No início da semana passada fomos assaltados com uma notícia que passou despercebida na praça pública. Andávamos todos preocupados com o excesso de calor, ou com os convocados da Seleção Nacional para o Euro 2012, com as escutas… Não tivemos, pois, tempo nem atenção para reparar no que o Jornal Público nos mostrava, numa tranquila segunda-feira, 14 de maio.
Esse jornal diário mostrava, na sua capa, que os “Salários dos presidentes do PSI-20 subiram 5,3% em 2011 apesar da crise”. Pois bem: o quanto cada trabalhador honesto recebe de salário, não diz respeito a ninguém! Porém, mais abaixo, na mesma notícia, lemos que os mesmos “gestores ganharam, no total, 17,6 milhões de euros em 2011, sendo o seu vencimento 44 vezes superior ao salário médio dos trabalhadores das suas empresas, que desceu no mesmo período quase 11%”. Simultaneamente confuso e incrédulo, continuei a ler o texto, que dizia: “num ano em que os portugueses começaram a sentir com maior impacto os efeitos da crise, os salários dos gestores das principais empresas cotadas na bolsa de Lisboa não seguiram a tendência geral de perda de rendimentos que se verificou em 2011. As remunerações dos presidentes executivos destas 20 empresas aumentaram 5,3%, para 17,6 milhões de euros. Já a média salarial dos trabalhadores caiu quase 11%”. Manuel Ferreira de Oliveira, presidente executivo da Galp, é apontado, no dito artigo, como o CEO mais bem pago em 2011, tendo recebido, em média, 117mil euros por mês em 2011.
Nada contra??… Não, nada haveria a apontar, não fora o facto de a média dos trabalhadores da Galp – empresa com capitais maioritariamente públicos – não recebesse cerca de 56 vezes menos que o seu Presidente… Não sei se este “gigantesco ordenado” terá alguma relação com o despedimento e a redução salarial dos trabalhadores menos qualificados, mas que são eles que executam as tarefas primordiais para o funcionamento da estrutura, são e com esse seu esforço e empenho sustêm a empresa.
Posso apenas concluir que, afinal a austeridade não é para todos, nem é em proveito de todos. Situações como estas, apesar de não serem ilegais, são, no mínimo, imorais. E têm de ser denunciadas com veemência. E se quem faz estas denúncias e luta contra estas injustiças são pessoas simpatizantes da esquerda partidária, então eu sou de esquerda.
Mais: não podemos esquecer que é função da Igreja não só dar assistência aos mais necessitados, mas também denunciar os casos de injustiça social. É uma obrigatoriedade evangélica denunciar as injustiças. Jesus Cristo fê-lo, mas nós muitas vezes ficamos calados, com medo de represálias e de ferir suscetibilidades, quer junto das forças políticas, ou do capital financeiro. É necessário ajudar os mais necessitados, tanto como denunciar os processos e políticas que produzem a miséria e o abandono. Não será esta uma das funções essenciais da Doutrina Social da Igreja?…
Miguel Neto