O padre José Joaquim Campôa, de 64 anos, celebra amanhã, 29 de junho, 25 de sacerdócio e ao Folha do Domingo garante que o fundamental para continuar perseverante na sua vocação tem sido a capacidade de revisitar a alegria do dia da sua ordenação.

O sacerdote conta que, por estes dias, fez o mesmo que aconselha os noivos: voltar a ver o álbum das fotografias do seu casamento. “Olhei para uma fotografia da minha ordenação, onde estou com um sorriso de orelha a orelha com a píxide nas mãos a distribuir a comunhão, e pensei: «Aqui está, isto foi a alegria da minha ordenação». Procurei sempre viver esta alegria”, realça o sacerdote algarvio, considerando que celebrar este quarto de século de sacerdócio ajudará a reforçar esse mesmo sentimento para a vivência do tempo que lhe resta no exercício do ministério que abraçou.

Natural de Odiáxere, José Joaquim Fernandes Campôa foi o único filho homem dos quatros que os seus pais tiveram, sendo que, das suas três irmãs, uma é mais velha e as restantes duas são mais novas.

Nascido no seio de uma família católica, frequentou a catequese, realizou a primeira Comunhão e prosseguiu a caminhada cristã “sempre incentivado” pelos pais. A sua inserção na paróquia consolidou-se mais tarde com a criação em 1980 do agrupamento local do Corpo Nacional de Escutas. Tendo sido feito dirigente, trabalhou nas quatro secções escutistas.

Comprometido na paróquia, foi o contacto próximo com o pároco e os restantes sacerdotes da congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas) por ela responsáveis que o levou a descobrir a sua vocação. O padre José Joaquim Campôa garante mesmo que os sacerdotes redentoristas foram determinantes nesse discernimento e no acompanhamento vocacional e lembra ter sido, concretamente, o padre António Marinho que lhe perguntou se queria entrar no Seminário.

Em 1988, com a chegada ao Algarve do novo bispo da diocese, quis contar-lhe que decidira seguir nesse ano para o Seminário Redentorista de Cristo-Rei, em Vila Nova de Gaia, ao que D. Manuel Madureira Dias contrapôs a necessidade também da diocese algarvia de vocações ao sacerdócio.

Sem ter concluído o 9º ano de escolaridade, acabou por completar o percurso escolar no Seminário Redentorista. Frequentou a Universidade Católica e iniciou o noviciado. Em agosto de 1990 seguiu para o norte de Espanha, mas em fevereiro do ano seguinte decidiu seguir outro caminho. Certo de que a sua vocação era a sacerdotal, mas não na congregação redentorista, comunicou isso mesmo a D. Manuel Madureira Dias no encontro que o bispo lhe pedira quando soube que interrompera aquela experiência primeira.

Não obstante ter sido “um período muito difícil” porque teve de “decidir a vida” sob a pressão da mãe que não se conformara com a decisão de querer ser padre, acedeu então à proposta de entrar no Seminário de São José de Faro em setembro de 1991 onde viveu um ano que diz ter confirmado a sua vocação de ser sacerdote diocesano. “Foi uma experiência muito boa e hoje estou muito grato de ter passado por aqui e não ter ido logo diretamente para Évora”, refere, explicando que o pai, embora não sendo “praticante” como a mãe, “ficou tranquilo” primeiro. “Disse-me: «se é isso que queres, estou contigo»”, recorda.

No ano seguinte, seguiu para o Seminário Maior de Évora, onde prosseguiu o percurso normal. Acabado de ordenar sacerdote por D. Manuel Madureira Dias, rumou em setembro de 1999 às paróquias da Aljezur, Bordeira e Odeceixe para iniciar, juntamente com dois leigos mandatados por aquele bispo, uma experiência inovadora para a época de constituição de uma equipa de responsáveis paroquiais composta não apenas por sacerdotes.

Embora o então bispo do Algarve já tivesse encetado nove anos antes aquele rasgo de inovação com a delegação de um jovem casal para trabalhar a tempo inteiro numa paróquia do nordeste serrano algarvio, o mandato de um sacerdote com dois leigos para assumirem um conjunto de paróquias no outro extremo algarvio certificou, desta feita, a determinação de D. Manuel Madureira em apostar não só na efetiva corresponsabilização dos leigos, mas em ensaiar formas alternativas de liderança paroquial.

Reconhecendo que aquela experiência de “descoberta”, vivida com grande “alegria”, deixou uma marca indelével no exercício do seu sacerdócio nestes 25 anos, o padre José Joaquim Campôa considera que o projeto foi “muito arrojado” e que o bispo da altura foi “visionário”. “A realidade de hoje veio confirmar aquilo que ele já perspetivava há 25 anos”, refere, apontando à questão da sinodalidade que a Igreja tem na ordem do dia. O sacerdote acrescenta mesmo que o projeto “foi um exemplo concreto para se ir mais longe noutras paróquias, para outros seguirem o mesmo exemplo e cativar mais jovens a fazer o mesmo”.

“Não foi muito fácil assumir aquela zona toda com tão pouco tempo de ordenado, mas o entusiasmo e a alegria da ordenação fez com que tivesse avançado”, testemunha, considerando que “a experiência foi positiva para dar algum ânimo e para mexer um bocadinho com aquelas comunidades”, trabalho que ainda hoje diz ser por elas reconhecido. “Foi bem preparada e resultou nos primeiros tempos. Não durou o tempo que era necessário, mas, com aquilo que fomos fazendo e que construímos, as paróquias foram crescendo e foram tendo outra visão daquilo que é a Igreja e da pastoral, que estava um bocadinho perdida naquelas zonas. Durante os anos em que durou, acho que foi muito positivo”, sustentou.

O sacerdote considera ainda que a experiência o ajudou a compreender a importância da cooperação laical. “Acabado de ordenar não tinha uma grande ideia do que é que podia ser o trabalho com os leigos. Deu-me a visão mais alargada de que o plano pastoral da paróquia deve ser elaborado não só por mim, mas também por outros intervenientes. Isso ajudou a equilibrar os meus horários e a delegar tarefas pastorais muito concretas, partilhando o que estava bem, as dificuldades e o que teríamos de mudar para que funcionasse”, conta, explicando que aquela cooperação o ajudou a perceber que “as coisas funcionam sem a constante intervenção do sacerdote na pastoral”, tendo sido possível começar a “integrar” e “responsabilizar” membros das comunidades para que elas pudessem ser mais autónomas.

A experiência durou alguns anos, até à saída de um dos leigos que interpreta como a perda de um dos pilares do projeto, e o padre Campôa admite que a “dificuldade” para que não tenha ido mais longe possa ter sido a vida comunitária. “Não éramos desconhecidos, mas a experiência de vida comunitária é preciso ser muito bem trabalhada e talvez não tenha sido o suficiente”, refere, lamentando que os padres não sejam preparados no Seminário para viver comunitariamente.

A “alegria” de ver surgir uma vocação consagrada nas suas paróquias e o seu acompanhamento diz ter sido outra marca nestes 25 anos, referindo-se ao sacerdócio do padre Tiago Veríssimo, natural de Aljezur. “O importante é o acompanhamento e o incentivo que se dá e aquilo que se vai mostrando”, considera, realçando a importância do testemunho. “Um jovem, para se sentir chamado tem de ver que o padre vive com alegria a sua vocação e o ministério e é isso que eu procuro fazer”, sustentou.

O aniversariante considera o padre Tiago Veríssimo símbolo de uma geração de jovens “bem alicerçados” que ficou marcada por aquele projeto, no qual teve também um peso grande a introdução da dinâmica vivencial da espiritualidade da Comunidade Ecuménica de Taizé e a frequência, na altura, de mais de 90% de alunos do concelho nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica. “Conseguimos implementar a catequese em todo o lado”, recorda, lembrando a realidade da comunidade do Rogil – que cresceu ao ponto de, ao fim de 30 anos, precisar de uma igreja, cujo projeto de construção deixaram iniciado – mas também a de Odeceixe e Carrapateira.

O sacerdote considera que um projeto de liderança com aquelas caraterísticas continua a fazer sentido “mais hoje do que há 25 anos” para que a Igreja assuma o desafio da sinodalidade. “Há muitas coisas de que temos de nos libertar e dar a responsabilidade aos leigos para que eles assumam e as paróquias possam funcionar e a Igreja possa ir para a frente”, considera, sublinhando a urgência de os padres se concentrarem no que “mais ninguém pode fazer”.

“Se hoje tivesse outro projeto assim, aventurava-me novamente”, afirma perentoriamente, embora considere que “os jovens já não vivem com tanta intensidade o entusiasmo da pastoral e da vida da Igreja para se lançarem num projeto assim”. “O mundo apresenta outros caminhos. Embora os nossos jovens possam aderir muito à Igreja e ajudar, depois há outros caminhos que os impedem de se lançarem nestes projetos e até de se doarem vocacionalmente”, lamentou.

A passagem em 2014 para a paróquia de Quarteira trouxe uma grande alteração à sua vida. De uma realidade mais rural passou a outra mais citadina, mas a verdadeira expressão da mudança encontrou-a na dimensão que comporta a vertente social na paróquia para onde passou. O confronto com a necessidade de ter de gerir um lar, um refeitório social, uma creche e um centro de dia confessa ter sido a maior dificuldade. “Eu não sabia gerir nada a nível social e tem sido a maior dificuldade que tenho tido na minha vida sacerdotal. Não é porque não goste dela, nem porque não o faça com muita alegria, mas gerir é algo que não faz parte mim”, reconhece, explicando que o Seminário não prepara para isso.

“O meu medo era absorver-me na parte social e deixar para trás a parte pastoral”, acrescentou, explicando que o “grande desafio” tem sido manter o equilíbrio entre duas dimensões que diz serem “fundamentais” na Igreja. Ter assumido nos primeiros anos um conjunto de paróquias com um pendor mais pastoral e nos últimos uma comunidade com uma forte vertente social, considera ter feito de si um sacerdote mais completo.

O padre José Joaquim Campôa agradece ainda a colaboração do padre Joaquim Martins dos Santos, pároco aposentado do Patriarcado de Lisboa há cinco anos em Quarteira. “Tem sido importante porque nós também aprendemos com os mais velhos”, realça.

Como desafio na paróquia onde está, o aniversariante assume o de estruturar melhor o grupo dos jovens. “Falta ali um dinamismo e ainda alguma coisa para os agarrar”, considera.

Outra das dimensões que tem acompanhado o ministério do padre José Joaquim Campôa tem sido a pastoral do turismo, mas o sacerdote garante que “a realidade é muito diferente”. Enquanto na Costa Vicentina diz ser possível “uma maior proximidade” e criar uma relação com as pessoas, em Quarteira assegura ser uma experiência “mais impessoal” porque são “invasões anónimas” na Páscoa e no verão.

Ao olhar para trás, o aniversariante assegura que o “propósito de ultrapassar as dificuldades passa por uma experiência muito rica de confiança em Deus”. “Isto tem-me ajudado a ser muito perseverante e muito confiante”, acrescenta, explicando que a confiança de que não se está sozinho no caminho ajuda muito a conseguir ir levando, sobretudo, os momentos de maior dificuldade.

Aos novos sacerdotes deixa como conselho “evitar o isolamento”. “Se muitas vezes não são procurados por alguém que sejam eles a procurar”, sugere, lembrando as “imensas visitas” de D. Manuel Madureira Dias nos seus primeiros anos de sacerdote.

Por outro lado, realça a importância da “vida de oração”. “É um pilar. Se não agarramos e procuramos uma vida de oração, não conseguimos suportar a pressão que hoje o mundo nos põe e a realidade que nos apresenta. É muito difícil”, adverte, aconselhando ainda os padres a uma maior partilha e a um menor individualismo e egocentrismo.

A nível diocesano, o padre José Joaquim Campôa foi diretor do Secretariado da Catequese entre 2015 e 2019.

As bodas de prata sacerdotais serão assinaladas amanhã, 29 de junho, com um programa organizado pela paróquia de Quarteira que inclui celebração da Eucaristia, pelas 19h, na igreja de São Pedro do Mar, seguida de um jantar para inscritos.