vida cristã, não é o sacramento. A finalidade é a vida cristã que nasce do sacramento e não o sacramento ser recebido”, completou, desejando “que a receção dos sacramentos seja mais balizada pelo crescimento e pelas atitudes de fé do que pela idade”.

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A este propósito, o sacerdote disse ser necessário “personalizar os caminhos de iniciação à fé”. “Muitas vezes, crianças que não têm apoio familiar são umas heroínas. A questão não está nas vezes que se vai, mas na capacidade que temos de avaliar caso a caso a maturidade da criança para poder dar um passo em frente. Quando falamos de crianças com pais em contexto educativo temos de ter cuidado e gerir as coisas com pinças”, advertiu.

O padre Tiago Neto defendeu então que “a catequese tem de ter menos conteúdo e centrar-se mais no essencial: ajudar as pessoas a fazer experiências significativas da fé”. “É preciso que nós, catequistas, nos treinemos e nos formemos em realizar e dinamizar experiências concretas de iniciação à vida cristã”, apelou, lembrando que “o mais importante na transmissão da fé são as testemunhas da fé” porque “a fé cresce por osmose, por contágio e por relação e não por proselitismo”. “Toda a procura de fé não se faz sem uma rede de relações”, alertou.

O responsável pelo Departamento da Catequese do Patriarcado de Lisboa explicou que o novo percurso catequético preconiza uma “catequese mais centrada no querigma [primeiro anúncio] e acentuadamente mistagógica e missionária”. “O primeiro anúncio tem a ver com esta capacidade de ser iniciado à descoberta do amor de Deus em cada circunstância da vida, a questão da mistagogia tem a ver com fazer experiência”, desenvolveu.

Lembrando, que “o atual programa não prevê nenhuma relação com o tempo anterior à vida da criança antes dos seis anos, nem nenhuma relação com o mundo juvenil”, o formador realçou que o novo itinerário “prevê a possibilidade de um primeiro anúncio da fé às crianças (e às famílias) antes dos seis anos de idade” e “uma relação maior entre a catequese com os adolescentes e os jovens”. 

Por outro lado, referiu também a “intenção de favorecer nas comunidades aquilo que é a interação entre os diversos intervenientes da educação da fé”. “Há neste itinerário a preocupação de haver uma relação próxima entre os educadores da fé: catequistas, chefes de escuteiros e animadores de grupos de jovens”, sustentou. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador explicou que a “forma oficial de iniciar à fé” (catecumenado) é composto por quatro tempos: primeiro anúncio, catecumenado, purificação e mistagogia. O padre Tiago Neto referiu que a esses quatro tempos correspondem o ‘Despertar da fé’ (dos 0 aos 7 anos), a ‘Iniciação à vida cristã’ (dos 7 aos 10 anos), o ‘Aprofundamento mistagógico’ (dos 10 aos 14 anos) e o ‘Discipulado missionário’ (dos 14 em diante). “A passagem de um tempo ao outro é feita mediante celebrações significativas: celebração de entrada; celebração da eleição; celebração dos sacramentos de iniciação cristã”, completou. 

O formador explicou que o tempo do ‘Despertar da fé’ é uma “proposta a ser vivida na família”, mas alertou que “a iniciação cristã de uma criança não pode estar dependente daquilo que é a caminhada de fé dos seus pais” e acrescentou que “quando o catequizando chega aos 6 anos há uma experiência de despertar da fé para as crianças e para as famílias a ser vivida na família e na comunidade”. 

Aquele responsável explicou que o ritmo quinzenal de encontros na paróquia, alterna com os encontros na família e esclareceu que a criança é inscrita “para um tempo de primeiro anúncio ao termo do qual existe um pedido formal de entrada na catequese”. “Então abre-se o tempo de ‘Iniciação à vida cristã’”, prosseguiu, explicando que quando as crianças entram oficialmente na catequese o modelo passa a ser “mais tradicional”, o “do catequista com o seu grupo” e “com um grupo de pais que queiram e possam caminhar com os seus filhos”. 

O padre Tiago Neto explicou que este tempo de ‘Iniciação à vida cristã’ é composto de três anos, articulados em seis módulos temáticos. “A ideia é trabalhar núcleos centrais da fé”, afirmou, adiantando que dois serão ligados ao querigma, um de oração, outro à celebração da fé e aos sacramentos e dois à Bíblia. “Falta explicitamente a dimensão moral que terá um módulo específico ou será repassada por todos os módulos”, acrescentou, desejando ainda que os “núcleos centrais da fé” “possam ser acompanhados de experiências concretas e de validação de experiências”, como por exemplo “aprender a rezar”. O sacerdote acrescentou ainda que “neste tempo de ‘Iniciação à vida cristã’ está prevista a celebração dos sacramentos da iniciação cristã: batismo (para quem não é batizado), primeira reconciliação, primeira comunhão e confirmação”. 

O formador explicou ainda que o tempo do ‘Aprofundamento mistagógico’ compreende o “aprofundamento dos temas trabalhados na ‘Iniciação à vida cristã’ — Sagrada Escritura, credo, liturgia e sacramentos, mandamentos e bem-aventuranças” — e que o tempo do ‘Discipulado missionário’ será “inspirado na exortação ‘Cristo Vive’” com “temas ligados ao sentido da vida, vocação e projetos de vida”. “A educação para os afetos e para a sexualidade tem de estar presente em todo o itinerário”, acrescentou.

O padre Tiago Neto adiantou que no próximo ano pastoral “a catequese até ao 6º catecismo continua como está”. “A partir do 7º temos algumas alterações. Para todos aqueles que vão para o 7º, 8º, 9º e 10º no próximo ano haverá um subsídio catequético para reviver e recordar a experiência da Jornada Mundial da Juventude”, anunciou, explicando que o está previsto inclui mesmo aqueles que possam vir a não participar no encontro de Lisboa e que no próximo ano “quem tiver adolescentes no atual 7º e 8º vão ter como subsídio o percurso 3 do tempo do ‘Aprofundamento mistagógico’ que é sobre a liturgia”. O 9º e 10º anos atuais seguem o primeiro percurso do tempo do ‘Discipulado missionário’ que se chama ‘Raízes’”, completou.

A formação de catequistas, promovida pelo Setor da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve, contou com 84 participantes no Centro Pastoral da matriz de Portimão, com 66 no Centro Paroquial de Loulé e 60 participantes no Centro Paroquial de Olhão.