A celebração do Dia de BP (Baden-Powell, fundador mundial do escutismo) no Algarve, no passado sábado, marcou a retoma das atividades presenciais do efetivo do Corpo Nacional de Escutas (CNE) na região, após dois anos de pandemia.
A Junta Regional do CNE lançou o imaginário inspirado na descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama e nas “tormentas” por que o navegador português teve de passar, estabelecendo um paralelo carregado de simbolismo com o que os escuteiros viveram nos últimos dois anos, limitados apenas a atividades em ambiente digital.
“Vamos fazer esta viagem já convencidos de que conseguimos e temos força para vencer todas as tormentas, todas aquelas dificuldades que ao longo destes dois anos nos têm incomodado”, começou por afirmar o chefe regional do CNE.
“Como escuteiros, com o sentido que temos nesta nossa missão, temos coragem e conseguimos sempre ultrapassar todas estas intempéries e tormentas que se apresentam na nossa vida. Queremos que este momento seja vivido com essa capacidade de conseguirmos vencer todas essas dificuldades. Nesta fraternidade que é o escutismo, certamente vamos conseguir”, sustentou Luís Cabrita.
Em declarações ao Folha do Domingo, aquele dirigente explicou que a atividade foi participada por mais de 50% do efetivo do CNE na região, “cerca de 1.068 participantes”, vindos de 22 dos 33 agrupamentos no Algarve. “Sabíamos que há muito este desejo de voltar a encontrar as pessoas e a fazer o escutismo”, afirmou, confirmando que a pandemia provocou uma redução no efetivo escutista. “No início da pandemia perdemos mais de 300 escuteiros. Agora temos vindo a subir. Este ano temos mais 57 em relação ao ano passado, mas continuamos com um número inferior ao que tínhamos em 2019”, lamentou.
Luís Cabrita confirmou que também “houve algumas saídas no quadro de dirigentes”. “Sem os voluntários adultos não conseguimos levar a efeito os projetos”, lembrou, garantindo que a saída dos chefes acaba por comprometer, por vezes, a continuidade dos agrupamentos. “Queremos que o escutismo seja uma grande família, uma grande escola de vida, mas depende do esforço e do voluntariado de cada um de nós adultos”, constatou.
O chefe regional adiantou ter havido mesmo alguns agrupamentos “muito grandes” e “com grandes estruturas bastante sólidas” que pararam completamente durante a pandemia.
“Para a Junta Regional também foi um grande desafio e tivemos também alguns momentos de frustração porque sentimos também alguma dificuldade em criar algo diferente que pudesse motivar”, reconheceu, acrescentando que “fazer escutismo em casa e virtual é complicado”. “Conseguimos dar a volta, tentar desenvolver um projeto que fosse motivador, mas não é comparável à vivência presencial”, prosseguiu aquele responsável da Junta Regional que nos últimos dois anos se adaptou como pôde a uma nova realidade que ninguém esperava.
O secretário regional para o plano e projetos da Junta Regional explicou ao Folha do Domingo o que se pretendeu com o imaginário da atividade. “Queríamos transmitir aos nossos elementos que apesar de todas as tormentas por que passaram, como Vasco da Gama passou para poder chegar até à Índia, todas elas são possíveis de superar em equipa, em conjunto”, afirmou Luís Santos.
Aquele dirigente disse ter sido pedido que todas as sub-unidades construíssem uma embarcação com uma mensagem de esperança e a trouxessem para a atividade. “Essa mensagem seguiu agora para outro agrupamento, patrulha, bando, equipa e tribo, para que assim se possa passar a esperança a outras sub-unidades de outras zonas do Algarve e possam continuar a fazer escutismo em segurança”, contou.
Na Eucaristia que marcou o ponto alto da atividade, celebrada no Santuário da Mãe Soberana, o bispo do Algarve manifestou o seu “reconhecimento” e a sua “gratidão” à Junta Regional e àqueles que estão à frente dos agrupamentos “pela sua persistência, sobretudo ao longo da pandemia, em manter vivo CNE, mesmo quando era impossível reunir, convocar e estar juntos devido a tantas limitações”.
D. Manuel Quintas dirigiu ainda uma “palavra de estímulo” a todos. “Vamos, mesmo com as precauções que nos são exigidas e impostas, manter viva a chama e o ideal escutista aqui na nossa Igreja diocesana. E eu gostaria e quero mesmo confiar em vós como instrumento para reanimar as nossas comunidades paroquiais. Ou seja, estou certo de que o CNE vai contribuir para retomarmos a vivência cristã, pastoral. Precisamos todos do apoio uns dos outros e eu quero contar convosco e sei que vós não me ides desiludir”, afirmou.
Ao longo da manhã, os escuteiros realizaram diversos jogos pela cidade. Depois do almoço, decorreu a celebração da eucaristia ao ar livre. Como que a testar a lição aprendida durante a jornada, abateu-se durante a missa uma chuvada sobre o Santuário da Mãe Soberana, mas os escuteiros mantiveram-se unidos e firmes no propósito de superar a intempérie e levar a «caravela» da boa esperança no futuro a «navegar em águas» mais tranquilas daqui para a frente.