Uma questão sempre actual é, sem dúvida, a dos deveres e direitos do Homem. Por isso, nunca será demais reflectirmos sobre ela.

É que, tantas vezes, as nossas obrigações são esquecidas, enquanto que os nossos direitos são sempre reivindicados com a maior veemência!…

Ora, logicamente, parece-nos que quem não cumpre os seus deveres não merece que lhe respeitem os direitos.

Infelizmente, quantos de nós, neste aspecto usam um duplo critério, isto é, empregam a lei do funil, com uma larga abertura para si mesmos e um estreitamento, quase a estrangular, para os outros.

E este modo de proceder é deveras notório sobretudo no campo laboral, onde se encontram as maiores anomalias e injustiças quer do lado empresarial, quer do lado dos trabalhadores.

Explico concretamente: que moral poderá ter um empresário quando os salários andam atrasados e ele exige que os seus empregados trabalhem com empenho?

Ou, então, como podem os trabalhadores exigir aumentos, se não se empenham na produção?

Por isso, só tem autoridade moral para exigir dedicação e empenho aquela entidade patronal que, reconhecendo o esforço dos trabalhadores, não lhes falta com a justa e devida remuneração, bem como, por sua vez, só pode exigir uma melhor retribuição do seu trabalho quem a ele se dedica de alma e coração…

Isto é que é justiça social, segundo os princípios da Justiça Social defendidos pela Igreja.

A guerra que, muitas vezes, se gera entre os Sindicatos e as Associações Patronais é porque uns e outros defendem apenas interesses partidários e de classe e esquecem-se do papel pedagógico que deveriam exercer sobre os seus associados, precisamente, no sentido de lhes incutirem o respeito pelo cumprimento dos seus deveres para, com toda a justiça, poderem exigir que lhes respeitem os seus direitos.

Porque, como todos sabemos, é sempre mais fácil e cómodo atiçar a fogueira, lançar as pessoas para a luta, exercer, digamos assim, uma acção demagógica, do que desempenhar uma missão moderadora, conciliatória e, no fim de contas, pedagógica.

Esta acção é muito importante, tanto mais que o verdadeiro sentido de solidariedade não consiste em aprovar e comprometer-se com o que não só não é razoável, mas até injusto.

Há por aí muita atitude, dita de solidariedade que não passa de engano assumido, sem dúvida, muitas vezes, de boa fé.

De facto, se uns e outros, isto é, os representantes do patronato e os representantes dos trabalhadores tivessem todos o verdadeiro sentido da Justiça, os conflitos laborais seriam resolvidos sempre da melhor maneira e a contento de todos.

Porém, enquanto assim não suceder, continuaremos a assistir às maiores injustiças e ao estabelecimento da demagogia que tudo subverte.

Joaquim Mendes Marques