O bispo auxiliar de Lisboa que este ano presidiu em Loulé à Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana, ofereceu-lhe o seu anel de ordenação episcopal.
A oferta foi feita no domingo no final do sermão que proferiu, após a subida do andor ao santuário sobranceiro à cidade louletana. “É preciso oferecermos alguma coisa à Mãe Soberana. Então, eu vou oferecer à Mãe Soberana o meu anel de ordenação episcopal. É muito simbólico para mim. Vai ficar para ela, como gratidão de tudo o que fez por vocês e faz por todos nós”, afirmou D. Américo Aguiar, que este ano presidiu àquela festa.
Aquele responsável católico entregou a peça de joalharia ao pároco de Loulé e reitor do santuário mariano, acrescentando que a mesma “ficará eternamente no coração da Mãe Soberana”, e o simbólico gesto foi acolhido com uma salva de palmas por parte dos milhares de pessoas presentes. D. Américo Aguiar disse querer agradecer também o “muito que ela fez” por todos nos últimos “dois anos de sofrimento”.
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Ainda na eucaristia que precedeu a procissão, o bispo, que também é o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, começou por confiar à Mãe Soberana a organização daquele evento. “Queremos também colocar nas nossas intenções este projeto do mundo inteiro: a Jornada Mundial da Juventude. Trago esse desejo de confiar à Mãe Soberana a organização da Jornada Mundial da Juventude, para que, com o pouquinho de cada um de nós, sejamos todos capazes de, com esse pouquinho de cada um, fazer o muito que é necessário para que a jornada acolha a todos como testemunho de Cristo vivo”, declarou aquele que é o responsável da Conferência Episcopal Portuguesa para a realização daquele encontro mundial da juventude católica com o Papa.

Na homilia, D. Américo Aguiar destacou o sentido daquela festa. “Precisamos do colo da Mãe. É esta Senhora da Piedade a Mãe, o colo que nos faz diferentes, que nos transforma, que nos converte. E, por isso, manifesto à Senhora da Piedade, à Mãe Soberana, a gratidão de todos por tudo aquilo que foi e é e peço a sua presença, o seu cuidado, o seu carinho e o seu colo e por tudo aquilo que vamos testemunhar a partir de agora pelas ruas desta nossa amada cidade até ao santuário. Vamos retribuir-lhe esse colo e vamos, nós, levá-la no nosso seio, levá-la nos nossos ombros, levá-la com a nossa vida e testemunharmos publicamente a alegria desse colo de mãe”, afirmou.

A propósito da imagem de Maria com Jesus, morto, nos braços, o bispo auxiliar de Lisboa lembrou que “não há momento mais doloroso para uma mãe do que sepultar um filho seu”. “Não haverá, porventura, maior drama, maior sofrimento, do que sepultar um filho. E, por isso, quando olhamos para esta imagem esse sentimento também nos toma. E tomam-nos tantos sofrimentos que esta palavra mãe também acolhe no dia a dia das nossas vidas. Vivemos estes últimos dois anos com desafios impensáveis. Esta pandemia que nos tomou e tantos perderam a vida. E tantos viram as suas vidas destruídas. E tantas famílias passaram mal. E tantas mães sofreram. E até continuam a sofrer em razão destes problemas que a todos foi dado viver”, afirmou, referindo a intenção de “dar graças a Deus por todas as mães” naquele dia em que também se comemorou o Dia da Mãe.
No final da celebração, o bispo do Algarve voltou a confiar à bênção e proteção da “Mãe Santíssima da Piedade” as famílias, mães, crianças, jovens, idosos, doentes, “os mais sós”, “os que sofrem do corpo ou do espírito”, “todas as vítimas da guerra, da violência e da maldade dos homens”, governantes e os que exercessem autoridade, os trabalhadores e “os que buscam emprego”, os imigrantes e refugiados, terras e casas, escolas, creches e infantários, indústrias e comércio, os grupos desportivos e culturais, bombeiros, forças de segurança e centros de saúde, centros da terceira idade, misericórdias, confrarias e irmandades. “Aqui vimos como peregrinos da alegria num tempo onde ainda se expande a escuridão e o medo motivados pela violência, a guerra e a morte. Vimos renovar a nossa fidelidade a Deus, agradecer o dom da vida e consagrar-nos de novo ao vosso Coração Imaculado”, afirmou D. Manuel Quintas na consagração da diocese algarvia à Mãe Soberana.

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul do Tejo, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade, que este ano também concelebrada pelo bispo emérito do Funchal, D. António Carrilho, natural de Loulé, foi retomada após dois anos de pandemia e voltou a atrair a Loulé uma multidão, oriunda de todos os pontos do Algarve e não só.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus nos braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.
Depois de a imagem ser levada de volta para a secular ermida do santuário e da pregação, seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade.
Mural dedicado à Mãe Soberana

A inauguração de um mural dedicado ao culto mariano da Nossa Senhora da Piedade, a Padroeira de Loulé, marcou o dia em que a cidade voltou a viver de forma a Festa Grande da Mãe Soberana.

Numa iniciativa da Junta de Freguesia de São Sebastião, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, foi inaugurado um mural que retrata a imagem da Mãe Soberana no andor, da autoria de Stephen Jones, grafiter da Associação Artística Satori.
“O grande e singular poeta António Aleixo, um dia interpretando as manifestações religiosas de Loulé, afirmou que a alma deste povo vai dentro daquele andor. Mas agora, gravado aqui numa casa, faz-nos perceber que a alma do povo não está só no andor, mas em cada casa. Aqui, esta casa, representa todas!”, aludiu o cónego Carlos Aquino, pároco de Loulé, durante a cerimónia que reuniu junto à obra, entre outros, os peregrinos vindos de diversas freguesias do concelho.

Na confluência da Rua Nossa Senhora da Piedade e Rua Homens do Andor, local pleno de simbolismo já que integra o “caminho de fé” em direção ao Santuário, encontra-se agora a imagem que faz parte da identidade dos louletanos. A proprietária do prédio, Maria da Graça Viegas, também ela devota de Nossa Senhora da Piedade, cedeu o espaço para que Stephen Jones pudesse levar a cabo esta empreitada.
O artista, que faz parte da Satori desde 2014, baseou-se numa imagem do fotógrafo louletano Luís da Cruz, que há largos anos acompanha a Festa da Mãe Soberana, para criar a obra. Em apenas 11 dias, entre 18 e 30 de abril (com um dia e meio de paragem devido à chuva), e mais de 300 latas de spray depois, a cidade de Loulé viu nascer este exemplar de arte urbana que tem merecido elogios da parte dos louletanos.
com Miguel Neto