O pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização (Santa Sé) disse hoje ao clero das dioceses do sul de Portugal, que está reunido em Albufeira, ser preciso “regressar com força e convicção” à virtude teologal da esperança.

“Falamos sempre da fé e da caridade, mas descuramos a esperança”, lamentou D. Rino Fisichella, garantindo que “este desequilíbrio reflete-se também na vida da fé”. “Entrar no Jubileu da Esperança com o objetivo de dar corpo e concretização à segunda virtude teologal não é um desafio e será interessante verificar os resultados”, prosseguiu, considerando que “a mentalidade científica diminuiu em grande medida a necessidade da esperança”.

O colaborador do Papa é um dos oradores da atualização de bispos, padres e diáconos das dioceses de Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que decorre até quinta-feira no Hotel Alísios promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora.

O pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, organismo da Cúria Romana responsável pela organização dos eventos do Ano Santo, abordou o tema “O Jubileu 2025 e os jubileus na vida da Igreja. Sentido e desafios”.
A Igreja Católica está a celebrar este ano o 27.º jubileu ordinário da sua história, por iniciativa do Papa Francisco, que o dedicou ao tema “Peregrinos de Esperança”. D. Rino Fisichella considerou serem “dois termos” que condensam “um programa de anúncio e testemunho que os cristãos são chamados a fazer seu por ocasião do Ano Santo”. “Serão eles capazes disso?”, questionou, garantindo que “a pergunta não é retórica”. “Perguntar se os cristãos sabem o que é a esperança e como a vivem é uma questão não só legítima, mas necessária no atual contexto de profunda crise religiosa”, acrescentou.

Lembrando que “o Jubileu acontece a cada 25 anos para ajudar a Igreja e os crentes a redescobrir algo de importante sobre a sua própria fé”, o arcebispo considerou que “a esperança é o novo nome da fé” na comunicação com o homem da sociedade atual que defendeu estar a viver um “momento de crise de fé”. “Como falar da fé com uma linguagem de esperança? Não estou a dizer que é fácil. Estou a dizer que é um desafio. Parece-me que é uma possibilidade para ultrapassar a crise de fé”, afirmou.
“Na decadência que se experimenta nos vários setores de existência pessoal e social é urgente e necessário que se levantem as vozes daqueles que levam uma palavra e um sinal de esperança verdadeira”, completou, admitindo ainda assim que, para os indivíduos contemporâneos, que “gostam de ter tudo programado, o tema da esperança pode revelar-se indigesto”.

No entanto, D. Rino Fisichella, considerando que se fala “demasiado pouco de esperança”, disse que, “sem cair na retórica, há que distinguir entre esperanças e esperança”. “Viver de esperanças é perigoso, estas podem facilmente ser ilusórias e conduzir progressivamente a desilusão. É necessário que o olhar se abra a um horizonte de sentido diferente”, sustentou.
O orador constatou que “não é olhando para o efémero que se pode esperar alcançar a felicidade”. “O verdadeiro desafio é manter o olhar fixo no essencial para podermos fazer o verdadeiro caminho que conduz à esperança”, acrescentou, salientando que “a esperança cristã não desilude porque está enraizada no amor”. “O amor dos crentes é sustentado pela esperança. A esperança nasce do amor e funda-se no amor”, reforçou.

O colaborador do Papa explicou ainda que “a dimensão comunitária da esperança precisa de ser sustentada e expressada também numa linguagem que ultrapassa a dimensão individual para tornar evidente a participação pessoal numa comunidade que espera” para “ir além das formas subtis, mas implacáveis, de individualismo da cultura” do tempo atual.
D. Rino Fisichella desejou “que o Jubileu seja para todos ocasião de reanimar a esperança”. “O Jubileu é uma grande oportunidade pastoral que não podemos perder”, considerou, antecipando de certa forma a reflexão de amanhã em que procurará responder às questões “Jubileu 2025: um novo impulso missionário? Como devem os Presbíteros acolher e viver esta graça?”.