2 – Se é verdade, que cada membro deve escutar e viver a palavra, para corresponder ao que Deus quer dele, é igualmente verdade que a Igreja é verdadeira «mestra» da escuta e da conformação de vida com o Verbo de Deus que se fez homem e se torna presente, quando a sua palavra é proclamada no interior da comunidade. A palavra pronunciada por Samuel (Cf.1Sam.3,10), quando Deus o chamou para o exercício de uma missão no interior do povo de Deus, é a palavra que a Igreja pronuncia constantemente. Se o não fizesse deixaria de ser fiel ao seu Fundador, porque a vida da Igreja só é vida segundo Deus, se a Igreja escutar e puser em prática o Evangelho que anuncia. Ela recebe de Deus a vida que é chamada a comunicar; pois, quando comunica, não comunica o que é dela, mas o que Deus a encarregou de comunicar. Se ela não viver o Evangelho, não cumprirá cabalmente a sua missão. Só quem escuta verdadeiramente a Palavra de Deus e a põe em prática poderá ser seu anunciador.
Este mistério da Palavra anunciada, escutada e vivida é uma fonte de riqueza tal que não é possível atingir o grau de perfeição que está nos planos de Deus a respeito de cada um de nós, se nos dispensarmos de a escutar, ou de nos deixarmos interpelar por ela, ou de a vivermos. Neste caso faremos parte daqueles a que se refere João no seu Evangelho: «veio para o que erra seu e os seus não o receberam». Mas, se escutarmos e vivermos de harmonia com os desafios da palavra, também faremos parte dos outros a que o Evangelista também se refere: «aos que o receberam, fê-los filhos de Deus».
*bispo emérito do Algarve
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico