O presidente da fundação responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 recebeu esta sexta-feira a Chave de Honra da cidade de Faro, uma distinção conferida pela Câmara Municipal devido ao contributo trazido ao município por aquela iniciativa que a autarquia classificou como “um dos eventos mais marcantes” dos últimos anos no concelho e no país.


A entrega a D. Américo Aguiar daquele galardão, que se destina a “agraciar pessoas singulares ou coletivas exteriores, pelo seu reconhecido mérito, prestígio, cargo, ação, serviços excecionais ou contributos para a comunidade”, teve lugar no salão nobre da Câmara Municipal.

Na sessão solene destacou-se que o “percurso de vida” do novo cidadão honorário da capital algarvia, “a sua dedicação à comunidade” e “as suas preocupações sociais e ambientais e os serviços prestados ao país e a Faro no âmbito da JMJ justificam que lhe seja atribuída a Chave de Honra da Cidade de Faro”.
O presidente da autarquia referiu que – durante a semana que antecedeu a JMJ, designada ‘Dias na Diocese’, em que Faro acolheu alguns dos mais de 7.000 jovens estrangeiros que escolheram a região para viver aqueles dias – a cidade “transformou-se num espaço de verdadeiro encontro multicultural, de testemunho de uma vivência sã, alegre, de esperança”. “Trouxe-nos, não apenas uma dinâmica económica (se calhar, o menos importante), mas eventos de diversa natureza, que nos fizeram olhar para o futuro, com os olhos de quem crê estar perante aqueles que farão deste mundo, um lugar melhor”, sustentou Rogério Bacalhau.


O autarca considerou que a comunidade “beneficiou da capacidade de inclusão e da força” que pôde encontrar nos jovens provenientes de África, América Latina, Europa, América do Norte, Ásia que disse terem sido “uma inspiração e um exemplo”. “Cada um de vós mostrou aquilo que, nós, católicos, dizemos ser: irmãos e irmãs. Abriram o coração e a inteligência, para que regressando, cada um, à sua realidade, ao seu país, à sua vida, à sua circunstância, pudessem ser melhores pessoas, entendendo o outro e as suas dificuldades, aceitando-os como iguais”, acrescentou, lembrando o trabalho logístico que foi necessário realizar para acolher os visitantes.


“O extraordinário envolvimento dos jovens locais (seja com a sua presença nas jornadas, seja através das várias tarefas que assumiram como voluntariado), dá-nos garantias que terão a mesma energia e qualidade, quando foram eles a dinamizar a governança, o tecido económico, a cultura, o associativismo”, prosseguiu.


O edil destacou ainda o contributo das “famílias de acolhimento”. “Dedicados e generosos, transformaram-se no símbolo do que queremos: desenvolvermos a capacidade de ser anfitriões sem preconceitos e pródigos nas estratégias de saber ser, saber estar, saber fazer; de sermos anfitriões para quem as relações importam e se empenham e contribuem para a construção de uma sociedade justa, onde, em primeiro lugar, estará sempre o bem comum”, afirmou.


Rogério Bacalhau realçou que o cardeal Américo Aguiar foi alguém a quem coube a tarefa de estimular “em cada participante, nas entidades envolvidas, no país, a certeza e a confiança de que este evento seria uma mais-valia para todos e quaisquer prismas” pelos quais pudesse ser analisado. “E que bem a desempenhou, para benefício de todos. Organização, rigor, capacidade de comunicação e de encontro, humildade, resiliência às muitas criticas e, mais que tudo, proximidade, foram as características que sobressaíram daquelas que colocou ao serviço da JMJ”, considerou, acrescentando: “Faro está-lhe grata por ter sido o motor deste grande evento e a personalidade que inspirou estes jovens e os motivou a fazer do nosso concelho um espaço especial da nossa casa comum, ao longo da preparação e realização das atividades”.



“Tornando-se cidadão honorário da nossa cidade, coloque no seu coração esta chave, como símbolo de amizade e de gratidão por tudo o que fez na JMJ, por Faro, por Portugal”, concluiu o presidente.

O bispo do Algarve, que esteve presente na sessão, também destacou a JMJ como “um acontecimento de reconhecida importância” para Faro, o Algarve, o país e o mundo. D. Manuel Quintas realçou a mobilização que o evento proporcionou ao município no acolhimento aos jovens e acompanhantes dos cinco continentes, envolvendo “famílias, escolas, paróquias”. “Despertou igualmente em muitos outros jovens e adultos o assumirem-se como voluntários que, com disponibilidade, espírito de doação e sempre com uma boa dose de alegria, possibilitou a todos poderem desfrutar do programa preparado e executado com igual doação entrega e alegria pelo nosso COD – Comité Organizador Diocesano”, prosseguiu, referindo-se a uma “enriquecedora experiência”, “constituída pela diversidade de línguas, nacionalidades, culturas, convergindo todos para a celebração da mesma fé e o seguimento da mesma pessoa: Jesus Cristo, dele colhendo valores, atitudes, ideais, que dão sentido à vida e impelem a um compromisso pessoal na transformação do mundo”.
O bispo diocesano destacou a experiência que permitiu “construir pontes de amizade e de esperança entre continentes, povos e culturas, através da partilha e do testemunho da alegria da fé dos jovens e da centralidade de Cristo na sua vida como fundamento dos seus sonhos e projetos e das suas opções pessoais”.
O bispo do Algarve defendeu que o sucesso da participação na JMJ “muito deve ao apoio encontrado nos municípios algarvios”. D. Manuel Quintas considerou que o homenageado com a mais alta condecoração da cidade teve “um papel fundamental na organização e concretização” do encontro e “revelou um reconhecido carisma pessoal de saber lidar com os jovens, bem como uma grande capacidade de liderança unida a uma visão inspiradora e mobilizadora em todo este processo”. “Soube distribuir funções e tarefas por um grupo de largos milhares de voluntários que contribuíram decisivamente para o sucesso desta JMJ”, acrescentou.
Por fim, D. Manuel Quintas felicitou D. Américo Aguiar “por ter conseguido calar os muitos críticos da JMJ”. “Possivelmente alguns ainda não lhe perdoaram. O sucesso da JMJ, reconhecido por todos, inclusive pelo Papa Francisco, deixou-os sem argumentos, obrigando-os a embainhar a espada que tanto esgrimiram. Ficava-lhes bem, para serem no futuro levados a sério, reconhecerem que se enganaram”, afirmou.


E na sua intervenção, o agraciado até perspetivou a próxima polémica relacionada com a JMJ. “Agora vamos ter outro escândalo que é o lucro porque em Portugal o fado é correr mal e dar prejuízo”, afirmou D. Américo Aguiar. À comunicação social, o cardeal reafirmou que esse lucro será “para projetos ligados à juventude”. “A Fundação JMJ, as Câmaras de Lisboa e de Loures e o Governo falarão e tratarão de acompanhar a aplicação dessa mais-valia que resultou da JMJ”, explicou, acrescentando as contas encerram-se no dia 31 deste mês e que durante o mês de janeiro os resultados deverão ser apresentados.
Relativamente à homenagem, D. Américo Aguiar disse ter sido “surpreendido pela generosidade” da outorga e agradeceu primeiro aos autarcas, garantindo que “os municípios foram inexcedíveis”, bem como as Juntas de Freguesia, a Polícia, a GNR, a Proteção Civil, os bombeiros e as Forças Armadas. “O sucesso da JMJ foi graças ao empenho de todos. Eu fui o que fiz menos. Fui, talvez, o que se preocupou mais. A Igreja fez a sua parte, mas o Estado — que somos nós de maneira organizada — foi de uma generosidade que não imaginaríamos que pudesse acontecer desta maneira”, afirmou, considerando que a JMJ “foi um sucesso porque os portugueses e Portugal se empenharam e se dedicaram”. “Demos as mãos e fomos capazes de fazer o melhor, como a história nos diz que somos capazes de fazer sempre. Sempre que temos um objetivo comum e damos as mãos somos dos melhores do mundo. A JMJ foi uma prova maior de que todos juntos fazemos melhor”, considerou, confessando que a organização tem “recebido agradecimentos do mundo inteiro”.
O presidente da Fundação JMJ 2023 lembrou que “a Diocese do Algarve acabou por dar o pontapé de saída porque foi aqui que tudo começou com a peregrinação dos símbolos”. À comunicação social, D. Américo Aguiar considerou que os responsáveis algarvios “fizeram muitíssimo bem porque todas as dioceses de Portugal acabaram por replicar aquilo que foi feito pelos jovens do Algarve”.