
O Algarve recebeu no passado fim-de-semana a reunião de chefes regionais do Corpo Nacional de Escutas (CNE) de todo o país.
O grupo – com cerca de 36 dirigentes da Junta Central, da Mesa do Conselho Nacional e da Comissão Fiscalizadora Nacional e das 20 regiões escutistas – reuniu-se no Centro Social Paroquial de Nossa Senhora do Amparo, em Portimão, para o encontro que teve início logo na sexta-feira à noite com uma reunião de reconhecimento, seguida de jantar.
Ao Folha do Domingo, o chefe nacional do CNE explicou que este encontro de trabalho – o segundo de três que se realizam anualmente – visou pensar a execução do próximo ano escutista, a iniciar em outubro, tendo em conta “as ansiedades e as dificuldades” dos 1.040 agrupamentos que constituem o movimento em Portugal para tentar ir “mais ao encontro” daquilo que os preocupa.

Lembrando que as 20 regiões escutistas “são todas muito diversas umas das outras”, incluindo desde as “mais desertificadas” e “mais rurais” às que têm uma “forte implementação urbana”, Ivo Faria de Oliveira adiantou que uma das iniciativas em cima da mesa é a realização de um encontro nacional de reflexão e debate com os responsáveis de todos os agrupamentos. “Daqui a um ano e meio estamos a pensar reunir os líderes de todos os grupos locais para podermos ter uma conferência onde possamos discutir como é que o escutismo está a chegar aos miúdos, como é que estamos a conseguir interagir com as comunidades, quais os principais desafios e dificuldades que temos na aplicação do nosso método”, contou.
O chefe regional considerou que o CNE enfrenta “vários desafios”. “Um deles é o de tentarmos dar mais afetividade àquilo que fazemos, sermos capazes de ter os nossos voluntários cada vez mais conscientes da intenção educativa que temos”, concretizou, explicando que uma das reflexões a fazer prende-se com o perfil de jovem a alcançar com a formação escutista. “Em vez de pensarmos qual vai ser o futuro para os nossos jovens, pensarmos que jovens é que queremos para o futuro. E isso diz tudo da intenção educativa, daquilo que devemos tentar despertar neles”, sustentou. “Nós somos uma associação de formação integral da juventude e isso significa que temos que ter os nossos adultos cada vez mais conscientes do impacto da sua ação junto dos jovens e também mais formados e mais bem informados para aquilo que são os desafios que temos”, complementou.
Ivo de Oliveira acrescentou que outro desafio “muito importante” é o de “conseguir oferecer aos jovens um programa que seja atrativo”, dando-o a conhecer tanto aos escuteiros como aos que não o são. “Estamos conscientes que o trabalho que fazemos é positivo e tem um impacto bom nos jovens e isso só se faz tendo um programa atrativo e adultos preparados para os acolher”, afirmou, reconhecendo haver “muitas alternativas” à proposta do CNE que também se depara com o decréscimo demográfico daqueles que são os seus destinatários. “O nosso desafio é o de conseguirmos trabalhar nas periferias da nossa sociedade, em áreas socioculturais, demográficas e sociais onde historicamente temos menos entrada”, sustentou.

Aquele dirigente disse haver um “elemento novo” no método escutista, que passa pelo envolvimento e pela convivência comunitária, que o escutismo, a nível mundial, passou a reconhecer como sendo tão “essencial” como “o viver ao ar livre”, “a mística e a simbologia” ou o “código de conduta de valores que é a lei e a promessa” escutista. “O escutismo é sinónimo de estarmos atentos às necessidades dos outros, de convivermos e de tentarmos construir uma sociedade mais feliz e mais justa”, fundamentou.
Outra das dimensões que os escuteiros portugueses querem valorizar no âmbito do envolvimento comunitário tem a ver com o desenvolvimento sustentável. O chefe nacional lembra que a encíclica Laudato si’ do papa Francisco aponta “caminhos e pistas” que querem trabalhar. “Para além de cuidar do mundo natural também temos que olhar para o homem como um ser vivo que faz parte integrante dele, com um conjunto de dimensões que a encíclica e os próprios objetivos do desenvolvimento sustentável também nos ajudam a trazer aos jovens este sentimento de que temos de estar atentos às necessidades dos outros”, afirmou.
Ivo de Oliveira adiantou ainda que o encontro serviu também para discutir alguns temas da atualidade que afetam o movimento como as questões do Regulamento Geral de Proteção de Dados, da idoneidade dos seus voluntários ou da inclusão no escutismo e assuntos práticos como a gestão financeira da associação através de um processo “inovador e desafiante” de integração das contas dos mais de mil agrupamentos.
“Falámos obviamente também de temas pedagógicos, de algumas atividades que vamos lançar a nível nacional e para as quais gostávamos também de ter a colaboração das 20 regiões”, avançou, explicando que o CNE irá desenvolver um conjunto de iniciativas que vão culminar em agosto de 2019 e que incluem a celebração mundial dos centenários das secções escutistas, a começar pelos Caminheiros (escuteiros dos 18 aos 22 anos) dentro de um mês.
“Também aproveitámos para discutir bastante em detalhe temas da nossa própria formação e os processos que proporcionamos aos nossos 14.000 voluntários, quer ao nível da formação inicial dos novos dirigentes, quer ao nível da formação de especialização que proporcionamos a seguir”, acrescentou.

Depois de um sábado de trabalho intensivo – em que participaram também na eucaristia da paróquia portimonense de Nossa Senhora do Amparo com promessas de dirigentes, Lobitos (escuteiros dos 6 aos 10 anos), Exploradores (escuteiros dos 10 aos 14 anos) e Pioneiros (escuteiros dos 14 aos 18 anos) do Agrupamento 1398 do CNE – os dirigentes foram no domingo conhecer as Caldas de Monchique e a Fóia, com visita a uma destilaria local e almoço no âmbito do 45º aniversário do Agrupamento 383.
As reuniões de março e setembro dos chefes regionais do CNE, alargadas também aos restantes elementos das Juntas Regionais, decorrem normalmente em Fátima. A de junho é itinerante, realizando-se pelas diversas regiões escutistas.