“Se se quer acolher o desafio da evangelização nos nossos dias é necessário saber revestir a linguagem da fé com as vestes da esperança”. O alerta foi deixado esta manhã pelo pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização (Santa Sé) ao clero das dioceses do sul de Portugal, que está reunido em Albufeira para a sua atualização anual.

D. Rino Fisichella acrescentou aos cerca de 80 participantes das quatro dioceses, 25 dos quais do Algarve, que “este Jubileu torna-se uma feliz oportunidade para que isto se realize”.
O colaborador do Papa Francisco procurou esta manhã responder às questões “Jubileu 2025: um novo impulso missionário? Como devem os Presbíteros acolher e viver esta graça?”.
O arcebispo considerou que “o Jubileu é um momento particular de graça” que permite à comunidade católica “anunciar, sobretudo, o grande perdão oferecido pela indulgência jubilar”. “O perdão, intimamente ligado à esperança, oferece oportunidade de uma genuína verificação sobre nosso estilo de vida cristão. O perdão pode-nos permitir mudar o futuro e viver de forma diferente sem rancor, ódio e vingança. O futuro, iluminado pelo perdão, permite ler o passado com olhos diferentes, mais serenos, mesmo que ainda banhados de lágrimas”, começou por referir, acrescentando que “a comunidade cristã, deste modo, torna-se portadora de um conteúdo que vai além dos seus próprios limites eclesiais para tocar o coração e a mente de cada pessoa”. “A evangelização, neste caso, não assume em primeiro lugar a fé e a caridade, mas faz da esperança o seu primeiro anúncio”, elucidou.

O orador explicou que “a redenção e a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de facto”. “A redenção é-nos oferecido no sentido de que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente. O presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho. Aparece aqui também, como elemento distintivo dos cristãos, o facto de terem um futuro. Não é que o conheçam em detalhe, mas trata-se de saber, em termos gerais, que a sua vida não estava no vazio”, explicou.
Assim sendo, constatou que “o Cristianismo não é apenas uma boa nova, ou seja uma comunicação de conteúdos até então ignorados”. “Em linguagem atual dir-se-ia que a mensagem cristã não é só informativa, mas performativa. Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida”, afirmou, considerando que “quem tem esperança vive de maneira diferente”.
D. Rino Fisichella referiu que “a mensagem que se pretende transmitir é que a esperança não é uma realidade que se adquire de uma vez por todas, empacotada como um objeto a descartar”. “Muito pelo contrário, diz-se que a capacidade de esperar dura toda a vida e que o desejo escondido no íntimo de cada pessoa precisa de ser explicitado de tempos a tempos para que a experiência seja, cada vez mais, profunda”, completou.
O orador constatou assim que “a esperança exige um caminho constante que permite entrar numa relação pessoal e, se se quiser, numa compreensão mais profunda daquilo que ela exprime”. “Não basta ficar-se por aquilo que ela indica à primeira vista. É preciso ir mais longe para possuir uma inteligência coerente. Por isso, mais do que nunca é necessária uma inteligência iluminada pela fé”, desenvolveu.
O pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização acrescentou que “o conceito de esperança implica uma perseverança ativa, que com tenacidade, não desiste de confiar na promessa de Deus”. “O crente confia em Deus e ele corresponde oferecendo esperança, tema que parece ter caído no esquecimento entre os crentes dos nossos tempos, empobrecendo consideravelmente a riqueza do anúncio cristão e enfraquecendo fortemente a esperança”, lamentou.
Acrescentando que “a vida eterna é a grande ausente” na pregação dos ministros ordenados, incluindo nos funerais, D. Rino Fisichella considerou que eles parecem “relutantes em fazer referência à vida eterna”, que lembrou ser dada pela Eucaristia.
O arcebispo lembrou também que a “certeza da esperança” é “dada pela presença eficaz do Espírito Santo”. “É Ele que infunde no crente a certeza da esperança na ressurreição, como fruto do amor fiel de Deus”, constatou.
A atualização de bispos, padres e diáconos das dioceses de Algarve, Beja, Évora e Setúbal decorre até quinta-feira no Hotel Alísios, promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora.