
A segunda parte da ação de formação que a Diocese do Algarve levou a cabo no passado dia 11 deste mês para a constituição de agentes da pastoral familiar nas paróquias algarvias abordou o tema do “sofrimento, morte e luto na família”.
Filomena Calão começou por referir como, no seu caso, a “ambiência familiar foi determinante” para a forma como se posiciona face ao tema e como a consequência dessa ambiência foi ter “descoberto o tesouro da fé cristã católica”. “Não há dor no cristão quando morre alguém? É evidente que sim e de que maneira, mas o facto de ser cristã faz com que eu viva a morte de maneira diferente”, frisou.

No âmbito da “ambiência familiar determinante” referiu-se a dois aspetos que considerou “muito importantes”: “por um lado, a aquisição indispensável de noções claras sobre as matérias da fé, aquilo que vulgarmente chamamos formação doutrinal” e por outro, “a dimensão espiritual que é imprescindível juntar à formação doutrinal ou mesmo teológica e que só a oração pessoal e comunitária traz”.
Referindo-se às “implicações para viver a morte e fazer o luto”, a oradora testemunhou ter descoberto o “tesouro da fé que está contido no Credo”. “No Credo dizemos, de facto, crer que a vida não fica na morte. A vida é para ser vivida plenamente na vida eterna”, lembrou, destacando a importância do Espírito Santo. “Podemos dizer com rigor que sem o Espírito Santo um morto é apenas um cadáver. Obviamente que também é, mas sem o Senhor que dá a vida não deixa nunca de ser cadáver. Podemos concluir que a vida eterna, que «nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração do homem pressentiu», é o que Deus preparou para aqueles que o amam. E isto é assegurado pelo Espírito Santo. Portanto sem Ele, sem o Senhor que dá a vida, a vida eterna pura e simplesmente não existe. A vida eterna só é possível pelo Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que assim como ressuscitou Jesus dos mortos, ressuscitará a todos os que com Jesus morrem”, afirmou.

Filomena Calão, que abordou exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia no que esta refere em relação ao tema da morte, explicou o que a susteve nos momentos difíceis da vida. “A comunhão dos santos foi, literalmente, a minha âncora. Ela é o «chão» que nos sustem, nomeadamente quando a morte crava o seu aguilhão”, destacou.
Num testemunho emocionado, recordou, para além da morte dos pais e do irmão (mais novo), a do filho (há 20 anos num grave acidente ferroviário) e do marido (há 11 anos, vítima de doença súbita). “Uma maneira de comunicarmos com os seres queridos que morreram é rezar por eles, afirma o papa e é bem verdade. Muitas vezes senti o abraço terno de Jesus, o acolhimento de sua mãe, a festa da receção. Mas, mesmo que estas consoladoras imagens interiores não me tivessem sido dadas, a fé não engana e a certeza de que o meu filho não ficava na morte eu sempre tive, porque a nossa fé o diz. Esta certeza tornou a ser o meu sustentáculo quando o meu marido adoeceu gravemente e em cerca de três meses faleceu. Tenho a certeza de que também o meu marido foi assumido pela comunhão dos santos”, afirmou.

A conferencista destacou assim que “o sofrimento não tem a última palavra”. “A felicidade que Deus nos dá é que é a nossa meta. E é gratuita. É dada a quem a quer receber. É dada de graça. Basta corresponder ao seu amor que é completamente inaudito. Por outro lado, é muito importante injetarmos na nossa vida de todos os dias esta tensão escatológica própria da fé cristã porque pensar e considerar a eternidade dá sentido à vida quotidiana. Não é um assunto só para o final da vida. É já, aqui e agora que é preciso viver desta esperança que não engana”, sustentou.
A oradora evidenciou assim que “as águas caudalosas do sofrimento e da morte não podem abafar o amor”. “Se aceitarmos a morte, podemos preparar-nos para ela. O caminho é crescer no amor para com aqueles que caminham connosco até ao dia em que não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Deste modo, preparar-nos-emos também para reencontrar os nossos entes queridos que morreram”, prosseguiu.
Na ação de formação exortou-se ainda à “arte do acompanhamento”. “As famílias são confrontadas com situações difíceis que nós, enquanto Igreja, somos chamados a acompanhar. A arte do acompanhamento é fazer a partilha afetuosa das alegrias, esperanças dores e angústias de cada família”, destacou o casal Catarina e Nuno Fortes, da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, que orientou a iniciativa, cuja última parte teve lugar no passado dia 11 deste mês nos anexos da igreja de São pedro do Mar, em Quarteira.