Nas vésperas do 48º aniversário da Revolução de Abril em Portugal, o encontro deste mês de preparação para Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2023 propôs anteontem aos jovens católicos algarvios uma reflexão sobre a liberdade.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O ‘Rumo ao 23’ deste mês deixou aos jovens a ideia de que a liberdade, embora dependente de muitos fatores externos, “é algo muito interior”. “A pessoa pode estar impossibilitada de fazer o que quiser e mesmo assim ser livre”, defendeu a professora Maria da Graça Marques no encontro que decorreu na igreja matriz de São Pedro de Faro e teve início com a intervenção do pároco local e com a proposta aos cerca de 170 participantes de que escrevessem, através de uma aplicação no telemóvel, o que lhes sugere a palavra liberdade.

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“A liberdade é algo que está dentro de nós. As nossas ações são livres quando, interiormente, decidimos por elas e não propriamente porque posso fazer o que me apetece. Não temos a liberdade de poder fazer tudo o que quisermos porque há muitas condicionantes”, sustentou aquela docente universitária, que foi uma das intervenientes da mesa redonda sobre o tema escolhido e que começou por lembrar que a liberdade é a possibilidade “de fazer escolhas”.

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Aquela professora defendeu que as escolhas “não podem ser individuais e individualistas”. “Temos de trabalhar pelas nossas aspirações, sonhos e desejos, mas também pelas aspirações, sonhos e desejos de quem está próximo de nós”, considerou, acrescentando que a liberdade individual é fundada na “possibilidade de optar pelo bem” e na opção “pela paz”. “Cada vez que estamos a exercer a nossa liberdade nunca perder de vista a liberdade dos outros que estão à nossa volta”, pediu.

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Maria da Graça Marques disse ainda que a “tem como fundamento a verdade”. “Quando procuramos a verdade com amor, acabamos em liberdade”, afirmou, acrescentando que quando mentimos “perdemos liberdade”.

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Nesse sentido disse aos estudantes que têm “obrigação de estudar de uma forma séria”. “Com o nosso estudo e a nossa aprendizagem estamos a colaborar na evolução do mundo”, acrescentou, pedindo-lhes que possam “dar testemunho no dia a dia”.

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O segundo interveniente daquele espaço de reflexão lembrou que há 48 anos “estava de serviço na Escola Prática de Cavalaria de Santarém”, de onde saiu a coluna militar rumo a Lisboa liderada pelo capitão Salgueiro Maia. Telmo Pedro disse que não teve “o privilégio” de integrar essa primeira coluna, acabando por seguir só três dias depois para a capital.

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Lembrando que o “sentido político de desagrado da guerra [colonial]” que se instalara no país, aquele antigo militar lembrou o “prazer” que teve em “acabar com uma ditadura” e realçou que “a partir daquele dia tudo foi diferente”.

Telmo Pedro acrescentou que “Salgueiro Maia sabia mandar, dirigir e reunir as tropas todas com ele”. “Era um prazer servir o Salgueiro Maia”, sustentou.

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Questionado sobre se se consegue sentir verdadeiramente livre, o antigo militar disse estar “sempre condicionado”. “Provavelmente ainda hoje não senti bem a minha liberdade. Devo exercer a responsabilidade pensando na liberdade dos outros”, acrescentou.

Também o pároco de São Pedro de Faro concordou que o conceito de liberdade tem de passar pela relação com os outros. “O princípio da liberdade é respeitar o outro que pode ser diferente de mim. Se eu respeitar o outro que é diferente de mim estou a abraçar a liberdade”, afirmou o cónego Carlos César Chantre, considerando que “a liberdade é uma «flor» muito frágil”. “Devemos fazer tudo para a defender”, pediu.

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Por outro lado, o pároco considerou que o Papa, que virá a Lisboa em 2023, como “instrumento de Cristo”, “é um instrumento da liberdade”. “A vinda do Papa a Portugal é a vinda do Papa ao mundo. Os portugueses vão ter que transmitir uma grande força ao mundo inteiro. Não por causa do Papa, mas por causa de Jesus Cristo. Toda a Europa vai estar de olhos postos nos jovens portugueses. Porque a Europa que está a ficar envelhecida, às vezes tem de receber testemunho de outros continentes. E vocês têm de provar, como jovens que são hoje, que também na Europa há cristãos, há liberdade”, concluiu.

Os encontros ‘Rumo ao 23’ decorrem no dia 23 de cada mês em todas as dioceses portuguesas por desafio do Comité Organizador Local (COL) da JMJ. No Algarve são promovidos pelo Comité Organizador Diocesano (COD) em colaboração com o Setor da Pastoral Juvenil da diocese algarvia.