A Diocese do Algarve promoveu ontem a celebração do Jubileu das Pessoas com Deficiência no contexto do Ano Santo da Misericórdia (dezembro de 2015 a novembro de 2016) que se está a viver, proclamado pelo papa Francisco.
A iniciativa, que teve lugar na paróquia das Ferreiras (concelho de Albufeira) presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, contou com a presença de cerca de 100 participantes oriundos de instituições como APPDA – Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo do Algarve, a APPC – Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, a Fundação Irene Rolo, a ACASO – Associação Cultural e de Apoio Social de Olhão, a Casa da Paz e o Lar de São Vicente, ambas da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, mas também das paróquias de Ferreiras, Fuseta e Sé de Faro. Entre os presentes, para além das pessoas com deficiência, contaram-se também familiares, psicólogos e outros técnicos no encontro promovido através do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD) da Igreja Católica algarvia.
No encontro, – que surgiu na sequência de duas Jornadas Diocesanas da Pastoral da Deficiência já realizadas em anos anteriores e que teve como objetivo “quebrar correntes para unir corações” como explicou Cesariano Martins, coordenador do Serviço Diocesano Pastoral a Pessoas com Deficiência (SDPPD) –, o bispo do Algarve e a responsável nacional pelo SPPD exortaram à integração daquelas pessoas nas comunidades paroquiais.
O assistente do SDPPD apresentou uma reflexão sobre o tema “Acolhidos no coração de Deus”, lembrando aos presentes que todos os seres humanos são “acolhidos no «coração» de Deus.
Após a atuação de uma banda da APPDA, composta há cerca de dois anos por três jovens autistas e por dois pais, seguiu-se uma mesa redonda com a intervenção de diversos intervenientes sobre as questões da indiferença, acessibilidade e da inclusão.
Manuel Nunes, cego congénito, testemunhou a sua caminhada na Igreja Católica, através do Movimento dos Convívios Fraternos, do Secretariado da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve e dos CPM – Centros de Preparação para o Matrimónio, e o exercício do ministério de leitor que tem desempenhado em diversas paróquias por onde tem passado. Nunes, que lembrou as dificuldades no aparecimento do Novo Testamento em braille e no transporte dos seus vários volumes, destacou a “facilitação” trazida pela informática. A propósito da questão da integração, destacou a importância de se contrariar o isolamento. “Só é possível mudar a mentalidade das pessoas se nós aparecermos. Temos de aparecer e dar a cara”, defendeu.
Tendo testemunhado os preconceitos e as discriminações de que tem sido alvo, Natércia Nascimento – portadora de uma deficiência congénita nos membros superiores e inferiores, conhecida como síndrome de focomelia, associada a uma medicação que era dada às gravidas nos anos 60 –, sublinhou a sua experiência, não só como mãe de família, mas também como catequista na paróquia da Sé de Faro, onde diz ter sido “muito bem acolhida”, não obstante a admiração inicial de algumas pessoas pela proposta do pároco. “Nós não somos diferentes. Olhem-nos como somos”, pediu, acrescentando que em relação às acessibilidades as igrejas “têm muito que mudar”. Neste sentido, apelou também à criação de um espaço próprio, reservado às pessoas com deficiência.
O testemunho de Manuela Sardo, dirigente do Corpo Nacional de Escutas, complementado com a visualização emocionada de um vídeo sobre a integração de uma menina surda-muda no Agrupamento 1324 da Sé de Faro, destacou o enriquecimento para o próprio grupo de escuteiros no acolhimento daquele novo elemento, não obstante a apreensão inicial ao saberem que iam receber uma criança com necessidades especiais. “Foi uma bênção muito grande a Margarida ter entrado no nosso agrupamento”, considerou, testemunhando que os membros do agrupamento têm apreendido língua gestual.
O encontro, em que se destacou a importância da participação das pessoas com deficiência na celebração de acolhimento à imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima em Faro, teve continuidade à tarde com a “Festa da Alegria”, composta pelas atuações das várias instituições presentes, e conclui-se com a celebração da eucaristia presidida pelo bispo do Algarve.