A celebração do Dia de BP (Baden-Powell, fundador mundial do escutismo) no Algarve, no passado sábado, marcou a retoma das atividades presenciais do efetivo do Corpo Nacional de Escutas (CNE) na região, após dois anos de pandemia.

A Junta Regional do CNE lançou o imaginário inspirado na descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama e nas “tormentas” por que o navegador português teve de passar, estabelecendo um paralelo carregado de simbolismo com o que os escuteiros viveram nos últimos dois anos, limitados apenas a atividades em ambiente digital.

Dia_bp_2022-3“Vamos fazer esta viagem já convencidos de que conseguimos e temos força para vencer todas as tormentas, todas aquelas dificuldades que ao longo destes dois anos nos têm incomodado”, começou por afirmar o chefe regional do CNE.

“Como escuteiros, com o sentido que temos nesta nossa missão, temos coragem e conseguimos sempre ultrapassar todas estas intempéries e tormentas que se apresentam na nossa vida. Queremos que este momento seja vivido com essa capacidade de conseguirmos vencer todas essas dificuldades. Nesta fraternidade que é o escutismo, certamente vamos conseguir”, sustentou Luís Cabrita.

Em declarações ao Folha do Domingo, aquele dirigente explicou que a atividade foi participada por mais de 50% do efetivo do CNE na região, “cerca de 1.068 participantes”, vindos de 22 dos 33 agrupamentos no Algarve. “Sabíamos que há muito este desejo de voltar a encontrar as pessoas e a fazer o escutismo”, afirmou, confirmando que a pandemia provocou uma redução no efetivo escutista. “No início da pandemia perdemos mais de 300 escuteiros. Agora temos vindo a subir. Este ano temos mais 57 em relação ao ano passado, mas continuamos com um número inferior ao que tínhamos em 2019”, lamentou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Luís Cabrita confirmou que também “houve algumas saídas no quadro de dirigentes”. “Sem os voluntários adultos não conseguimos levar a efeito os projetos”, lembrou, garantindo que a saída dos chefes acaba por comprometer, por vezes, a continuidade dos agrupamentos. “Queremos que o escutismo seja uma grande família, uma grande escola de vida, mas depende do esforço e do voluntariado de cada um de nós adultos”, constatou.

O chefe regional adiantou ter havido mesmo alguns agrupamentos “muito grandes” e “com grandes estruturas bastante sólidas” que pararam completamente durante a pandemia.

“Para a Junta Regional também foi um grande desafio e tivemos também alguns momentos de frustração porque sentimos também alguma dificuldade em criar algo diferente que pudesse motivar”, reconheceu, acrescentando que “fazer escutismo em casa e virtual é complicado”. “Conseguimos dar a volta, tentar desenvolver um projeto que fosse motivador, mas não é comparável à vivência presencial”, prosseguiu aquele responsável da Junta Regional que nos últimos dois anos se adaptou como pôde a uma nova realidade que ninguém esperava.

O secretário regional para o plano e projetos da Junta Regional explicou ao Folha do Domingo o que se pretendeu com o imaginário da atividade. “Queríamos transmitir aos nossos elementos que apesar de todas as tormentas por que passaram, como Vasco da Gama passou para poder chegar até à Índia, todas elas são possíveis de superar em equipa, em conjunto”, afirmou Luís Santos.

Aquele dirigente disse ter sido pedido que todas as sub-unidades construíssem uma embarcação com uma mensagem de esperança e a trouxessem para a atividade. “Essa mensagem seguiu agora para outro agrupamento, patrulha, bando, equipa e tribo, para que assim se possa passar a esperança a outras sub-unidades de outras zonas do Algarve e possam continuar a fazer escutismo em segurança”, contou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na Eucaristia que marcou o ponto alto da atividade, celebrada no Santuário da Mãe Soberana, o bispo do Algarve manifestou o seu “reconhecimento” e a sua “gratidão” à Junta Regional e àqueles que estão à frente dos agrupamentos “pela sua persistência, sobretudo ao longo da pandemia, em manter vivo CNE, mesmo quando era impossível reunir, convocar e estar juntos devido a tantas limitações”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Quintas dirigiu ainda uma “palavra de estímulo” a todos. “Vamos, mesmo com as precauções que nos são exigidas e impostas, manter viva a chama e o ideal escutista aqui na nossa Igreja diocesana. E eu gostaria e quero mesmo confiar em vós como instrumento para reanimar as nossas comunidades paroquiais. Ou seja, estou certo de que o CNE vai contribuir para retomarmos a vivência cristã, pastoral. Precisamos todos do apoio uns dos outros e eu quero contar convosco e sei que vós não me ides desiludir”, afirmou.

Ao longo da manhã, os escuteiros realizaram diversos jogos pela cidade. Depois do almoço, decorreu a celebração da eucaristia ao ar livre. Como que a testar a lição aprendida durante a jornada, abateu-se durante a missa uma chuvada sobre o Santuário da Mãe Soberana, mas os escuteiros mantiveram-se unidos e firmes no propósito de superar a intempérie e levar a «caravela» da boa esperança no futuro a «navegar em águas» mais tranquilas daqui para a frente.