O bispo do Algarve anunciou ontem que a diocese vai ter um contributo solidário em tempo de Natal com a arquidiocese de Kiev, Ucrânia.
Na Eucaristia da solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a que presidiu ontem à noite na Sé de Faro, D. Manuel Quintas explicou que o arcebispo-mor de Kiev, D. Svyatoslav Schevchuck, escreveu uma carta à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a pedir ajuda porque a arquidiocese ucraniana está a “passar muitas privações e necessidades”.
O bispo diocesano adiantou que não se tratará de géneros, mas de “uma oferta, uma doação” monetária inserida no “percurso de Advento” que a Diocese do Algarve está a fazer e que poderá incluir verbas de um ofertório de Missa dominical ou de uma “oferta livre” que cada paróquia entenda promover.
“Será um contributo solidário da Diocese do Algarve em tempo de Natal para com o povo ucraniano, particularmente para com esta Arquidiocese de Kiev que não tem possibilidades de continuar a manter o Seminário onde tem mais de 100 seminaristas e, sobretudo, a apoiar as mais de três centenas e meia de padres que continuam presentes no meio do povo com todas as privações e situações por que estão a passar”, sustentou D. Manuel Quintas, acrescentando: “é importante não apenas uma resposta pessoal aos apelos que a palavra de Deus nos faz, mas que a resposta inclua também os outros, sobretudo, ajudando-os a crescer como irmãos. Isso é uma das grandes lições do Natal”.
Na missiva dirigida ao presidente da CEP, reencaminhada aos bispos portugueses, D. Svyatoslav Schevchuck refere que “desde o início da invasão Rússia à Ucrânia morreram 422 crianças e 805 ficaram feridas”. “De acordo com os dados da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, foram mortos 6.221 civis e feridos 9.361. Foram destruídos 140.000 casas de habitação e mais do que 3,5 milhões de pessoas ficaram desalojadas. De acordo com a mesma fonte, por causa da guerra 14,03 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir para encontrar outros lugares mais seguros, tornando-se refugiados. Para países europeus fugiram cerca de 10,9 milhões de pessoas de nacionalidade ucraniana”, acrescenta o documento.
O arcebispo-mor de Kiev lembra que desde o início da invasão russa, a Igreja ucraniana “sempre esteve junto do seu povo: com aqueles que ficaram entre as ruínas e destruição na Ucrânia e com aqueles que se refugiaram pelo mundo à procura de segurança”. “Não olhando para as dificuldades da guerra, os nossos padres não abandonaram as suas comunidades, continuando cada dia a fazer o seu trabalho pastoral, apesar das dificuldades e perigos de morte para si próprios e para as suas famílias. As nossas comunidades paroquiais tornaram-se lugar de abrigo para todos aqueles que perderam tudo. Os nossos bispos, padres e religiosos, estão a ajudar a distribuir alimentos, medicamentos, produtos de higiene e todos os bens essenciais àquelas pessoas”, prossegue.
O responsável da Igreja Greco-Católica de Kiev apresenta ainda “palavras de gratidão” pelo “apoio e pelas suas orações” da Igreja portuguesa, assim como pela “abertura” das comunidades aos refugiados ucranianos. “Cada gesto da vossa solidariedade para connosco é sinal da misericórdia divina e da esperança em como Deus nunca nos deixa sozinhos quando estamos em flagelo”, refere, acrescentando que Igreja ucraniana sente a “obrigação de proteger” os seus sacerdotes e respetivas famílias, “que hoje em dia vivem em risco eminente e apesar disso continuam a fazer a sua missão nas regiões destruídas” daquele país. “A maior parte da Arquidiocese de Kiev e as suas infraestruturas, onde eu sou arcebispo-mor, está destruída pelo bombardeamento de mísseis russos”, constata.