O Secretariado da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve voltou a propor e os jovens voltaram a responder positivamente.
Aquele organismo da Igreja algarvia tinha sugerido às paróquias algarvias, através das suas quatro estruturas vicariais, que promovessem nesta Quaresma Vias-Sacras para os jovens que os ajudassem a viver melhor a este tempo de preparação para a Páscoa.
Isso acabou por acontecer em três das quatro vigararias (grupos de várias paróquias) da Igreja algarvia, envolvendo no total cerca de 660 jovens e também adultos que se quiseram associar.
No dia 3 deste mês, a iniciativa realizou-se à noite em Portimão e em São Brás de Alportel, respetivamente com cerca de 200 e 260 jovens e alguns adultos das paróquias das vigararias de Portimão e de Faro.
Em São Brás, devido à chuva, a atividade, prevista realizar-se na rua, foi reprogramada para o salão dos Bombeiros Voluntários, onde teve lugar com a participação de um grupo de homens da Festa das Tochas Floridas.
Em Boliqueime, a Via-Sacra para os jovens das paróquias da vigararia de Loulé foi adiada, tendo sido realizada na última sexta-feira com a participação de cerca de 200 pessoas.
Em Portimão, não obstante as condições climatéricas, o programa manteve-se inalterado, tendo início na igreja de Nossa Senhora do Amparo e terminando na Fortaleza de Santa Catarina na Praia da Rocha. Sob o tema “Amar até à morte em Portimão”, a Via-Sacra orientada pela comunidade algarvia dos sacerdotes jesuítas, não foi fácil. Sobretudo para o jovem que, representando Jesus, carregou a cruz por caminhos, por vezes, completamente enlameados debaixo da chuva que teimou em cair, sendo despojado da túnica que o cobria ao passar da 10ª estação.
Na introdução, ainda na igreja, o padre Francisco Ferreira de Campos advertiu para o que seguiria, colocando a ênfase no sentido daquela manifestação pública de fé. “Saímos de casa, sobretudo, porque somos amigos de Jesus. Porque só malucos por Jesus é que fazem isto. Queremos tanto ser como Ele, que até o imitamos desta maneira, nas coisas boas, mas também nas partes difíceis da sua vida, nesta entrega de Jesus por amor, entrega total a nós. A cada um de nós”, afirmou.
E prosseguindo, o sacerdote lançou a pergunta de fundo que se destacaria naquela noite invernosa. “Como é que eu quero ser cristão na dor?”, interrogou, acrescentando outras questões em torno daquela. “Qual é a minha cruz para me fazer compreender a cruz de Jesus? Que graça é que eu quero pedir ao Senhor para esta noite?”, perguntou, orientando o sentido da reflexão naquela noite que considerou um “bom arranque de Quaresma”.
O padre Francisco de Campos explicou então o objetivo da oração naquela Via-Sacra. “Estamos hoje também aqui para rezar pelo mundo, pelas suas dores e pelas suas cruzes, por aqueles que não têm esperança, por aqueles que não veem sentido para a vida. Estamos aqui para rezar por tantas pessoas que não podem fazer uma Via-Sacra, ou porque são perseguidas, ou porque não conhecem Jesus ou porque acham que isto é uma seca”, afirmou.
“Estamos hoje aqui juntos na certeza de que Jesus morreu por amor e que esta morte tem um sentido na ressurreição. Sabemos que a vitória de Jesus é a ressurreição. Vai ser uma noite dura, mas eu acho que pode dar muitos frutos”, acrescentou, lembrando a importância do atual tempo da Quaresma. “É um treino intenso para sermos melhores e uma Via-Sacra é um treino ainda mais específico dentro deste treino intenso”, complementou.
Com a entrada de Jesus na igreja ao bater de três badaladas dava-se então início à Via-Sacra, prosseguindo o trajeto que consistiu em acompanhar espiritualmente o seu percurso até à morte, sepultura e ressurreição, com momentos de meditação e oração ao longo de 15 estações.
Na caminhada, marcada por leituras, cânticos, tempos de meditação e diferentes gestos simbólicos, rezou-se pela responsabilidade, integridade, dignidade e retidão, pela “ajuda para transportar as cruzes”, pela “coragem para não temer cair”, pela “força para levantar”, pela “atenção aos mais necessitados”, pela “força para suportar e dar sentido ao sofrimento”, pela graça de reerguer e erguer os que caem”, pela “sensibilidade para chorar quando é preciso”, pela “esperança para dar sentido a quem anda centrado na sua dor”, pela “sabedoria que faz perder a vaidade e o egoísmo”, pela resistência “contra a banalização da violência ou da injustiça”, entre outras preces.
No final da noite, que terminou quase à 1h do dia seguinte, o padre Nuno Tovar de Lemos destacou a “entrega por parte de tantos grupos de jovens” presentes. “É mesmo importante estimularmo-nos uns aos outros”, destacou.
O sacerdote jesuíta lembrou que, “normalmente, as Vias-Sacras fazem-se mesmo antes da Páscoa”. “Esta, estamos a fazê-la no início da Quaresma, o que é ótimo. Significa que temos a Quaresma toda agora como um tempo de treino especial para chegarmos à Páscoa muito mais próximos de Jesus e muito melhores pessoas”, complementou, convidando os presentes à oração do Pai Nosso em agradecimento por tudo aquilo que Deus lhes permitiu viver naquela noite e para que os ajude a viver esta Quaresma “de forma séria”.
A Quaresma é um período de 40 dias – excetuando os domingos –, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.