A Liga para a Proteção da Natureza (LPN) criticou hoje a construção de um heliporto na Culatra, que considera ser ilegal, mas a associação de moradores da ilha da ria Formosa, responsável pela obra, defendeu que permitirá salvar vidas.
Os ambientalistas responsabilizaram, em comunicado, a associação de moradores da ilha pelo avanço de uma obra “ilegal” para “concretização das suas vontades”, e um conjunto de entidades oficiais, por “terem permitido a conclusão de uma placa de betão armado”, destinada à instalação de um heliporto, sem licença ou autorização.
Em declarações à agência Lusa, a dirigente da Associação de Moradores da Culatra, Sílvia Padinha, argumentou que a obra criou condições de segurança para a aterragem de helicópteros pesados Kamov – utilizados para transportes de emergência médica -, permitindo rapidez na resposta em caso de necessidade de socorro a residentes, mas também a visitantes.
“Nem Câmara Municipal de Faro, nem Parque Natural da Ria Formosa, nem Agência Portuguesa do Ambiente, nem capitanias, nem o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), ninguém viu o que ali se estava a passar? Ou houve ordens para que ninguém visse?”, questionou a LPN em comunicado.
Os ambientalistas consideram ainda que, “se à comunidade da Ilha da Culatra é permitida a concretização das suas vontades, no mais puro e gratuito desprezo pela legislação vigente, pelos instrumentos de gestão territorial e pelas entidades que devem zelar pela sua aplicação, então todos os cidadãos têm o legítimo direito de aspirar ao mesmo”.
Segundo Sílvia Padinha, o socorro a uma pessoa na ilha por barco ou ambulância pode demorar “mais de uma hora” e, de helicóptero, o tempo de resposta “é de sete minutos”. Além disso, acrescentou, o único barco ambulância que servia a zona está avariado e “há muito tempo” que não é utilizado.
“Como as licenças não estão a ser passadas devido a esta burocracia toda e ao atraso no projeto de requalificação da ilha [no âmbito da Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa], a população não pode ficar uma vida inteira à espera e decidiu avançar para a construção da placa para o heliporto”, afirmou.
Aquela responsável frisou que o custo foi repartido pela comunidade e algumas empresas e que a estrutura, que considera que “respeita os valores naturais”, tem as especificações exigidas para os helicópteros Kamov operarem em segurança.
A dirigente da associação de moradores defendeu ainda que a LPN deveria ser mais sensível “ao isolamento da comunidade” e ao facto de “o helicóptero poder salvar vidas” ao conseguir aterrar na ilha, uma vez que a obra foi feita em zona classificada como sendo urbana.
“Gostava de ver a LPN preocupada com as descargas [de esgotos] para a ria sem qualquer tratamento, preocupada com a área de produção aquícola, que foi construída muito à entrada da ria e põe em risco a comunidade piscatória, que são também questões ambientais”, disse Sílvia Padinha.