Para a realização da iniciativa contribuiu uma recolha de informação adicional referente àquela festa realizada por um técnico superior da Câmara Municipal no início deste ano no arquivo do jornal Folha do Domingo.

Nos dias 27 e 28 de maio, Lagoa, numa parceria entre o município e a paróquia, volta a realizar a “Festa da Família Agrária”, recriando aquela que era uma das grandes festividades religiosas no concelho.

Dia 27 realiza-se a “Grandiosa Procissão de Velas”, pelas 20h com saída da igreja matriz de Lagoa e chegada, pelas 23h, à antiga capela do Carmo, situada no antigo mosteiro de clausura de frades carmelitas, na quinta agrícola da família Cabrita (atual quinta de produtos biológicos ‘Convent’bio’). No dia 28 tem lugar o cortejo processional “A Família Agrária”, com início marcado para as 18h.

Organizada pela paróquia de Nossa Senhora da Luz, a “Festa da Família Agrária” era, na década de 1960 e inícios da década seguinte, uma grande manifestação de fé em Lagoa, à época vila e sede de um concelho essencialmente agrícola que exibia a ruralidade da freguesia-paróquia, incubador de uma próspera adega cooperativa. Contava com o envolvimento da Ação Católica Portuguesa, através da Liga e Juventude Agrárias Católicas. O pároco de Lagoa, padre António Martins de Oliveira, figura proeminente na sociedade lagoense de então, foi responsável pela sua realização e por tê-la tornado, a partir de 1966, num certame de todo o concelho.

“A feliz ocasião dos 250 anos da criação do nosso concelho, que assinalamos desde 16 de janeiro através de um programa cultural dedicado, fez reacender a memória coletiva da Festa por parte das nossas comunidades, sendo natural a decisão de incluir uma nova recriação menos alegórica e mais cerimonial no plano das atividades comemorativas da efeméride”, explica em nota informativa a Câmara de Lagoa que já em 2026 organizou um desfile etnográfico inspirado na “Festa da Família Agrária”.

A autarquia acrescenta que a “Festa da Família Agrária” consistia na realização de duas procissões solenes em honra de Nossa Senhora de Fátima: uma, de velas, na noite de sábado, que saía da Igreja Matriz para a Capela do Carmo; outra, domingueira, que tinha forte adesão popular e fazia retornar a imagem ao seu templo”.

“Nos últimos anos, as celebrações incluiriam, não apenas os rituais da enraizada devoção à «Virgem Aparecida», mas também uma componente pedagógica com palestras a cargo de leigos especializados em matérias da vida cristã. Ficaria conhecida como ‘Festa do Trabalho’, por promover a sua glorificação à luz da mensagem cristã; ‘Festa dos Tratores’, por dela tomarem parte agricultores e proprietários rurais com as suas alfaias; ou ‘do Carmo’, por se realizar no antigo mosteiro de clausura de frades carmelitas, na quinta agrícola da família Cabrita”, prossegue o município.

“O significado e simbolismo da ‘Festa da Família Agrária’ eram-lhe conferidos por cincos aspetos: a Veneração a Nossa Senhora de Fátima, que fazia sair à rua a imagem da Igreja Paroquial; a Missa Campal no «Carmo», mais tarde na Adega, com homilia do Bispo do Algarve e ofertório de produtos agrícolas; o cortejo processional dos «dísticos», exibidos ao alto pelos naturais de todos os lugares da Paróquia; a participação dos tratores e alfaias agrícolas, qual retrato da economia de subsistência no tempo do Estado Novo; o louvor ao Trabalho e o seu encadeamento com a mensagem Cristã”, refere ainda a autarquia, explicando que “em 1974, embora marco da religiosidade lagoense, a ‘Festa da Família Agrária’ seria abruptamente interrompida”.

“Para o seu fim poderá ter contribuído o condicionamento que provocava ao trânsito na EN125 e, seguramente, a eclosão da Revolução de Abril, episódio-chave da História de Portugal que provocou profundas transformações sociais no país. Não obstante, e contrariamente a outras festividades religiosas no concelho, nas décadas seguintes, não se propiciou a sua retoma”, acrescenta-se.