O padre Rossano Sala disse ao clero das dioceses do sul que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) poderá ser “um laboratório de sinodalidade” para a Igreja “porque, de alguma forma, expressa o dinamismo, a energia e o estilo do caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milénio”.

“Pode ser um laboratório eclesial de renovação para a Igreja, em benefício de todos”, “não só ao nível dos conteúdos e das novas práticas, mas sobretudo ao nível do estilo, da forma de prosseguir, da viagem partilhada com os jovens”, sustentou aquele professor da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, que foi o secretário especial da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” e que refletiu desta vez sobre a temática “Jovens evangelizadores dos Jovens. O repto da JMJ 2023” na atualização de bispos, padres, diáconos e seminaristas das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer desde ontem em Albufeira.

O especialista em pastoral juvenil considerou que “a próxima JMJ é um dom de Deus para a vida e a missão da Igreja” e um “momento em que se pode concretamente experimentar a sinodalidade da Igreja e da Igreja”. “Trata-se também de um banco de ensaio e de um teste para ver se somos realmente sinodais”, considerou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador advertiu que “se os grandes acontecimentos desempenham um papel significativo para muitos jovens, é muitas vezes difícil incorporar na vida quotidiana o entusiasmo que resulta da participação em tais iniciativas, que correm assim o risco de se tornarem momentos de fuga e de fuga da vida normal da fé”. Neste sentido, alertou “contra a ilusão de que alguns acontecimentos extraordinários resolverão o percurso da fé e a vida cristã dos jovens”, considerando que “a atenção aos processos virtuosos, aos caminhos educativos e aos itinerários da fé parece decididamente necessária”.

Reconhecendo que as JMJ “para muitos jovens foram uma experiência de transfiguração, na qual experimentaram a beleza do rosto do Senhor e fizeram importantes escolhas de vida”, alertou que “os melhores frutos destas experiências são colhidos no dia-a-dia”. “Por conseguinte, torna-se importante conceber e implementar estas convocatórias como etapas significativas de um processo virtuoso mais alargado”, defendeu, avisando que , caso contrário, “arriscam-se a ser experimentados como eventos evasivos, em vez de eventos geradores”.

“Podemos dizer que a JMJ é por si só uma grande oportunidade, mas como todas as ocasiões também pode tornar-se uma grande tentação: por exemplo, uma oportunidade de causar uma boa impressão perante a Igreja universal, ou organizá-la como um evento turístico para promover o seu próprio território, ou mesmo como um simples momento lúdico de animação”, prosseguiu.

Neste sentido desejou que o encontro seja uma “festa de fé”, uma “experiência da Igreja”, uma “experiência missionária”, uma “oportunidade de discernimento vocacional, uma “experiência de peregrinação” e uma “experiência de fraternidade universal”. “Imagino que ao nível da Igreja Universal a próxima JMJ em Lisboa será o grande sinal de renascimento e recuperação após a difícil experiência da pandemia”, vaticinou.

O orador referiu que a pastoral da juventude “é um laboratório permanente para a renovação da pastoral de toda a Igreja, porque é verdadeiramente uma verdadeira antecipação do futuro do mundo e da Igreja”. “Os jovens são sentinelas e «sismógrafos» do nosso tempo. Sentinelas porque nos antecipam em muitas coisas e «sismógrafos» porque têm uma grande sensibilidade para as mudanças que ocorrem” justificou, acrescentando: “as oportunidades e lutas que vivemos hoje na pastoral dos jovens serão aquelas que dentro de alguns anos ou algumas décadas iremos encontrar em todo o povo de Deus.

Nesse sentido disse que “a pastoral dos jovens é, portanto, um espaço de experimentação de novas propostas de evangelização, e por isso torna-se um estímulo à inovação pastoral”; “É também um momento em que nos é permitido falhar, no sentido de que nem todos os caminhos testados se tornarão formas normais de fazer trabalho pastoral; é um espaço de sonho profético, de despertar a imaginação, de criatividade pastoral em que a Igreja aprende a pensar e a agir com base em dinamismos juvenis como a coragem, a esperança e a força”, desenvolveu o padre Rossano Sala que fará ainda uma segunda conferência sobre o tema “Os Jovens e a Igreja. Que Igreja queremos/devemos ser?”.