“A aptidão simbólica é essencial para que os fiéis vivenciem a liturgia de forma plena. Ela enriquece a prática religiosa, une o visível ao invisível e facilita a comunicação entre o divino e o humano. Por isso, é fundamental cultivar e aprofundar essa capacidade por meio da catequese e da participação consciente nos ritos litúrgicos”. Este alerta foi deixado na reflexão do cónego Carlos de Aquino, apresentada na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve realizou este sábado no Centro Pastoral de Pêra com a participação de cerca de 80 inscritos. O sacerdote considerou mesmo que “a valorização dos símbolos constitui um grande desafio”.

Embora ausente por motivo de doença súbita, o liturgista da diocese algarvia fez chegar a sua preleção, sobre o tema “Atitudes, gestos e movimentos: a aptidão simbólica”, que foi lida. No texto, o sacerdote começou por explicar que “aptidão simbólica é a capacidade humana de atribuir significados a objetos, gestos, palavras e ações que transcendem sua dimensão puramente material ou prática”.

“Essa capacidade é fundamental na liturgia, pois ela se estrutura em grande parte por meio de símbolos que expressam e comunicam realidades espirituais profundas”, sustentou, lembrando ser “claramente significativo a importância que os símbolos assumem na nossa vida pessoal e relacional, na vida da Igreja, no contexto da celebração cristã” e que, “na liturgia, especialmente na tradição cristã, os símbolos são usados para mediar e expressar o mistério divino, que é invisível e transcendente”.

O cónego Carlos de Aquino acrescentou que “a aptidão simbólica torna possível comunicar verdades teológicas e valores espirituais de forma mais acessível e envolvente”. “Por meio dos símbolos, verdades complexas, como a encarnação ou a ressurreição, são traduzidas em formas compreensíveis e vivenciadas na prática por meio de sinais que fazem parte da realidade do cosmos que a nossa razão compreende”, desenvolveu.

O sacerdote alertou que “apesar da sua importância, os símbolos litúrgicos podem ser mal interpretados ou perder o seu significado em contextos onde há pouca formação catequética, onde os ritos se tornam excessivamente mecanizados ou formais e onde a própria cultura secular desvaloriza ou reduz o valor do símbolo”.

Por outro lado, o especialista em liturgia alertou para a “compreensão do próprio dinamismo celebrativo”, explicando que “a ação da celebração deve estar em harmonia com o Espírito Santo para libertação de subjetivismos, fruto de gostos individuais dominantes”. O sacerdote acrescentou que aquela “requer aplicação consistente” e “não se coaduna com a improvisação” e explicou que, na celebração cristã, “os sinais e os símbolos devem ser sempre autênticos para não ocultarem o mistério, que memorialmente se atualiza em cada celebração”. Disse ainda que “a autenticidade mede-se pela verdade, autenticidade e pela vivência interior”.

Detendo-se na distinção entre “sinais, ritos e símbolos”, o formador explicou que “os ritos são ação que, através de gestos, palavras e objetos, exprimem e de algum modo tornam ativo um significado partilhado por um grupo humano e onde pelo mesmo se exprime um comportamento socialmente útil”. “Pode-se definir o rito como uma ação simbólica, não utilitária ou instrumental constituída por gestos e palavras com uma estrutura pré-formada e institucionalizada de carácter tradicional que favorece a participação comum e a repetição”, detalhou.

O sacerdote referiu que “o sinal é uma realidade sensível que serve de ponte entre a coisa que significa e aqueles que a tornam presente e lhe dão significado”. “Os sinais tornam-se símbolo quando exprimindo outra realidade, realizam o que significam”, sustentou, acrescentando que os “símbolos maiores” são os sacramentos. Como “toda a liturgia é de ordem sacramental”, evidenciou que “os símbolos litúrgicos assumem significativo valor e são verdadeiramente simbólicos quando recebidos na fé, isto é, à luz da Palavra de Deus”.

Relativamente aos símbolos, acrescentou que a sua “primeira função” “decorre de um ato social”, pois visam “estabelecer relação, criar laços”. “O símbolo é um sinal sensível que oculta, revela e comunica o mistério”, acrescentou, lembrando que “a finalidade do símbolo é a de conduzir a uma participação ativa, plena, consciente e frutuosa”, “permitir a santificação de quem o realiza e saber exprimir por ele um ato de verdadeira glorificação de Deus”.

Como conclusão considerou que “a vivência da expressão simbólica na liturgia será sempre um enorme desafio para a catequese”. “É urgente educar para os sinais e símbolos”, defendeu.