Natal_rito_bizantinoAs comunidades greco-católica e ortodoxa presentes no Algarve, ambas de tradição bizantina e constituídas, respetivamente, por muitos milhares de imigrantes ucranianos e romenos, celebram amanhã o nascimento de Jesus Cristo, associando-se assim a muitos cristãos de rito bizantino que seguem também o calendário juliano.

O calendário solar juliano foi criado em 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César e difere do calendário gregoriano, utilizado no ocidente.

Mercê dos fluxos migratórios, Portugal, e naturalmente o Algarve onde residem muitos imigrantes, vai percebendo e interiorizando outras celebrações litúrgicas. Embora a sociedade portuguesa não esteja habituada a esta variedade de ritos, a Igreja católica sempre manteve vários ritos na sua história.

A Igreja algarvia, ao receber os imigrantes, acolheu também a sua cultura, dando espaço para a preservação e celebração do culto e as comunidades ucraniana greco-católica e ortodoxa salientam esse mesmo acolhimento e disponibilidade da Igreja católica algarvia na cedência dos seus templos para o culto, segundo o rito bizantino, celebrado pelos cristãos orientais.

Este rito surge quando o império romano se estabelece na cidade de Bizâncio – a atual cidade de Istambul, na Turquia – ficando com duas sedes: Ocidental em Roma e Oriental em Bizâncio.

Embora ambos cristãos, as diferenças entre greco-católicos e ortodoxos são evidentes. Enquanto os católicos de tradição bizantina estão ligados a Roma, tal como os cristãos ocidentais, os ortodoxos seguem as orientações de Moscovo.

As celebrações natalícias serão também realizadas no Algarve, mas separadamente para greco-católicos e ortodoxos. Tal como os ocidentais, também católicos de rito bizantino celebram a consoada na véspera do dia de Natal.

Assim, hoje, dia 6 de janeiro, o último dia de jejum segundo o rito bizantino, a consoada é festejada com 12 pratos diferentes (que aludem aos 12 apóstolos e às 12 tribos de Israel, um número que na Bíblia está associado ao conceito de plenitude), confecionados sem recurso a gorduras animais ou carnes. Os doces, muitos deles tradicionais, esses têm presença obrigatória.

Em vez do bacalhau, que faz parte da tradição portuguesa desta quadra, o prato principal é o “kutia”, doce à base de trigo cozido com mel e sementes de papoila moída, ingredientes usados na doçaria oriental e que também têm um significado especial.

Nataliya Dmytruk, da comunidade greco-católica algarvia, explica ao Folha do Domingo outras simbologias da consoada. “Sentamo-nos para jantar assim que aparece a primeira estrela no céu, relembrando o aparecimento da estrela aquando do nascimento de Jesus”, relata.

No final do jantar, os católicos de tradição bizantina entoam canções natalícias tradicionais, de casa em casa, dando glória ao Deus-Menino acabado de nascer e os visitados retribuem com qualquer oferta em dinheiro ou doces, mantendo-se esta tradição até ao dia 20 de janeiro.

As diferenças estendem-se da gastronomia à espiritualidade, já que a celebração eucarística de rito bizantino é mais longa, quase toda cantada e os padres estão separados da assembleia para sublinhar a distinção entre as realidades celestes e terrenas.

Por outro lado, enquanto a tradição cristã ocidental privilegia o nascimento de Jesus, a 25 de dezembro, as igrejas orientais realçam a sua epifania ou manifestação aos povos, festa que no calendário liturgico da Igreja Católica Romana se celebra no segundo domingo a seguir ao Natal.

O padre Oleg Trushko, o único sacerdote greco-católico a dar apoio à comunidade ucraniana no Algarve, preside às celebrações natalícias dos católicos de tradição bizantina.

Hoje, a celebração greco-católica será então realizada em Vila Real de Santo António, pelas 18h, e, em Tavira, na igreja de Nossa Senhora do Livramento, pelas 21h.

À meia-noite, a celebração terá lugar em São Brás de Alportel e em Portimão, na capela de São José, pelas 4h. O dia de amanhã prossegue com celebração em Albufeira, na igreja de Santa Ana, às 7h, e em Faro, na igreja de Santo António do Alto às 10.30h.

Depois da Missa de Natal há ainda a tradição de se fazer um presépio vivo na rua, junto à igreja. “Não podemos representar a Sagrada Família que é representada através de um ícone, mas os restantes elementos do presépio são pessoas que se vestem de reis magos, de pastores ou de Herodes”, explica Nataliya Dmytruk.

com Ecclesia