O apoio que os elementos do Corpo Nacional de Escutas (CNE) têm vindo a prestar às vítimas do incêndio de Monchique foi incrementado no último sábado com a realização do Encontro Regional de Caminheiros e Companheiros, (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo) dos diversos agrupamentos algarvios daquele movimento.
No sábado, logo ao início da manhã e não obstante as condições climatéricas adversas, 59 Caminheiros e Companheiros e 12 dirigentes, distribuídos por seis grupos (clãs), fizeram jus ao lema do CNE – “Sempre Alerta para Servir” – e foram pôr o seu trabalho ao serviço de seis propriedades afetadas pelo fogo no concelho de Monchique.
A colaboração prestada na zona de Alferce e Monchique incidiu na limpeza de terrenos, no corte de árvores, na estabilização do solo para controlo da erosão, na remoção de detritos, entre outros aspetos.
O Encontro Regional de Caminheiros e Companheiros foi promovido, uma vez mais, pela Junta Regional do Algarve do CNE, através da sua Secretaria da IV Secção que organizou a edição deste ano em parceria com a Plataforma “Ajuda Monchique”.
Em declarações ao Folha do Domingo, o coordenador geral daquela organização, que orientou o serviço voluntário dos jovens escuteiros, considerou que para além do trabalho por eles levado a cabo, a dimensão mais importante da sua ação foi “o apoio moral de as pessoas saberem que vão ter uma ajuda três meses depois do incêndio”.
John Roy Dommett, nascido na África do Sul, mas residente desde o ano 2000 em Monchique, onde completou o ensino básico, sentiu ele próprio na pele os efeitos da destruição do incêndio, mas não obstante a sua própria família precisar de ajuda, conseguiu ainda encontrar tempo para trabalhar em prol das restantes vítimas.
O fogo chegou-lhe à porta de casa, em plena Fóia, onde reside com os seus pais. Salvaram a residência, a horta, o pomar e os póneis criados pela família, mas a restante área da propriedade com dois hectares ficou reduzida a cinzas, incluindo cerca de 600 metros de vedação, as pastagens, as pontes em madeira e a madeira utilizada para fazer outras construções.
O seu pai, igualmente John Dommett de nome e sul-africano de naturalidade, veio para Portugal há 18 anos, tendo casado com uma portuguesa. Compraram a propriedade em 2006. Questionado por Folha do Domingo sobre se a GNR no dia do incêndio não lhe tinha dado ordem de saída por razões de segurança, o pai John Dommett fez sinal com a cabeça de que não queria falar sobre o assunto, afirmando apenas: “eu fiquei em casa com as mangueiras”.
A família Dommett foi uma das beneficiárias do apoio dos escuteiros. O trabalho no seu terreno consistiu, sobretudo, no corte de árvores para a construção de estruturas para a sustentação do solo. “A estrada está cheia de terra”, lamentou John Dommett, explicando que já comprou sementes para a plantação depois do trabalho dos escuteiros que agradeceu. “Agradeço. É fantástico. Só para mim e para o meu filho é muito trabalho”, afirmou, reconhecido, evidenciando que aquela área “é parte da ecologia da região”.
O secretário da Secretaria da IV Secção da Junta Regional do CNE explicou ao Folha do Domingo que a decisão de realizar em Monchique a edição deste ano daquele encontro regional, que teve como imaginário uma lenda da vila, foi tomada logo após os acontecimentos de agosto passado. “Quisemos dar um pequeno contributo para minimizar aquilo que aconteceu no Verão”, afirmou o chefe Tiago Silva.

No sábado, os escuteiros começaram por concentrar-se no heliporto, tendo os clãs sido constituídos como equipas verticais com elementos dos vários agrupamentos presentes, após a oração da manhã. Cada voluntário foi depois convidado a escrever uma mensagem numa bola para decoração das árvores de Natal das famílias ajudadas. “Escrevam uma mensagem que achem que seja importante, para entregarem às pessoas com quem vão estar, para no Natal estar lá a vossa bolinha”, pediu o chefe Tiago Silva.
Os grupos receberam depois as ferramentas e as indicações necessárias para o trabalho que iam realizar, bem como as coordenadas de referência para os locais para onde tiveram de se dirigir.

Depois de realizado o trabalho voluntário, o encontro teve continuidade na sede do Agrupamento 383 de Monchique com a revisão da ‘Carta de Clã’, um documento no qual estabelecem anualmente os objetivos que se propõem cumprir. As propostas de alterações foram depois apresentadas e discutidas em plenário, tendo a carta de intenções sido assinada por todos.
Foram ainda apresentadas propostas para o imaginário do próximo Dia de São Paulo (patrono dos Caminheiros e Companheiros), a realizar-se em janeiro de 2018, que foram a votação.
O CNE, fundado em 1932 no Algarve pelo cónego José Augusto Vieira Falé, conta atualmente com 34 agrupamentos num total de quase 2.400 elementos (cerca de 620 Lobitos, 655 Exploradores/Moços, 483 Pioneiros/Marinheiros, 250 Caminheiros/Companheiros e 370 dirigentes).
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