Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Vasco Figueirinha explicou na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve realizou no seu Centro Social e Pastoral, em Ferragudo, que “qualquer que seja o canto a usar para a liturgia deve expressar a fé da comunidade orante”, “ilustrar o rito que acompanha”, “glorificar a Deus” e “santificar os participantes”.

Na conferência sobre o tema “A Música litúrgica nas Celebrações da Família”, o sacerdote alertou que o critério para a escolha dos cânticos não pode ser o “ser bonitinho, nem o ficar bem”.

Na jornada, subordinada ao tema “Liturgia e Família: Celebração e vida”, promovida pelo Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica e participada por cerca de 170 pessoas de todo o Algarve, o orador acrescentou mesmo que “todas as obras musicais devem estar em unidade perfeita com a celebração litúrgica e, por isso, há cânticos que “não podem entrar na liturgia porque contradizem o que é a liturgia”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O formador advertiu que a música litúrgica deve “ser expressão delicada da oração”. “Se a música não nos leva a rezar, o que é que está lá a fazer?”, questionou, lamentando que, às vezes, a música nas celebrações pareça “apenas um adorno”. “A música não é um adorno. A música faz parte da liturgia, está ao serviço da oração, é para nos ajudar a rezar”, sublinhou.

Neste contexto, o padre Vasco Figueirinha explicou que o canto litúrgico serve para fazer da celebração “momento de diálogo com o Senhor”. “Se o canto não nos abre para Deus, então o que estamos a fazer? Isto leva-nos a fazer um grande exame de consciência sobre o que andamos a cantar nas nossas comunidades”, considerou.

O sacerdote lembrou “a música é um sinal”, através do qual “Deus pode tocar o coração das pessoas, salvá-las, libertá-las”. “Contudo, se for um mau sinal dificilmente será sinal de Deus”, alertou, pedindo “que a escolha das melodias e a escolha do texto seja expressão de Jesus Cristo”. “O canto há-de exprimir a Páscoa de Cristo. Pelo canto havemos de nos sentir salvos, havemos de interceder e oferecer pelos outros”, complementou.

“Quase podemos dizer que o canto litúrgico é sacramento, na medida em que também o canto litúrgico é um sinal sensível (e quase poderíamos dizer eficaz) da graça de Deus”, sustentou.

O conferencista enumerou os três princípios que, segundo o papa São João Paulo II, “devem pautar a composição, a escolha da música para a liturgia: a santidade, a bondade das formas e a universalidade”. “Se não possui simultaneamente o sentido da oração, da dignidade e da beleza, a música exclui-se a si própria da admissão à espera do sagrado e do religioso”, observou, acrescentando que “outro aspeto importante” é que a música possa “aderir ao texto sacro”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“A importância está na palavra que nós rezamos, não na música. A música serve esse texto. A música é composta, criada a partir desse texto, não o contrário. A palavra é que é importante e a música está ao seu serviço”, sustentou, considerando também que “deve estar em consonância com o tempo e o momento litúrgico” e que a sua universalidade só não se cumpre se deixar de causar “boa impressão” junto de alguém de outra nação.

O sacerdote deteve-se no critério de escolha de cânticos para as celebrações dos sacramentos batismo e do matrimónio, lembrando que esta “não é de menor relevância” na sua “preparação cuidadosa” e deu vários exemplos de cânticos apropriados. O padre Vasco Figueirinha lembrou ter sido publicado pelo Secretariado Nacional de Liturgia um subsídio para ajudar na escolha dos cânticos para o casamento e apelou para que “haja cuidado pastoral claro para não deixar fazer das celebrações litúrgicas um concerto, um espetáculo ou uma cerimónia social”. “O grupo coral há-de ser constituído primordialmente pelos membros da comunidade e exercerá a sua função gratuitamente como verdadeiro ministério”, acrescentou ainda.

Vídeo da conferência