O padre António de Freitas alertou na Jornada de Pastoral Litúrgica, que a Diocese do Algarve promoveu ontem de manhã, para o “desafio antropológico” de explicar a liturgia aos jovens como “encontro com Cristo” por ser exatamente isso.

No encontro sobre o tema “Celebrar a fé com os jovens” — promovido pelo Departamento da Pastoral Litúrgica da Diocese do Algarve que teve lugar no Centro Pastoral e na igreja matriz de Pêra com a participação de cerca de 60 agentes litúrgicos de diversas paróquias do Algarve — o vigário episcopal para a pastoral da diocese algarvia disse que “muitas vezes, a liturgia tem a dificuldade de ser vivida e compreendida” entre a juventude porque não é proposta nem explicada daquela forma. “Nunca descuidemos os desafios antropológicos, ou seja, aquilo que é a vida concreta, a identidade do jovem. Aproveitemos isso porque é a partir daí que se conseguirá fazer com eles caminho de fé e caminho de compreensão do que celebramos na liturgia”, alertou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Como Igreja temos o desafio de ajudar os jovens a compreender que celebrar a fé é encontrar-se com alguém, com uma pessoa viva que nos ama, nos conhece e quer salvar, que nos valoriza e nos busca sem se cansar; que celebrar a fé é exprimir, pelo que se escuta, pelo que se canta, pelos gestos, pelas respostas, a esse alguém a nossa gratidão pelo seu amor, a nossa necessidade do seu amor e que queremos crescer também em amor a essa pessoa. A liturgia ou se torna para um jovem cristão lugar e tempo de amizade com Cristo ou, mais cedo ou mais tarde, será um tempo vazio sem sentido”, prosseguiu.

O sacerdote considerou que “a liturgia tem tudo o que um jovem gosta”. “Falamos e escutamos, cantamos e fazemos silêncio, rezamos juntos e em particular, exprimimos os nossos sentimentos com a alma e com o corpo, temos momentos felizes e mais expontâneos e momentos de maior recolhimento”, concretizou.

Acrescentando que “isto precisa de ser descoberto”, apelou a um caminho “de purificação da compreensão daquilo que são as celebrações da fé”. “Que os momentos das celebrações da fé não sejam teóricos, mas que aqueles que vão crescendo percebam que a liturgia é algo que transforma a vida”, desejou, alertando ainda que “não basta dar uma simples tarefa dentro da liturgia para animar o jovem”, sem que este seja ajudado a compreender o que celebra e a ligar o que celebra à sua vida”. “A liturgia tem de ser um lugar, por excelência, de respostas”, afirmou.

Nesse sentido, o formador lembrou que “cada jovem é um buscador” e que a missão daqueles que os acompanham “não é amordaçar as perguntas”, mas dar-lhes respostas. “Este é um desafio antropológico para a vivência da liturgia”, considerou. “Deixar um jovem sem resposta é o mesmo que dizer: «não sabemos porque fazemos estas coisas»”, alertou, explicando que a resposta pode não ser “total” e que deixe espaço a outras perguntas. “Até podemos ir mais além e promover diálogos sobre o que procuram eles e o que sentem nas celebrações, o que lhes faz sentido e aquilo que não compreendem”, acrescentou, pedindo “que se dediquem catequeses, encontros de grupos de jovens ou momentos com o pároco ou sem ele em que se ajude a compreender” o que é celebrado.

O padre António de Freitas disse ser “importante acolher”, mas “sobretudo que os jovens se sintam parte da comunidade” porque “pela graça batismal” são seus “membros ativos, participantes e construtores”. “Eles pertencem à comunidade e a comunidade pertence-lhes e, na liturgia, isso deve ser vivido. Este acolhimento e pertença têm de ser concretizados também de modo real nas outras dimensões da vida comunitária”, sustentou, referindo-se concretamente ao âmbito da pastoral profética e da pastoral caritativa, mas também à participação nos organismos de decisão, de discernimento e de programação pastoral como os conselhos pastorais e os conselhos económicos. “Só quando os incluirmos em tudo e dermos o devido lugar que lhes pertence é que eles perceberão o que é isto de ser pertença de uma comunidade que não pode prescindir da Eucaristia”, advertiu, repetindo que se trata não só de lhes dar tarefas, mas de “confiar-lhes a responsabilidade comunitária”.