Segundo um estudo realizado sobre as alterações climáticas e costeiras, a faixa do Algarve entre Quarteira e Vale do Lobo terá em 2025 um nível de 2,7 metros de inundação e de sete metros de espraio.
Ainda assim, de acordo com o projeto CHANGE – Mudanças Climáticas, Costeiras e Sociais – Erosões “Glocais”, Concepções de Risco e Soluções Sustentáveis em Portugal, coordenado por Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, esta zona, das três estudadas do país, será a “menos atingida” pelo avanço do mar em tempestades.
No entanto, “apesar da erosão ser menor e dos mapas de suscetibilidade serem menos graves, é aí [em Quarteira – Vale do Lobo] que a subida do nível médio do mar é um fator mais importante”, disse a coordenadora do projeto.
A iniciativa, ontem apresentada, teve como objetivo estudar os problemas de natureza social e ambiental na linha de costa portuguesa, contou com a colaboração do especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos e incidiu sobre as zonas Barra-Vagueira, Costa da Caparica-Fonte da Telha e Quarteira-Vale do Lobo, situadas em pontos diferentes do litoral, mas com características comuns.
Apresentam vulnerabilidade social, porque muito populosas e construídas, e ambiental, porque expostas a processos de erosão continuados, exponenciados pelas alterações climáticas, como a subida do nível do mar e a mudança da direção das ondas.
Nos últimos anos, “houve enormes recuos de praia” nestas zonas, o que “é muito importante porque a erosão é um fenómeno antigo e as alterações climáticas, de certo modo, são um processo novo e futuro”, alertou Luísa Schmidt.
A investigadora Luísa Schmidt afirmou que, em 2025, o avanço do mar em tempestades pode ultrapassar 11 metros na Barra-Vagueira (Aveiro) e 13 metros na Costa da Caparica, sendo as alterações climáticas responsáveis por 15% do problema. “Temos suscetibilidade elevada sobretudo na zona da Barra Vagueira” e, num cenário pessimista, para 2025, há “uma quota máxima de espraio [expansão das águas] de 11,6 metros, que é imenso, e uma quota de inundação 2,5 metros, [estão] previstos galgamentos”, com o mar a ultrapassar as proteções, disse a especialista à agência Lusa.
Na Costa da Caparica, “temos um nível de inundação de 2,5 metros, em 2025, e um nível de espraio de 13,7 metros”, acrescentou.
Realçou que as alterações climáticas “correspondem a apenas 15% deste problema porque a erosão é um fenómeno muito mais constante”, enquanto a mudança no clima pode ser repentina ou resultante de fenómenos extremos.
As alternativas para enfrentar a situação, para a especialista, são proteger, através de enchimento ou pontões, acomodar, através de regulação restritiva, alterações do uso do solo e não permissão de mais construção, ou retirar (as construções existentes) de forma planeada.
As análises custo-benefício cabem aos governantes para ser encontrada a solução mais conveniente. “Com certeza, vai ter de haver mudanças porque o que foi feito [nestas zonas] não está a resultar”, defendeu.
O problema afeta toda a sociedade portuguesa e a investigadora realçou que, no que respeita aos custos inerentes, “todos os portugueses vão ter de pagar a manutenção do litoral”.
Sublinhou ainda que o contexto institucional “é absurdo e intrincado porque são mais de 80 entidades com competência na gestão da orla costeira, além dos municípios”.
Para a coordenadora do CHANGE, “é preciso mudar a forma de governança destes lugares”, mas não se pode deixar de ter em conta a “vulnerabilidade económica relacionada com a crise” que afeta o país, colocando-se a questão de saber se é possível continuar a manter o litoral e continuar a investir em esporões ou enchimentos de areia.
com Lusa