O cónego Mário de Sousa considerou no passado sábado que experiências como as que se vivem num Convívio Fraterno, num Curso de Cristandade, na Comunidade de Taizé e noutras “que o Espírito Santo vai suscitando na Igreja”, são “momentos de experiência intensa de Deus”.

O sacerdote falava no final da última edição da rubrica ‘Partilhas Inspiradoras’, promovida pela paróquia da matriz de Portimão de que é pároco, que abordou o tema da espiritualidade vivida na comunidade monástica de Taizé, no sul da França, através do testemunho do seu interlocutor junto da Diocese do Algarve.

“Se não tivermos estes momentos de intensidade, a nossa fé nunca alavanca e acaba por também nunca se desenvolver porque a amizade ou alimenta-se ou morre. Ou então torna-se uma habituação. E a nossa fé o que é? É uma amizade com o Senhor que, se é alimentada e tem estes momentos fortes, então dá-nos a força e o horizonte para podermos continuar depois na normalidade”, advertiu.

O pároco da matriz de Portimão lembrou que tal como “a vida não é feita de momentos intensos”, mas “de momentos de rotina, de hábito”, o “caminho na fé cristã também é feito de normalidade, ou seja, da vivência numa comunidade, de gente com qualidades e defeitos”, “de gente que tem momentos de maior intensidade na fé e outros que não têm”, “de gente a quem o Senhor ensinou que a fé vive-se em comunidade”. Lembrando que esta “tão importante” “dimensão comunitária” da fé, são precisos, “como na vida”, “momentos de intensidade”. “Na vida de um casal é preciso momentos de intensidade, porque senão, se é sempre só rotina, as coisas desgastam-se. É preciso redescobrir a beleza daquilo que os une enquanto o casal. É preciso redescobrir a beleza daquilo que me une a Jesus enquanto homem ou mulher de fé. E isto é o que eu chamo os momentos de Deus”, sustentou.

Todavia, o sacerdote advertiu que esses “momentos de Deus” dependem da forma de como são vividos. “Posso aproximar-me de alguém porque quero ser amigo dessa pessoa ou porque quero usufruir do que aquela pessoa me pode dar. E isto faz a diferença entre o interesseiro e o amigo. É assim na nossa vida. E, às vezes, também acontece isto na fé. Eu posso ir a Taizé porque quero verdadeiramente encontrar-me com a pessoa de Cristo na minha vida, recentrar a minha vida e alavancar outra vez este caminho nesse momento de intensidade e de intimidade com o Senhor. Ou posso ir a Taizé porque apenas quero beneficiar daquilo que Taizé me pode dar. E quando a perspetiva é essa, naturalmente que venho de lá encantado porque tive o meu momento, mas não venho de lá enriquecido porque venho egoísta como fui. Ou seja, o uso Deus para as minhas necessidades”, alertou, considerando que isto pode acontecer em Taizé como “numa catequese de adultos, num Curso de Cristandade, no Renovamento Carismático” e na vida.

“Qual é a nossa missão? É testemunhar a importância que esses os momentos de Deus tiveram na nossa vida para que outros possam deles beneficiar, dar as possibilidades para que isso aconteça”, prosseguiu, lembrando que, “como sempre, Deus respeita a liberdade de cada um”. “Jesus cria todas as possibilidades, mas não violenta a liberdade de ninguém. Essa é a nossa missão: criar as possibilidades, partilhar aquela que é a riqueza da nossa fé e, depois, o resto é naturalmente com a liberdade e o interior de cada um”, desenvolveu.

E para que esses “momentos de Deus” aconteçam, o sacerdote disse ser existirem nas comunidades os “grupos mais pequeninos”. “Jesus tinha uma multidão de gente atrás dele, depois tinha dentro dessa multidão o grupo dos discípulos, dentro do grupo dos discípulos tinha 12 a quem entregou uma missão específica e dentro do grupo dos 12 tinha três que eram os seus íntimos: Pedro, Tiago e João. Quando Jesus quer que eles façam uma experiência intensa de Deus como é que esta experiência é possível? No pequenino grupo. E é por isso que pega só nos três e leva-os a um alto monte para ali fazerem uma experiência intensa da presença do Senhor nas suas vidas. Isto também é importante nas grandes comunidades. Não somos grupinhos dentro da comunidade. Somos uma comunidade de gente salva por Jesus, que celebra a fé em conjunto, mas que também precisa destes momentos. Qual é o mal? É não nos disponibilizarmos para os ter, seja em Taizé, seja num Curso de Cristandade, num Convívio Fraterno, seja no que for”, concluiu.