O padre António de Freitas advertiu na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve promoveu no sábado no Centro Pastoral de Pêra que os ministérios instituídos não podem cingir-se à dimensão litúrgica.

O sacerdote da diocese algarvia, que foi um dos formadores do encontro promovido sobre o tema “Os ministérios numa Igreja sinodal”, através do Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica, e que contou com cerca de 90 participantes, começou por lembrar que os ministérios laicais instituídos são atualmente três: leitor, acólito e catequista.

“Temos de perceber cada um dos ministérios com esta tripla dimensão: profética, litúrgica e caritativa”, afirmou o formador, que se referiu aos “ministérios laicais para além da liturgia e da própria Igreja”, explicando que “o leitor não exerce o seu ministério quando se limita a ler a palavra de Deus numa celebração”. “Antes, o exercício do ministério que lhe foi confiado completa-se quando a esta dimensão acrescenta a necessidade de ensinar e propor a palavra de Deus num grupo bíblico, de aprofundamento da fé, de lectio divina, ou mesmo de animar uma celebração da palavra a idosos num lar que não podem participar na Eucaristia, de levar a palavra de Deus a pessoas que estão sós ou fazer um anúncio num estabelecimento prisional”, exemplificou.

Por outro lado, acrescentou que “o exercício do ministério do acólito não se confina à liturgia quando pode preparar outros irmãos catequizandos para receberem os sacramentos ou levar a comunhão a doentes, a idosos ou a presos”. “E o mesmo se repercute para o ministério instituído do catequista que não se confina à dimensão profética do anúncio e da proposta da fé, mas que deve exercitar o ministério integrando as outras duas dimensões”, completou.

“Não podemos continuar a ter ministérios que apenas servem para aparato litúrgico”, afirmou, acrescentando que os ministros “ao serem instituídos também assumem dimensão evangelizadora”.

O formador começou por lembrar que os atuais ministérios instituídos “dizem respeito aos leigos enquanto batizados e membros do Corpo de Cristo que é a Igreja”. “Fica claro que a dimensão ministerial e a diaconia da Igreja não se esgotam nos ministérios ordenados, nem nos ministérios atribuídos àqueles que estão a caminho de receber o sacramento da Ordem”, realçou, ressalvando que “isso não significa que todos os membros sejam aptos para receber e servir mediante os ministérios laicais instituídos” porque “implica requisitos e condições”. “A maturidade na fé, o modo como vive, o empenho na comunidade ou a estabilidade de vida” foram alguns dos que enumerou.

Sublinhando que “os ministérios estão sempre em função de ajudar a que a Igreja vá praticando a sua ministralidade, a sua função de servir o Evangelho, Cristo, o Reino, a humanidade”, explicou que eles “têm como finalidade uma melhor organização da vida eclesial para o bem comum de todos”.

O sacerdote, que discorreu sobre o tema “Os ministérios laicais para uma Igreja ministerial”, fez questão de acrescentar àquele a dimensão sinodal. “Acrescentei a dimensão sinodal da Igreja para a qual devem igualmente orientar-se e estar ao serviço os vários ministérios laicais, evitando quaisquer tipo de compartimentações, divisões, rivalidades ou isolamentos, mas antes trabalhando em tudo e cada ministério no que lhe compete para unidade e comunhão da vida da Igreja”, explicou, advertindo: “é importante percebermos que os ministérios ou trabalham todos para a comunhão e unidade da Igreja ou então fazemos precisamente o contrário daquilo que nos compete”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No âmbito desta dimensão sinodal, defendeu que todos os membros da comunidade participar na escolha dos instituídos. “Deve ser algo que envolve a comunidade cristã tanto quanto possível”, considerou, acrescentando que “o pressuposto deverá ser sempre as reais necessidades da comunidade cristã e não uma questão de reivindicação sejam por que razões forem”. “O ministério recebe-se como dom e não como exigência”, alertou, considerando “importante que a dimensão sinodal esteja bem presente no chamamento, discernimento e acompanhamento dos percursos vocacionais dos que são chamados a receber ministérios instituídos”.

Neste sentido, destacou que as “características fundamentais” do ministério instituído é ser “vocacional, laical, necessário, eclesial, estável”. Por isso, lembrou que “cada ministério brota de uma vocação que é dom e graça do Espírito Santo”, advertindo quede-se embora deva ser “estável”, “não quer dizer que seja para sempre”. “Não é alguém que se auto-propõe, nem para quem se olha de modo utilitário”, alertou, acrescentando também que “nunca se deve requerer ministérios laicais só porque faltam vocações ao ministério ordenado”. “Eles devem fazer parte constitutiva da riqueza ministerial da própria Igreja”, sustentou, defendendo que “deve haver uma permanente pastoral vocacional em relação ao diaconado permanente e aos ministérios”.

O padre António de Freitas referiu ainda que “os ministérios devem ser sempre um reforço e um instrumento complementar para que seja sempre mais clara a capacidade” de a Igreja “exprimir a sua configuração espiritual, prática e pastoral com Cristo, servo e servidor, com um Cristo que veio para servir e dar da vida, com um Cristo que não veio para se servir, mas para servir”.

Neste sentido, considerou os ministérios como “meio para conduzir todos à unidade eclesial, à adesão a Jesus Cristo e ao testemunho esclarecido quotidiano mediante a profissão de uma só fé” e realçou que “aqueles que são chamados aos ministérios também têm de ter sempre esta noção de que ao assumirem o ministério outra coisa não fazem senão dar expressão com a sua vida à Igreja servidora dos mistérios de Deus”. “Importa, sobretudo, que se veja Cristo, servidor, através da sua Igreja-serva, que revestida de caridade, se aproxima de todos, mediante vários serviços e meios. O que importa não é que se repare tanto na pessoa que o exerce, mas que se veja, sobretudo, Cristo que vem ao meu encontro”, clarificou.

A edição deste ano da Jornada de Pastoral Litúrgica da Diocese do Algarve contou ainda com as intervenções do cónego Mário de Sousa sobre o tema “Eu estou no meio de vós como quem serve” e do cónego Carlos de Aquino sobre a “espiritualidade litúrgica dos serviços e ministérios”, ambos sacerdotes da diocese algarvia. De tarde houve ainda duas formações, uma para leitores, cantores e acólitos orientada pelo cónego Carlos de Aquino e outra para catequistas orientada pelo padre Pedro Manuel, também presbítero da Igreja do Algarve.