No Algarve é uma das pessoas que participou em mais daqueles encontros da juventude com o Papa

Embora só se tenha deixado seduzir pelo insistente convite a participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) aos 23 anos, desde que participou na edição de Colónia em 2005, no seu país natal, não perdeu mais nenhuma. Em Lisboa será a sétima participação consecutiva.
Nascido há 41 anos na então República Federal da Alemanha, onde os pais trabalhavam e se conheceram, foi com sete anos que veio para o Algarve com os progenitores residir no concelho de Albufeira, na freguesia de Ferreiras, terra natal da mãe.
Teve oportunidade de participar nas JMJ de Paris (1997) e de Roma (2000), mas ficou sempre reticente à proposta do pároco. Em 2002, já com 20 anos, apesar de convencido pelos outros dois elementos a integrar o pequeno contingente algarvio a Toronto (Canadá) para a edição que seria a última com o fundador daqueles encontros, João Paulo II, acabou por também não ir porque o ainda recente ataque terrorista às torres gémeas de World Trade Center impunha mundialmente o medo de andar de avião.


Quando chegou o ano de 2005, o argumento do pároco ao manifestar o gosto que teria que o seu recém-crismado grupo de jovens participasse no encontro com o novo Papa Bento XVI foi determinante. As novas instalações da paróquia, criada em 2000, que concorreram para a organização dos jovens e para a consolidação do seu espírito de comunidade, foram igualmente importantes. “Entre 2005 e 2013 éramos um grupo muito forte. Dizíamos que a nossa JMJ começava no dia em que acabava a anterior. Começávamos logo os preparativos, a angariação de fundos”, conta Filipe Rossa ao Folha do Domingo, sublinhando que a JMJ é o “longo caminho” percorrido até à semana em que conseguem concretizar o objetivo de estar todos juntos com o Papa.
Em Colónia, a perceção do que perdera nas edições anteriores motivou-o a arrancar com a presença ininterrupta que mantém até hoje. O facto de ter sido convidado em 2008, depois da participação em Sidney (Austrália), a integrar a equipa do Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, a que ainda pertence, ajudou a conservar esse intento, uma vez que aquele serviço organiza e acompanha a participação dos jovens algarvios em cada edição do encontro mundial.


Das seis jornadas em que participou, a da Austrália foi a única em que não foi como peregrino. Filipe Rossa foi escolhido a nível nacional, juntamente com outro jovem do Algarve, para integrar a equipa litúrgica que colaborou diretamente nas celebrações com o Papa Bento XVI. Para além de ter transportado a bandeira nacional na Missa de abertura, teve ainda uma participação direta na vigília de sábado à noite que o levou a estar muito perto do Papa. “Foi interessante e gratificante”, considera.



A última JMJ, realizada no Panamá (2019), também lhe proporcionou uma participação diferente das restantes. Dessa vez foi acolhido por uma família, tendo ali ficado com mais dois rapazes de Paderne, dois de Silves e um diácono de Aveiro. “Tínhamos roupa lavada todos os dias. Davam-nos muita atenção. Estavam sempre dispostos a tudo. Levavam-nos a todos sítios”, lembra, explicando que, embora já fosse casado, ficou separado da mulher, acolhida noutra família.
Aliás, as diferentes condições de estado civil é outra caraterística da participação nas JMJ de Filipe Rossa que refere que aqueles encontros também fazem parte da história da sua relação com a mulher. Nas de Colónia, Sidney, Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013) e Cracóvia (2016) participou na condição de solteiro, embora nesta última já namorasse com Carolina Rossa. Na do Panamá já tinha casado e na de Lisboa participará já como pai, acompanhado não só pela esposa, mas pela própria filha, de três anos, de ambos. Filipe Rossa conta que a pequena peregrina está “empolgada” e confessa que a sua primeira participação, logo no país natal, servirá para lhe “pôr o bichinho” para que, daqui a uns tempos, já tenha mais participações do que o pai.





Filipe Rossa considera que “todas as jornadas são diferentes”, mas todas constituem “uma lufada de ar fresco” para quem nelas participa. “Vens de lá com o coração um bocadinho mais cheio, mais alegre”, garante, constatando que a experiência de universalidade da Igreja traz importantes lições como a da presença de jovens que arriscam a vida, não só para ir àqueles encontros, como para participar na Eucaristia no seu país. “Houve uma jornada em que houve seis [participantes] que tinham desertado e que corriam o risco de serem executados quando voltassem para o país deles”, lembra.
Aquele membro do Comité Organizador Diocesano do Algarve da JMJ de Lisboa destaca ainda a dimensão universal presente numa multidão abraçada, não obstante as suas diferentes cores da pele e condições económicas e sociais, “a representar o povo de Deus” e reunida com o Papa para mostrar que, passados 2000 anos, viver o amor ainda é algo que continua a marcar a sua vida.
Filipe Rossa testemunha que a participação nas JMJ ajuda “bastante” a manter rejuvenescida a sua fé e a conservar “uma Igreja jovem, alegre”.
Sobre a iniciativa em Portugal, diz que “já vem um bocado tarde”, mas acredita que “vai superar as espectativas” porque “os portugueses sabem acolher bem”. “Acho que os portugueses não sabem o que os espera. Não têm consciência. Não temos muitos inscritos, mas a JMJ faz-se também das pessoas que se juntam porque veem aquela alegria contagiante e querem também beber um bocadinho daquilo. No Brasil foi assim, no Panamá também. Há países mais fechados onde não acontece. Em Colónia e em Sidney notou-se isso. Em Espanha também, devido aos protestos que houve, e na Polónia também”, acrescentou, lembrando que, de todas as que já viveu, a do Brasil foi a de maior participação. “Fala-se em 3 milhões, 3,5 milhões, mas depois de ver as imagens com a praia de Copacabana e a avenida lateral completamente lotadas aposto que estiveram lá 4 milhões de pessoas”, calcula.
Aos jovens que irão participar pela primeira vez numa JMJ aconselha a irem “à procura”, “sem expectativas” para não saírem goradas e a “aproveitar todos os momentos”.
Questionado se tenciona continuar a participar nas JMJ – uma vez que o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé), que organiza aqueles acontecimentos, permite a participação a maiores de 30 anos – Filipe Rossa responde em tom de brincadeira que, se acontecer no Japão, sentir-se-á “tentado a ir”. Mais a sério refere que enquanto fizer parte do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil participará, mas que irá pensar porque, “à partida, esta será a última”. No entanto, acrescenta que se um dia a filha quiser prosseguir o legado, talvez ainda participe numa edição de acompanhamento para assinalar a passagem de testemunho.