A solenidade de São Vicente que a Igreja celebrou ontem foi vivida em todo o Algarve por se tratar do padroeiro da diocese e, de maneira particular, em Vila do Bispo por ser também o patrono daquele município.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo do Algarve voltou a presidir à Eucaristia na igreja matriz de Vila do Bispo e à procissão que se lhe seguiu durante a tarde pelas principais ruas daquela localidade. A celebração ficou marcada pelo desafio de D. Manuel Quintas a que se retome as peregrinações ao Cabo de São Vicente.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Gostaríamos, como diocese – e sei que também há essa intenção do município – de tornar mais viva esta presença de São Vicente nestas terras algarvias”, começou por afirmar, explicando que trata de “motivar e mobilizar ainda mais toda a Diocese do Algarve e não só, avivando as peregrinações que aconteceram quando os seus restos mortais foram trazidos” pelo sul da Península Ibérica para aquela zona do Algarve.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele responsável católico fez questão de deixar claro que a decisão cabe à população. “Vós é que sois decisores nisto. Decisores no sentido de promover. Nós podemos abrir caminho, mas depois o povo de Deus é que consolida esta opção”, referiu, interrogando: “porque não retomarmos, com este sentido espiritual, estas peregrinações aqui ao cabo de São Vicente? Porque não retomarmos numa altura em que há tanta gente – e muito bem – a fazer caminhadas que fazem bem à saúde? Precisamos todos de parar para pensar, interiorizar, para deixar que o ambiente nos apazigue, crie equilíbrio e harmonia na nossa vida. Porque não unirmo-nos neste propósito que será certamente benéfico em todos os sentidos?”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Quintas defendeu ainda que só a fé possibilita que alguém falecido há 1.700 anos seja ainda venerado nos dias de hoje. “Estranhamos como é que é possível alguém ter falecido há tanto tempo e estamos aqui hoje a invocar este seu martírio como se fosse próximo de nós, quase como se fosse nosso contemporâneo. Só a fé permite fazer isso, só a sucessão do testemunho que passa através das gerações e transforma aquilo que aconteceu há 1.700 anos para os dias de hoje como se fôssemos contemporâneos de São Vicente”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Quando nos reunimos em Eucaristia, para celebrar também aqueles que nos precederam na fé, tornamos presente o seu testemunho de fé, quase como se fôssemos contemporâneos, tão forte é para nós esse testemunho de fé, sobretudo dos mártires, aqueles que deram a vida e derramaram o seu sangue por causa desta fé, por causa de Cristo e do Evangelho”, prosseguiu, garantindo que “foram essas as motivações que Jesus encontrou para chamar os doze”. “Chamou-os para estarem com Ele e para os enviar a anunciar esta mensagem nova que Cristo constituiu e continua a constituir para todos aqueles que o acolhem na sua vida. Foi essa a razão profunda que motivou e que deu força aos mártires para considerarem mais importante esse testemunho do que continuarem a viver”, sustentou.

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O bispo do Algarve lembrou que “Jesus não prometeu uma vida fácil àqueles que se decidiram e continuam a decidir ser seus discípulos”. “Seguir Cristo significa viver para os outros e não só viver com os outros e muito menos viver contra os outros. E os mártires dão-nos esse testemunho de entrega e doação da sua própria vida. E se, no momento em que foram confrontados decidiram continuar a viver ou não é porque já viviam a vida como dom para os outros”, afirmou, lembrando que São Vicente era diácono, o que “quer dizer que era servidor”. “O ícone inspirador do serviço de um diácono na Igreja é Jesus servo, Jesus que lava os pés. O diácono é aquele que serve”, completou, explicando que os diáconos “foram instituídos pelos apóstolos e não por Jesus”. “A nossa vida, quanto mais for vivida como dom para os outros, mais gosto encontramos nela. Torna-nos mais felizes”, frisou.

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D. Manuel Quintas sublinhou que, mais do que “invocar a sua proteção”, celebrar São Vicente “é também, hoje, acolher o seu testemunho de fé, de serviço aos outros, de integração na própria comunidade”. “Celebrando esta festa, estamos a avivar em nós o seu testemunho e estamos também a dizer que temos de deixar este testemunho àqueles que vêm depois de nós”, completou.

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“Neste dia estamos também particularmente unidos ao Patriarcado de Lisboa porque São Vicente também é o patrono do patriarcado”, disse ainda o bispo diocesano, lembrando que este este ano se assinalam os 850 anos da trasladação dos seus restos mortais para Lisboa (1173), a mando de D. Afonso Henriques. “São Vicente é uma referência como diácono para toda a Igreja, juntamente com Santo Estêvão em Jerusalém e São Lourenço em Roma. São três diáconos de Igrejas diferentes, mas quase contemporâneos nos primeiros séculos”, destacou.

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Para além do pároco de Vila do Bispo e Sagres, a Eucaristia foi concelebrada pelos párocos das paróquias vizinhas e contou com a participação de cinco dos nove diáconos da diocese algarvia que fizeram naquela celebração a renovação das suas promessas. O bispo diocesano lembrou ainda que o diácono Albino Martins completava naquele dia o seu 11º aniversário de ordenação.

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D. Manuel Quintas agradeceu ainda à Câmara Municipal por ter disponibilizado um autocarro para transportar pessoas de diversos sítios do concelho.

Depois da Missa e da procissão decorreu a cerimónia de assinatura de um protocolo e o acordo específico de colaboração entre a diocese, a paróquia e o município com vista à conservação, investigação e valorização do património cultural religioso do concelho e ao empréstimo de objetos arqueológicos do acervo da igreja matriz para exposição no Museu Municipal.