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Foto © Samuel Mendonça

O Jubileu das Famílias que a Diocese do Algarve promoveu no último sábado em Faro ficou ainda marcado pelo testemunho de Paulo e Maria José Costa, da paróquia do Carregado, pertencente ao Patriarcado de Lisboa.

O casal referiu-se à travessia percorrida desde o fim do primeiro casamento do Paulo até à conclusão do processo de nulidade do mesmo que culminará com o matrimónio que irão celebrar em setembro deste ano. Pelo meio, Paulo e Maria José Costa relataram o surgimento da sua relação, a rutura com a Igreja e o regresso à mesma, e o processo de adoção dos seus três filhos.

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Foto © Samuel Mendonça

Paulo contou que a separação “foi um choque muito grande”. “Senti-me muito perdido e comecei a entrar em depressão, uma depressão bastante profunda”, recordou, acrescentando ter-se afastado de familiares e amigos durante alguns anos. “Vivi um percurso de deserto e nesse percurso senti-me só”, lamentou.

Foi nessa altura que conheceu a Maria José, a relação foi crescendo e cerca de um ano depois de começarem a namorar, decidiram ir viver juntos. Escuteira há 14 anos, Maria José foi informada de que não poderia fazer a promessa de dirigente, não lhe restando alternativa a não ser deixar o Corpo Nacional de Escutas. “Foi uma dor horrível ter de me despedir dos escuteiros. Isto causou-nos muita revolta e muita dor e fechámo-nos um pouco um sobre o outro para nos apoiarmos e vivemos ali dois ou três anos em que nem sequer íamos à missa”, contou, acrescentando que se sentiu rejeitada. “Sempre me continuei a sentir filha de Deus, mas na altura não me sentia filha da Igreja. Não sentia a Igreja aquela «mãe» que me acolhia”, lamentou.

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Foto © Samuel Mendonça

O casal advertiu para a importância de a Igreja, através dos seus membros, estar atenta a situações como a deles. “O acolher é muito importante. Eu era daqueles que apontava o dedo aos divorciados e só consegui perceber a dificuldade das pessoas quando passei pelo mesmo”, salientou Paulo.

Num dia em que conheceram o então pároco da sua paróquia, foram convidados a integrá-la. “Sentimo-nos muito acolhidos. Passámos a desempenhar vários serviços. A minha fé parece que ganhou novo fulgor. Senti-me muito como o filho pródigo”, confessou Maria José, explicando que até hoje sente muito duas faltas: não poder ser absolvida no sacramento da Reconciliação e não poder comungar. “Quando toda a gente se levanta para ir comungar e eu não posso ir, é uma dor muito forte”, testemunhou.

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Foto © Samuel Mendonça

Paulo lembrou que adiou por sete anos as respostas ao questionário para dar início ao processo de nulidade do seu primeiro casamento até o seu pároco se oferecer para o ajudar no preenchimento. “Aquilo era tão difícil, tão difícil”, lembra. “No tribunal [eclesiástico] foi um dos momentos em que mais me senti acolhido pela Igreja. Ajudou-me bastante a perceber o que é que tinha corrido mal no casamento”, contou sobre o processo que demorou dois anos, lembrando que, “psicologicamente, foi difícil o tempo de espera” até chegar a decisão em janeiro passado. “Foi uma grande alegria. Sempre sentimos que aquele «matrimónio» nunca tinha sido matrimónio”, acrescentou Maria José.

O casal contou ainda que a decisão de terem filhos também se revelou muito complicada, o que os levou a fazerem tratamentos de fertilidade para tentarem engravidar. Porém, quer os tratamentos, quer o processo de procriação medicamente assistida vieram a confirmar-se infrutíferos e “muito dolorosos”. “Estas coisas da infertilidade fazem uma de duas coisas a um casal: ou os separam ou os unem ainda mais. Felizmente conseguimos fazer disto algo para nos unir ainda mais”, congratulou-se Maria José, explicando que decidiram depois partir para a adoção, tendo-lhes sido apresentada a proposta de receberem três irmãos biológicos, os seus atuais filhos.