A família síria de refugiados acolhida pela paróquia de Nossa Senhora do Amparo, em Portimão, a 23 de setembro de 2016 deixou subitamente a comunidade nove meses depois sem se despedir ou apresentar qualquer explicação.
A ocorrência surpreendeu em junho de 2017 os próprios sacerdotes jesuítas, responsáveis pela paróquia de Portimão, que acolheram o agregado oriundo de Aleppo, composto por pai de 30 anos de idade, mãe de 22 e duas crianças: um menino de um ano e uma menina de quatro meses.
“Não se despediram, não deixaram nenhuma nota e não sabemos para onde foram”, confirmou ao Folha do Domingo o padre Nuno Tovar de Lemos, um dos párocos daquela paróquia, acrescentando que também “nunca mais postaram na página de Facebook que usavam”.
O padre Domingos da Costa, também sacerdote da comunidade jesuíta no Algarve, foi a primeira voz da Igreja Católica algarvia, e uma das primeiras a nível nacional, a manifestar, em julho de 2015, vontade de acolher refugiados. O pároco da paróquia da Mexilhoeira Grande, que na altura era também prior de Nossa Senhora do Amparo, diz que se foi posteriormente apercebendo das “dificuldades” dos seus colegas no acolhimento à família síria que “não mostrou grande interesse em aprender o português”.
“Provavelmente tinham esta ideia na cabeça já há muito tempo. Isso justificaria o pouco interesse na aprendizagem do português e em encontrar trabalho”, admite o padre Nuno Tovar de Lemos acerca daquela família enviada para Portugal através da Plataforma de Apoio aos Refugiados, cuja mãe tinha familiares acolhidos na Alemanha.
“Quando me dispus a receber famílias, parti do princípio de que as pessoas vinham mesmo para se integrar o mais depressa possível na comunidade de acolhimento. Ora a melhor integração faz-se através do trabalho, para os adultos, e da escola, para os filhos. Eu não imaginava que as famílias recebessem um subsídio, por dois anos, o que é um convite a não se integrarem”, acrescenta o padre Domingos da Costa, contando ter aceitado “receber gratuitamente” no infantário da paróquia o filho da família acolhida, mas “a criança só apareceu no primeiro dia”.
O pároco da Mexilhoeira Grande diz que, por conselho dos seus colegas de Portimão, deixou cair por terra a intenção de receber refugiados. A paróquia colocou, entretanto, à venda três apartamentos que tinha destinados para o acolhimento daquelas pessoas e informou os paroquianos que doaram utensílios para as habitações que os poderiam reaver. O sacerdote explicou serem imóveis que foram construídos nos anos 80 do século passado para “para receber gratuitamente educadoras de infância que se quisessem fixar na paróquia” e que chegaram a ser habitados por famílias emigrantes de moldavos e ucranianos.
Não obstante, a experiência não ter corrido como esperado, o padre Nuno Tovar de Lemos congratula-se com a resposta da paróquia de Nossa Senhora do Amparo à família acolhida. “Fizemos a nossa parte o melhor que conseguimos. Mas nem sempre foi fácil. Tivemos bastante dificuldade em entender alguns dos seus comportamentos. As diferenças culturais tornaram mais difícil percebermos o que queriam e como nós os podíamos ajudar. Quem está mesmo de parabéns são os paroquianos de Nossa Senhora do Amparo pelo modo como receberam esta família síria. Que Deus os proteja, onde estiverem!”, acrescenta.