O bispo do Algarve afirmou ontem, no contexto do Dia Mundial do Doente, que nunca se deve “interpretar uma doença, um acidente, um imprevisto como um castigo de Deus”.
“Isso é a última coisa que um pai faria pelo seu filho”, afirmou, acrescentando que “faz parte da finitude humana, a fragilidade”.
D. Manuel Quintas referiu-se de manhã ao tema, na Eucaristia de encerramento da visita pastoral que realizou este fim de semana à paróquia de Pêra, e voltou a abordá-lo na Missa a que presidiu à tarde no hospital de Faro.
“Há doenças incuráveis e perguntamos porque é que não aparece cura para estas doenças”, prosseguiu, constatando que a “cura para a pandemia” do Covid-19 surgiu porque “felizmente” se uniram “todos os laboratórios farmacêuticos a nível mundial”. “Havia muito dinheiro em jogo. Talvez fosse por causa disso. E porque é que não se encontra cura para o cancro e para tantas doenças do foro oncológico? Será também porque se houver cura as farmácias deixam de ganhar dinheiro?”, questionou, admitindo ser uma observação “sem fundamento”. “O que é certo é que, no orçamento familiar para tantas famílias e tantas pessoas mais idosas, o que se gasta mensalmente na farmácia pesa muito”, realçou, lembrando que se escuta tanto o dilema entre ter de “pagar a renda ou comer” como o de “pagar os medicamentos ou comer”.
Citando uma expressão do Papa Francisco, o bispo diocesano constatou haver “doenças incuráveis”, mas alertou que “não pode haver pessoas incuidáveis”, ou seja, “pessoas das quais ninguém cuida, que não recebem este gesto, esta mão estendida que afaga, que acaricia”. “Não temos o poder para curar as pessoas, para fazer os milagres que Jesus fazia, mas temos capacidade para curar interiormente”, salientou, exortando a “uma palavra, um gesto, uma visita, uma atenção para as pessoas doentes saberem que não estão esquecidas”.


A propósito da mensagem do Papa para o dia de ontem, o bispo do Algarve disse ser “importante que os que estão doentes, frágeis, não sejam impedidos de estabelecer relações humanas com os seus familiares, com os profissionais de saúde” e “que se sintam verdadeiramente amados por todos”. “Nunca deixemos de estender a mão a quem precisa do nosso afeto, do nosso afago, da nossa presença”, exortou.


D. Manuel Quintas lamentou ainda que os hospitais estejam “cheios de doentes com alta, pessoas que já não precisam de estar lá”. “Os hospitais transformaram-se em lares para estas pessoas. Porque é que não têm alta? Porque não encontram lugar para serem acolhidos. A culpa é dos familiares? Pode não ser, podem não ter condições nas suas casas. Não vamos culpar sem mais. A culpa é de todos que não encontramos espaço e lugar”, observou.


O bispo do Algarve assegurou ser uma sua preocupação as listas de espera nas instituições de acolhimento de idosos. “A maioria das listas de espera vão diminuindo, mas não é por internarem. As pessoas é que vão morrendo. É uma incapacidade nossa. É preciso reconhecer isso e era preciso fazer alguma coisa”, reconheceu, considerando esta dificuldade em encontrar “modo de cuidar de quem sofre” como “uma das chagas” da sociedade.


A Eucaristia na capela do hospital de Faro foi concelebrada pelo cónego Rui Barros Guerreiro, pároco de São Luís de Faro, a paróquia onde se insere aquela unidade hospitalar, e pelos padres Luís Gonzaga, seu capelão, Nelson Rodrigues e Tiago Veríssimo, respetivamente, capelães dos hospitais de Lagos e de Portimão. “Que esta concelebração nos anime a cuidar ainda mais dos doentes, cuidando da nossa relação pessoal com cada um deles, bem como com as suas famílias e com toda a comunidade hospitalar”, desejou o padre Luís Gonzaga no início da celebração em que foi administrado o sacramento da Unção a seis doentes.


Na mesma participaram a enfermeira Mariana Santos, Carla Aleluia e Paulo Neves do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Algarve (ULSALG), a qual integra os três hospitais públicos (Faro, Portimão e de Lagos), os três Agrupamentos dos Centos de Saúde do Algarve (ACES) e respetivas unidades funcionais no âmbito dos cuidados de saúde primários, os quatro Serviços de Urgência Básica e o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, entre outras entidades e serviços da região de saúde do Algarve ainda a definir.
