O cónego Carlos de Aquino exortou ontem na sua intervenção no Encontro Nacional de Catequese, que hoje terminou em Ferragudo com a participação de quase 90 responsáveis da catequese das dioceses portuguesas, à efetiva implementação do ministério do catequista.

“Embora oficialmente reconhecido como ministério – agora até valorizado pela dimensão da instituição – disciplinarmente estabelecido, doutrinalmente justificado, parece ser ainda uma dimensão hipotecada. É um fruto esperado, mas ainda não advindo”, constatou, questionando: “O que falta para que seja concretizada esta aplicação da doutrina que já temos suficiente? Medo da clericalização dos leigos? Falta de esclarecimento quanto ao processo de eleição dos mesmos? Falta de coragem e audácia à espera que alguém avance? Reserva quanto à importância e valor da instituição ritual?”.
Na reflexão que apresentou sobre o tema “O catequista instituído na liturgia e na vida da comunidade… a partir do Ritual de Instituição de Catequistas”, o sacerdote da Diocese do Algarve lembrou que o Papa Francisco, na carta apostólica Antiquum Ministerium com a qual instituiu para toda a Igreja o ministério do catequista, deixa um “desafio a todos os pastores”. “Sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas que todos, cada um segundo seu modo próprio, cooperem na obra comum”, citou.

O liturgista recordou ainda que o pontífice “também deixa um recado aos que querem ou são chamados a ser instituídos neste ministério”. “Sejam chamados homens e mulheres de fé profunda e maturidade humana, que tenham participação ativa na vida da comunidade, sejam capazes de acolhimento, generosidade, a vida de comunhão fraterna, recebam devida formação a serem solícitos comunicadores da verdade da fé e tenham já maturado uma prévia experiência de catequese”, prosseguiu, explicando que se requer “que sejam colaboradores disponíveis para exercer o ministério onde for necessário”.
O sacerdote explicou que “o catequista é o autêntico discípulo missionário de Jesus, chamado e convocado a anunciar e a testemunhar a todos” a sua pessoa, “sempre o modelo e a proposta para uma vida pessoal e comunitária”. “Por isso, é fundamental que a catequese não só encontre e desenvolva a missão que lhe é própria dentro da variedade de ministérios e serviços que configuram a própria a ação evangelizadora, mas que ela mesma, a catequese, também seja assumida como um verdadeiro ministério, um serviço e um dom, uma verdadeira diaconia no exercício da dimensão profética da Igreja”, sustentou.

Nos desafios que apresentou, o orador disse que “importa lembrar que o ministério da catequese nasce e cresce sempre dentro de uma comunidade, e estando ao serviço da sua construção, permitindo e favorecendo uma experiência de encontro com o Senhor e colaborando para que os cristãos possam também dar uma resposta de qualidade e com verdade ao seu seguimento”.
“Pressupõe-se que os que são chamados ao ministério estável de catequistas já sejam colaboradores assíduos na comunidade, vivam com grande entusiasmo o espírito apostólico e sejam colaboradores na difusão do Evangelho. Refere-se que o ministério deve apoiar-se sempre numa vida profunda de oração, edificar-se na sã doutrina em referência à Escritura, à tradição e ao magistério e ser animado por um genuíno zelo apostólico”, desenvolveu.
O cónego Carlos de Aquino realçou a dimensão de “mediação” da instituição “entre o carisma e o próprio ofício eclesial litúrgico a realizar”. “Acho que isto ainda não está suficientemente entendido. E, por isso, talvez seja uma das dimensões críticas no facto de ainda não termos ninguém instituído no ministério”, lamentou, advertindo que “o carisma não é uma coisa secundária” e que a questão não pode ser entendida no plano do “exercício de funções”.
“O ministério não é uma função. Corresponde a um carisma. A instituição vem sempre valorizar o carisma, dom que é dado pelo Espírito e que brota de Deus. O serviço é a face visível, material e humana do carisma. Por isso, torna-se doação, entrega, ser para os outros”, completou, alertando que “os ministérios não podem ficar reduzidos a simples delegações para um serviço ou a meras representações dos mesmos”.

O especialista em liturgia, que explicou detalhadamente o rito da instituição do catequista, acrescentou que este “é chamado para ser um enviado, um mensageiro, não em nome próprio, sempre em nome de um povo referente a uma comunidade, não de si mesmo, mas do Senhor em primeiro lugar”. “É alguém que, habitado pela Palavra, se torna também servidor e instrumento dessa Palavra, saboreada e acolhida”, sustentou no encontro que teve como tema a «Identidade e Ministério do Catequista: Desafios Pastorais» e que teve início na passada terça-feira, 02 de abril.
Nas notas que apresentou para a espiritualidade do catequista, disse que “tem de ser alguém com profunda vida espiritual e esta deve marcar o seu próprio ser, fazendo-o viver e agir, sempre numa atitude de fé profunda de compromisso no amor para com o próximo, mas também ao serviço da causa do reino”. “Deve viver, falar e agir com um estilo de vida marcado não só pelo desejo e procura de Deus, mas sobretudo também pelo encontro com o seu filho sob o impulso do Espírito”, complementou, acrescentando, não obstante, uma advertência: “Se estamos à espera de pessoas perfeitíssimas, santas, para o exercício de carismas na Igreja, nunca as vamos encontrar”.
Sublinhando a importância do “acompanhamento frequente dos pastores”, o sacerdote concluiu que a “missão fundamental da Igreja e de um catequista” é “conduzir a uma experiência de encontro com o Senhor”.