
O padre Nelson Rodrigues clarificou na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve realizou no seu Centro Social e Pastoral, em Ferragudo, que as bênçãos realizadas no contexto da Igreja “não estão ligadas a superstição alguma”.
Na conferência (vídeo abaixo) sobre o tema “A Liturgia e a família: Bênçãos e outras celebrações”, em que rejeitou terminantemente “superstições e fórmulas mágicas ligadas à palavra de Deus e às coisas de Deus”, o sacerdote explicou que as bênçãos se referem ao “desejo da Igreja (e do próprio Deus) que aqueles que vivem possam, cada vez mais, ser imagem de Deus”. “Todas as bênçãos que existem na Igreja têm este objetivo: o objetivo de Deus de que nós nos tornemos bons”, assegurou.
Neste contexto, o orador acrescentou que “qualquer bênção só faz sentido se ela se orientar para uma vida nova” e que o pároco, “antes de conferir qualquer bênção na sua comunidade paroquial, deve instruí-la de uma forma catequética sobre o seu significado para evitar qualquer superstição ligada a esse ato litúrgico”.
Na jornada, subordinada ao tema “Liturgia e Família: Celebração e vida”, promovida pelo Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica e participada por cerca de 170 pessoas de todo o Algarve, o conferencista lamentou também que “muitas vezes” a “bênção de Deus” seja confundida com “êxito na vida”. “Até existe mesmo, no contexto da nossa Igreja Católica, quem afirme que nada de mal pode acontecer àqueles que amam a Deus e seguem os seus mandamentos. Existem grupos dentro da nossa Igreja, devidamente instituídos, que afirmam isto”, lamentou, advertindo que os católicos não podem enveredar por “aquela que é chamada a Doutrina da Retribuição”, segundo a qual “aquele que pratica o bem e anda na lei do Senhor tem uma vida boa e aquele sobre quem recai algum tipo de problema é porque se portou mal”. “Esta doutrina é contrária a fé católica”, alertou, considerando que o seu conceito “é precisamente o contrário daquilo que ensinou Jesus Cristo”.
O padre Nelson Rodrigues explicou, por isso, que “no dizer e no sentir da Igreja, bênção e êxito na vida não são parentes próximos”. “Não podem ser. Uma pessoa pode ser abençoada, ainda que tenha uma carga enorme sobre os seus ombros”, afirmou. “A bênção é mais entendida como o acompanhamento que Deus oferece ao ser humano para que, no meio das «tempestades» da vida, o nosso «barco», que é a vida de cada um de nós, possa chegar a «porto» seguro”, explicou, acrescentando: “a bênção, por isso, faz-nos acreditar que, apesar do caminho poder ser difícil, aquele que ama a Deus, que cumpre os seus mandamentos, quando for realizar algo terá sempre um final bom, nem que seja o final da vida eterna”.

O conferencista prosseguiu, explicando que a oração de bênção “é a resposta do homem aos dons de Deus”. “Foi Deus que tomou a iniciativa de nos abençoar e agora nós respondemos, dizendo bem de Deus e desejando Deus nos nossos corações”, afirmou, explicando haver a “bênção ascendente” que “parte da humanidade para Deus” e a “bênção descendente” em sentido contrário.
O sacerdote explicou que as bênçãos são sacramentais e não sacramentos e que “realizam a graça que se pede por causa da oração da Igreja”. “É a Igreja que tem esta graça de poder continuar a distribuir bênçãos e é pela sua oração que celebramos estes ritos”, sustentou, lembrando que os sacramentais devem orientar para a celebração dos sacramentos.
O formador lembrou ainda que a presidência às bênçãos não está apenas legitimada aos sacerdotes. “Pelo facto de, pelo batismo, todos nós sermos verdadeiramente sacerdotes, podemos, em determinadas condições e situações, sermos nós a presidir é um rito de bênção”, afirmou, considerando que “qualquer batizado poderá fazê-lo”.
O orador referiu-se ainda à importância da oração na família, lamentando que apenas 5% dos casais católicos rezem diariamente juntos e que só “talvez um por cento” das famílias católicas, casais e filhos, o façam. “Bastava colocarmos na nossa própria família um bocadinho da exigência que colocamos na vida dos padres e a nossa Igreja já mudava”, afirmou, considerando que “o ideal da oração familiar está longe de ser alcançado” e que “rezar em casal e em família desempenha um papel importante, sobretudo depois de se ter ultrapassado as expetativas inteiramente irrealistas que se tinha no início do casamento”.
O sacerdote, que se referiu às várias bênçãos existentes no Cerimonial das Bênçãos, publicado em Roma em 1984, procedeu à apresentação das bênçãos litúrgicas previstas pela Igreja para a família e para os seus membros, explicando quando estão previstas e para que serve cada uma delas.
Vídeo da conferência