
Decorreu no passado dia 9 de fevereiro, no Centro Pastoral Beato Vicente, em Albufeira, o primeiro encontro realizado no âmbito da ação formativa sobre o amor e a sexualidade que as paróquias de Albufeira, Boliqueime, Ferreiras e Paderne decidiram implementar.

A iniciativa consistiu num workshop no âmbito do programa de educação sexual ‘Protege o teu coração’ (PTC), desenvolvido na Colômbia e presente em Portugal desde 2008, através da Associação Família e Sociedade.

O PTC assenta numa proposta de desenvolvimento integral do indivíduo com base em cinco dimensões – física, social, emocional, racional e transcendente – que, tendo a sexualidade presente em todas ela e uma vez equilibradas, irão “dar maturidade à pessoa”. “Cada um dos adolescentes precisa de se conhecer nessas cinco dimensões. Se não temos estas cinco dimensões equilibradas também não vamos ser uma pessoa bonita, completa, integrante e integrada”, alertou a monitora e psicóloga Teresa Margarido Correia na formação sob o tema “Educar o Caráter, educar para amar”, que ficou marcada pela apresentação daquele modelo.

Conforme explicou a formadora, um dos objetivos do programa é, através daquele modelo, levar a pessoa a “ver o amor não como sexo, mas como algo que é muito mais do que isso”. “É querer o outro nas suas cinco dimensões”, concretizou, sublinhando a importância de trabalhar com os adolescentes e jovens cada uma daquelas áreas “para que possam chegar a um respeito por si e pelos outros”. “Ao conhecer-se a si próprio, o adolescente vai respeitar-se a si em primeiro lugar, vai conhecer-se bem e valorizar-se a si e só assim é que vai conhecer e valorizar os outros”, desenvolveu na ação formativa que contou com a presença de cerca de 60 participantes não apenas das paróquias organizadoras.

A ideia foi reforçada pela colega, monitora do TPC, Vanessa Machado. “Nós estamos a criar pessoas para amar”, destacou, considerando que “amar é ajudar o outro a realizar as suas cinco dimensões”. Aquela formadora, que é simultaneamente enfermeira, exortou a “associar a sexualidade com a vida e com o amor, sempre realçando que a sexualidade é boa e positiva” e “que o impulso sexual é bom e natural”. “A própria relação sexual não é uma coisa despegada de mim, está integrada no meu ser e devemos dar sempre este sentido transcendente”, complementou, desafiando a “ajudar os adolescentes a não confundir o prazer com a felicidade”.

Para chegar ao equilíbrio das cinco dimensões, as formadoras destacaram ser necessário a “aquisição de competências” como a “responsabilização”, o “autocontrolo”, o “autoconhecimento” ou a “autoestima” que ajudem a colmatar as “carências típicas da adolescência”. “Se não têm autocontrolo aceitam e experimentam quase tudo porque não conseguem prever as consequências das suas ações”, alertou Teresa Correia, lamentando que, por exemplo, nos EUA já existam “clínicas de desintoxicação de pornografia” em consequência da falta destas competências.

A formadora considerou importante para chegar ao autocontrolo, ajudar os educandos “a gerir e a identificar as emoções”, bem como “ajudá-los a ser responsáveis pelas suas pequenas decisões” e a “resistir às pressões”, levando-os a desenvolver um “filtro interior”. “É importante controlar, mas o grande filtro que temos de ajudar a desenvolver é o interior e ajudá-los a tomar decisões maduras”, complementou Vanessa Machado.

Segundo Teresa Correia, “as competências vão ajudar a adquirir um bom caráter”. “Vão ser pequenas sementes do bom caráter que queremos que eles tenham no final deste período da adolescência”, explicou, apontando que a importância de conseguirem “alcançar a capacidade de análise” para poderem “usar bem” a sua liberdade. “A fortaleza é o traço que se tem de trabalhar com eles para que possam não ser tão manipuláveis”, alertou, considerando igualmente “importante trabalhar com eles a proteger a intimidade”. “Ao não protegermos a intimidade não nos estamos a valorizar como pessoas. Intimidade não é algo que eu tenho, é algo que eu sou”, considerou, acrescentando que o pudor é o “instinto” de proteção da intimidade. “O pudor dá-nos o conhecimento de abrir ou fechar a intimidade perante as circunstâncias e as pessoas que temos à nossa volta”, observou.
Vanessa Machado desafiou os formandos a perderem o “medo” de falar sobre sexualidade com os filhos, pedindo-lhes que “nunca se deixem substituir”. “Há alguma tendência agora, governamental e escolar, para substituir os pais. Não se deixem pisar. É nosso este dever e este direito de educar. A escola pode ajudar, mas aqui somos nós que mandamos e temos esse direito. Que ninguém no-lo tire”, frisou, aconselhando os pais a “antecipar-se aos meios de comunicação e aos amigos”.
“Se não falarmos com os filhos eles vão à procura na mesma”, prosseguiu, referindo um estudo feito nos EUA, segundo o qual “desde os sete anos os miúdos descarregam conteúdos sem a supervisão dos seus pais”, “20% já viu violência, 33% já contactou desconhecidos e 42% já viu imagens de sexo”.
A enfermeira prosseguiu, alertando que a vida sexual ativa começa “cada vez mais cedo”. Para comprovar, mencionou um inquérito realizado em 2014 em Portugal ao 6º, 8º e 10º anos de escolaridade, no qual se perguntou aos alunos se já tinham tido relações sexuais. “13% disse que sim. Destes, 16% foi com 12 ou 13 anos e 8% foi com 11 anos ou menos. Os restantes foi com 14 anos ou menos”, contou.

A formadora aconselhou os pais, perante a sexualidade, a preferirem a atitude “integradora”, em detrimento das antagónicas “repressiva” ou “permissiva”. “Não sou defensora que os pais devem ser os melhores amigos dos filhos. Os pais são pais. Mas que devem ser amigos, certamente. Devemos certamente tornarmo-nos o principal confidente, para um dia, quando eles precisarem, virem ter connosco”, afirmou.

A monitora pediu ainda aos formandos que evitem “juízos precipitados” e procurem “compreender sem condenar” e “escutar sem julgar”, procurando “esclarecer a situação” e “corrigir sempre com carinho”. “Se o vosso filho ou filha chega a casa e olha para vocês e diz: «eu sou homossexual ou estou a sentir atração pelo mesmo sexo». Qual é a primeira coisa que vocês vão dizer? Vão olhar no fundinho dos olhos dele ou dela e vão dizer-lhe: «eu amo-te!» E nunca usamos a palavra «mas» porque nós amamos independentemente do que eles façam. É nos momentos mais difíceis que devemos mostrar de que forma é mesmo incondicional o nosso amor”, desenvolveu.

A terminar, apresentou “quatro liberdades e quatro vantagens” de esperar pela relação sexual após o casamento e fundamentou a opção com recurso à neurociência, assegurando que “o compromisso tem um impacto” no funcionamento cerebral do homem e hormonal da mulher. “A ciência mostra-nos que o cérebro [masculino] se comporta de forma diferente depois do casamento”, assegurou, explicando que o homem procura reproduzir ao longo da vida a primeira experiência e que se esta ocorrer num contexto sem compromisso o cérebro do homem vai registar apenas as emoções sentidas e não a pessoa. “Num contexto de compromisso oficial, o cérebro dele vai registar a pessoa. A principal ligação vai ser à pessoa e não ao sexo”, diferenciou, referindo que a mulher, na primeira experiência sexual produz ocitocina, a “hormona da vinculação”, libertada também quando amamenta, que vai aumentando quando mantém o mesmo parceiro sexual. “Se muda de parceiro, a quantidade segregada vai diminuindo porque o corpo está a desistir de se ligar”, concluiu, sustentando ainda que o ato sexual “é uma entrega total” no sentido de “por inteiro e para sempre”. “Muito frequentemente, num contexto de namoro, a entrega não é total”, lamentou.
Por fim, citou mais um estudo de 2011 “com pessoas de várias nações que relacionou o número de parceiros sexuais com a taxa de divórcio”. “As pessoas que tinham tido só um parceiro sexual apresentaram uma taxa de divórcio de 20%. Com dois parceiros, 50%. Com três parceiros sexuais, 60%. Dos poucos que esperam até ao casamento, 5%”, enumerou.