Na assembleia do clero da Diocese do Algarve realizada na passada terça-feira, no âmbito da celebração do dia do seu Seminário de São José, o diretor do Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica defendeu a necessidade de se “constituir um sólido e estruturado projeto de iniciação cristã como caminhada progressiva” dentro das comunidades para os adultos que não a concluíram, “valorizando particularmente a estrutura do catecumenado”.

“Seria muito importante revalorizarmos esta pastoral, respeitando toda a sua estrutura, tempos que já conhecemos, ainda que numa proposta anual em atenção aos adultos como um tempo de amadurecimento na fé, educação dos valores evangélicos, introdução na vida celebrativa, litúrgica e na vida da comunidade”, sustentou o cónego Carlos de Aquino na reflexão apresentada no próprio Seminário de São José de Faro, considerando que “a maior parte de pessoas” nas comunidades “não concluíram a sua iniciação cristã”. “Ou só foram batizadas ou fizeram a Comunhão, mas a maior parte nem tem a Confirmação e também algumas não têm a Eucaristia”, acrescentou.

“É preciso que seja uma resposta pastoral com unidade de exigências formativas e de critérios, precisamente porque o ambiente que respiramos e onde vivemos já não é cristão”, prosseguiu, considerando ser “importante”, “não obstante tantos subsídios” que já existem, “que a diocese pudesse estruturar e apresentar uma proposta formativa, definindo claramente o tempo, mas também tendo presente na base os temas do Catecismo da Igreja Católica”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote, que manifestou o desejo de provocar reflexão, aludiu à importância de acertar um rumo comum que possa ser expressão daquilo que une o clero acerca daquela matéria numa próxima proposta de orientação normativa. “Desejo que esta reflexão seja um humilde contributo para a valorização em diocese dessa realidade que todos já consideramos fundamental na edificação da Igreja: a iniciação à vida cristã”, afirmou, lembrando ao clero que a sua “unidade também se deve exprimir na unidade de soluções e de comportamentos pastorais”.

“Devemos continuar a investir e a suscitar em todos nós e nos fiéis que servimos na fidelidade ao Evangelho o sentido eclesial de iniciação da celebração dos sacramentos, obedecendo às normas canónicas e litúrgicas, mas encontrando, no âmbito da realidade da nossa diocese e das comunidades que a constituem, soluções pastorais para dificuldades encontradas”, prosseguiu, observando que se tem centrado maior atenção na catequese das crianças do que na valorização da de adultos.

Considerando que “o modelo de catequese ou formação na fé de toda a iniciação cristã é o catecumenado”, aquele responsável realçou que “uma das problemáticas atuais que se reflete com maior incidência na vida cristã é a de se tornar cada vez mais evidente que a própria Igreja, a família, a escola e as instituições culturais deixaram de ser os mais significativos e importantes espaços iniciadores, também à fé”. “O próprio meio social e cultural, assim como o religioso, não favorecem facilmente a pertença eclesial, nem as nossas comunidades são espaços, tantas vezes, de acolhimento a esta iniciação à vida cristã de crescimento, identificação e compromisso com a Igreja”, constatou.

Sobre a questão do Batismo das crianças que também abordou, e para a qual exortou igualmente a uma unidade de critérios pastorais, o liturgista sugeriu que cada comunidade “proponha, de modo organizado, uma proposta formativa para a preparação ao sacramento pelos pais e padrinhos”.

Lembrando que, “com o declínio do catecumenado decresceu também a valorização do apadrinhamento”, referiu a dificuldade dos párocos na certificação da idoneidade de pessoas que não conhecem porque estão ausentes das comunidades e recordou que “o apadrinhamento não é uma instituição obrigatória aos sacramentos”.

Nesse sentido, defendeu também a importância de se intensificar “a ação pastoral, catequética e formativa desde logo com os noivos na preparação ao sacramento do Matrimónio”.

Não obstante considerar que “todos têm direito a pedir o Batismo para os seus filhos” e que os sacerdotes não são os “patrões dos sacramentos”, evidenciou que, acima de tudo, “importa garantir as condições de educação cristã” da criança.

Clero do Algarve foi elucidado sobre o novo itinerário para a catequese em Portugal