A solenidade de São Vicente que a Igreja celebrou ontem foi vivida em todo o Algarve por se tratar do padroeiro da diocese e, de maneira particular, em Vila do Bispo pelo diácono martirizado ser também o patrono daquele município.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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O bispo do Algarve voltou a presidir à tarde à Eucaristia na igreja matriz de Vila do Bispo. Na celebração, D. Manuel Quintas destacou o seu exemplo como “modelo de fé e de testemunho cristão”. “Vamos acolher o seu exemplo, pedindo também a sua intercessão para que possamos crescer mais na fé que queremos não apenas celebrar, mas também anunciar e testemunhar com a nossa própria vida e com os nossos próprios gestos e atitudes”, pediu no início da celebração.

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Na homilia, o bispo diocesano lembrou que “os mártires foram aqueles para quem, mais importante do que a própria vida, era a sua fé, era o princípio que norteava a sua vida, era a sua adesão à pessoa de Cristo e, por isso, não havia ninguém nem nada que os demovesse desta opção”. “E não tiveram receio em dar a vida, em derramar o seu sangue, em deixar-se morrer e martirizar como foi o caso de São Vicente e de tantos no início do século IV nessa grande perseguição aos cristãos, particularmente aqui nesta parte da Europa”, prosseguiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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D. Manuel Quintas deixou ainda aos católicos um desafio com três aspetos neste jubileu que a Igreja está a celebrar neste ano de 2025 com vista ao renovamento da sua vida, invocando para ele o apoio e proteção de São Vicente. A primeira dimensão a que aludiu foi à “condição pessoal”, apelando ao esforço para serem “melhores pessoas”, a segunda foi a “procura da essencialidade” e a terceira foi a um “novo impulso missionário na vivência cristã”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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A Eucaristia, que contou com a participação da presidente da Câmara Municipal, Rute Silva, foi concelebrada pelo pároco de Vila do Bispo e Sagres, padre José Chula, pelo pároco da maioria das paróquias vizinhas do concelho de Lagos, o padre Nelson Rodrigues, e contou com o serviço dos diáconos Bruno Valente e Manuel Chula.

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Depois da Missa não se realizou a habitual procissão devido às adversas condições climatéricas e em seu lugar foi feita na igreja a recitação do terço com meditação na nota pastoral que o bispo do Algarve escreveu o ano passado, a propósito da doação feita pelo Patriarcado de Lisboa à Diocese do Algarve de parte da relíquia do padroeiro comum.

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“Se o objetivo de uma procissão é também levarmos a nossa fé lá para fora para não a fecharmos em nós próprios, então, ao sairmos daqui, que esse espírito seja o mesmo, que vamos com este espírito cristão de alegria que caraterizou também São Vicente”, pediu o padre José Chula.

O bispo do Algarve acrescentou que “o importante é acolher o seu testemunho e ver nele a força” necessária para tantas situações. “A procissão começa agora quando sairmos da igreja e regressarmos às nossas casas. Sintamo-nos mensageiros de São Vicente e do seu testemunho, dando o testemunho que ele deu de fé, esperança, amor e serviço aos outros”, pediu.

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D. Manuel Quintas teve ainda presente na Eucaristia de ontem os nove diáconos da diocese algarvia. “Os primeiros vão celebrar agora 25 anos em fevereiro e terão o seu jubileu no dia 23 no Santuário da «Mãe Soberana» para celebrar as bodas de prata diaconais”, anunciou, acrescentando que a diocese tem mais “sete candidatos ao diaconado permanente que já fizeram o Curso Básico de Teologia de três anos e agora estão a preparar-se, ao longo de todo este ano de 2025. Queremos rezar por eles também e, sobretudo, invocar o diácono e mártir São Vicente sobre este percurso que eles estão a realizar”, referiu.

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Para além de orago da Diocese do Algarve, São Vicente é também padroeiro do Patriarcado de Lisboa, onde se guardam algumas das suas relíquias. Simbolicamente é representado por uma barca e um corvo, representação essa baseada na tradição de que em 1173 as suas relíquias foram conduzidas numa barca desde o Cabo de São Vicente, no Algarve, para Lisboa, a mando de D. Afonso Henriques e veladas durante todo o trajeto por dois corvos.

Também aparece representado com palma, que simboliza o martírio, e evangeliário. São Vicente ou São Vicente de Saragoça, também conhecido por São Vicente de Fora (Lisboa), foi martirizado em Valência no início do século IV (crê-se que no ano de 304) durante as perseguições do imperador romano Diocleciano contra os cristãos da Península Ibérica. O seu cruel martírio até à morte foi devido, segundo a tradição, à sua recusa em oferecer sacrifícios aos deuses do panteão romano.

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Segundo a tradição, os restos mortais do diácono da espanhola Diocese de Valência foram conduzidos, durante a progressiva ocupação muçulmana do sul peninsular, até ao cabo que viria a assumir o seu nome e a transformar-se, durante vários séculos, em lugar de peregrinação. As comunidades moçárabes existentes no Algarve, constituídas por cristãos que conseguiram organizar-se sob o domínio muçulmano, encontraram no testemunho de São Vicente, coragem e alento.

D. Francisco Gomes do Avelar proclamou, em 1794, São Vicente como padroeiro principal da Diocese do Algarve.

O dia de São Vicente comemora-se também com particular destaque em Vila do Bispo, onde é feriado municipal.

Comemorado a 11 de novembro pela Igreja Ortodoxa, São Vicente é ainda em Portugal o santo protetor e advogado das crianças.