Esta expressão para além de ser o título de um grande filme dos irmãos Cohen, é também uma expressão que deve preocupar a todos nos tempos que correm. Quer queiramos, quer não, os sucessivos casos de idosos mortos, sozinhos nos seus lares, têm vindo a revelar uma realidade que até agora estava esquecida na sociedade portuguesa: o abandono progressivo dos idosos por parte das suas famílias.

Não é uma realidade só portuguesa, mas como vivemos em Portugal temos que nos preocupar com ela. Aliás, é visível que, à medida que a nossa sociedade evolui na tecnologia, na sofisticação, no bem-estar individual, na rapidez das plataformas de comunicação, preocupamo-nos menos com os idosos e com as crianças, enfim, com os indefesos e dependentes da sociedade.

Vivemos obcecados com os tomates, agriões, vacas e demais vegetais e animais virtuais da Farmville do Facebook, mas desprezamos e esquecemos de seres humanos de carne e osso, que já deram tudo e que agora merecem o nosso carinho e afeto! Obviamente que esta relação é exagerada e até pode ser falaciosa. Mas, gostaria que ficasse como alerta para a realidade em que vivemos. Porém, convêm sublinhar que a tecnologia e a qualidade, ou a falta delas, não são obstáculo ao respeito e cuidado que nos merece um idoso. Aponto, para esta reflexão, dois países completamente antagónicos, que nos podem dar pistas para uma nova tomada de consciência. Em primeiro lugar, aponto o exemplo do único país em vivi para além de Portugal: Timor-Leste. Em Timor-Leste existe um respeito enorme pelos idosos, não por aquilo que trabalharam, mas pelos conhecimentos e experiência de vida que contêm em si. Como deveis calcular é um país onde a generalidade da população não tem acesso à mais alta tecnologia, sofisticação, bem-estar individual ou rapidez de comunicação, mas todos, desde os mais novos até aos de meia-idade, olham para os anciões como alguém que devem respeitar e procuram apreendem os seus longos conhecimentos. Em muitas zonas, a palavra ou um juízo de um idoso é mais importante que as decisões de um polícia ou até de um juiz.

Mas, gostaria de falar de outro país, a Suécia. Para que possamos ver que a falta de respeito pelos mais idosos pode não estar diretamente relacionada com o nível da qualidade de vida do povo, mas com a identidade e a forma de estar desse mesmo povo. A Suécia destaca-se porque está a ser capaz de atingir um crescimento sustentável, ou seja, um desenvolvimento que está a permitir satisfazer as necessidades das gerações presentes, em especial das mais pobres, sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. No entanto, a Suécia tem obstáculos que podem vir a pôr em causa este panorama. Um desses obstáculos é, sem dúvida, o forte envelhecimento. Com esse envelhecimento os gastos na área social tendem a aumentar e, uma vez que a Suécia já possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, como conseguirá continuar a suportar todos estes custos? Como está a situação dos idosos na Suécia? Como são tratados? Apesar da perfeição ser impossível, pode-se afirmar que, a Suécia é um país que, em termos de respeito e dos direitos dos idosos, está muito bem. Todavia, não existem só aspetos positivos. Com as alterações demográficas, os idosos começaram a ser excluídos e hostilizados pela sociedade – uma vez que na Suécia existe quase um idoso para cada pessoa economicamente ativa, os contribuintes sentem-se altamente explorados ao terem que pagar altos impostos para as reformas e de ainda terem de pagar as suas próprias contas. O abuso e crimes contra idosos engrandeceram e, por exemplo no norte da Suécia, surgem dados que confirmam isso mesmo. Já que os homens, com idades compreendidas entre os 65 e os 80 anos, denunciaram casos de exposição a violência, negligência, importunos ou injustiça por parte da população em geral mas também no seio de relacionamentos próximos. Porém, face a estes problemas o Governo sueco implementou medidas que incluíssem os idosos na sociedade, para que não fossem vistos como um "fardo", mas sim como pessoas úteis para a sociedade. Fez reformas a vários níveis. Ao nível do trabalho, tentou melhorar as oportunidades de trabalho para os mais velhos – incentivando empresas a adaptarem-se às alterações demográficas -, implementou medidas que evitassem a reforma precoce e que incentivassem os trabalhadores a ficarem mais anos no mercado de trabalho. Ao nível da educação, o Estado criou centros onde os idosos pudessem aprender a usar o computador e Internet e despertou o interesse dos idosos para esta área (46% dos idosos suecos recorre regularmente à Internet e sabe trabalhar com um computador), incentivou a aprendizagem ao longo da vida (esta formação permite aos trabalhadores mais velhos continuarem competitivos e mantendo níveis de produtividade), deu oportunidade aos mais velhos para ingressarem nas chamadas Universidades Sénior. A nível social foram criados programas que visam o voluntariado sénior, onde os voluntários idosos vão à escola para realizar trabalhos de preparação de acontecimentos ou para ajudar na organização de trabalhos lúdicos. Além disso, a provisão de serviços financiados pelo Estado que visem a assistência a idosos é maciça, indo até à promoção de encontros intergeracionais, entre muitos outros.

Por isso, parece-me que não há que substituir o real pelo virtual, mas há que utilizar o virtual para melhorar a vida real. Não é necessário maldizer a sociedade e a realidade onde vivermos. Precisamos é de ter atitudes que incluam todos numa sociedade mais igualitária e humana.