Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O Algarve recebeu no passado fim-de-semana a reunião de chefes regionais do Corpo Nacional de Escutas (CNE) de todo o país.

O grupo – com cerca de 36 dirigentes da Junta Central, da Mesa do Conselho Nacional e da Comissão Fiscalizadora Nacional e das 20 regiões escutistas – reuniu-se no Centro Social Paroquial de Nossa Senhora do Amparo, em Portimão, para o encontro que teve início logo na sexta-feira à noite com uma reunião de reconhecimento, seguida de jantar.

Ao Folha do Domingo, o chefe nacional do CNE explicou que este encontro de trabalho – o segundo de três que se realizam anualmente – visou pensar a execução do próximo ano escutista, a iniciar em outubro, tendo em conta “as ansiedades e as dificuldades” dos 1.040 agrupamentos que constituem o movimento em Portugal para tentar ir “mais ao encontro” daquilo que os preocupa.

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Lembrando que as 20 regiões escutistas “são todas muito diversas umas das outras”, incluindo desde as “mais desertificadas” e “mais rurais” às que têm uma “forte implementação urbana”, Ivo Faria de Oliveira adiantou que uma das iniciativas em cima da mesa é a realização de um encontro nacional de reflexão e debate com os responsáveis de todos os agrupamentos. “Daqui a um ano e meio estamos a pensar reunir os líderes de todos os grupos locais para podermos ter uma conferência onde possamos discutir como é que o escutismo está a chegar aos miúdos, como é que estamos a conseguir interagir com as comunidades, quais os principais desafios e dificuldades que temos na aplicação do nosso método”, contou.

O chefe regional considerou que o CNE enfrenta “vários desafios”. “Um deles é o de tentarmos dar mais afetividade àquilo que fazemos, sermos capazes de ter os nossos voluntários cada vez mais conscientes da intenção educativa que temos”, concretizou, explicando que uma das reflexões a fazer prende-se com o perfil de jovem a alcançar com a formação escutista. “Em vez de pensarmos qual vai ser o futuro para os nossos jovens, pensarmos que jovens é que queremos para o futuro. E isso diz tudo da intenção educativa, daquilo que devemos tentar despertar neles”, sustentou. “Nós somos uma associação de formação integral da juventude e isso significa que temos que ter os nossos adultos cada vez mais conscientes do impacto da sua ação junto dos jovens e também mais formados e mais bem informados para aquilo que são os desafios que temos”, complementou.

Ivo de Oliveira acrescentou que outro desafio “muito importante” é o de “conseguir oferecer aos jovens um programa que seja atrativo”, dando-o a conhecer tanto aos escuteiros como aos que não o são. “Estamos conscientes que o trabalho que fazemos é positivo e tem um impacto bom nos jovens e isso só se faz tendo um programa atrativo e adultos preparados para os acolher”, afirmou, reconhecendo haver “muitas alternativas” à proposta do CNE que também se depara com o decréscimo demográfico daqueles que são os seus destinatários. “O nosso desafio é o de conseguirmos trabalhar nas periferias da nossa sociedade, em áreas socioculturais, demográficas e sociais onde historicamente temos menos entrada”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele dirigente disse haver um “elemento novo” no método escutista, que passa pelo envolvimento e pela convivência comunitária, que o escutismo, a nível mundial, passou a reconhecer como sendo tão “essencial” como “o viver ao ar livre”, “a mística e a simbologia” ou o “código de conduta de valores que é a lei e a promessa” escutista. “O escutismo é sinónimo de estarmos atentos às necessidades dos outros, de convivermos e de tentarmos construir uma sociedade mais feliz e mais justa”, fundamentou.

Outra das dimensões que os escuteiros portugueses querem valorizar no âmbito do envolvimento comunitário tem a ver com o desenvolvimento sustentável. O chefe nacional lembra que a encíclica Laudato si’ do papa Francisco aponta “caminhos e pistas” que querem trabalhar. “Para além de cuidar do mundo natural também temos que olhar para o homem como um ser vivo que faz parte integrante dele, com um conjunto de dimensões que a encíclica e os próprios objetivos do desenvolvimento sustentável também nos ajudam a trazer aos jovens este sentimento de que temos de estar atentos às necessidades dos outros”, afirmou.

Ivo de Oliveira adiantou ainda que o encontro serviu também para discutir alguns temas da atualidade que afetam o movimento como as questões do Regulamento Geral de Proteção de Dados, da idoneidade dos seus voluntários ou da inclusão no escutismo e assuntos práticos como a gestão financeira da associação através de um processo “inovador e desafiante” de integração das contas dos mais de mil agrupamentos.

“Falámos obviamente também de temas pedagógicos, de algumas atividades que vamos lançar a nível nacional e para as quais gostávamos também de ter a colaboração das 20 regiões”, avançou, explicando que o CNE irá desenvolver um conjunto de iniciativas que vão culminar em agosto de 2019 e que incluem a celebração mundial dos centenários das secções escutistas, a começar pelos Caminheiros (escuteiros dos 18 aos 22 anos) dentro de um mês.

“Também aproveitámos para discutir bastante em detalhe temas da nossa própria formação e os processos que proporcionamos aos nossos 14.000 voluntários, quer ao nível da formação inicial dos novos dirigentes, quer ao nível da formação de especialização que proporcionamos a seguir”, acrescentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois de um sábado de trabalho intensivo – em que participaram também na eucaristia da paróquia portimonense de Nossa Senhora do Amparo com promessas de dirigentes, Lobitos (escuteiros dos 6 aos 10 anos), Exploradores (escuteiros dos 10 aos 14 anos) e Pioneiros (escuteiros dos 14 aos 18 anos) do Agrupamento 1398 do CNE – os dirigentes foram no domingo conhecer as Caldas de Monchique e a Fóia, com visita a uma destilaria local e almoço no âmbito do 45º aniversário do Agrupamento 383.

As reuniões de março e setembro dos chefes regionais do CNE, alargadas também aos restantes elementos das Juntas Regionais, decorrem normalmente em Fátima. A de junho é itinerante, realizando-se pelas diversas regiões escutistas.