Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

A Mãe Soberana é «a verdadeira Mãe e auxílio de todo e qualquer louletano. Afirmo mesmo que Loulé não é sem a Mãe Soberana», defende o padre António de Freitas, pároco da paróquia de São Sebastião, de Loulé. Mas para o sacerdote, esta devoção à Senhora da Piedade ultrapassa, também, a própria cidade, pois falar dela «é algo que ultrapassa em muito as fronteiras de Loulé, do Algarve e até mesmo do país».

Esta festa tem, na verdade, características muito marcantes, que congregam os louletanos em torno desta invocação mariana, sendo a devoção à Mãe Soberana muito antiga, conforme explica o padre António de Freitas: «Há uma devoção que nasce e se perde no tempo. O primeiro documento que faz menção desta festa data de 1553, o que significa que esta festa, já tão vivenciada e enraizada na vida do povo de Loulé e do Algarve, terá surgido ainda antes (talvez século XV ou XIV)», sendo a «sua origem é bem portuguesa».  Todavia, tendo havido «uma presença de significativa de nobreza espanhola em Loulé», como relata o padre António de Freitas, poderá «ter feito incluir alguns elementos tipicamente espanhóis» nestas festividades.

João Romero Chagas Aleixo, historiador e autor da tese de Mestrado em História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa), intitulada O culto a Nossa Senhora da Piedade, Mãe Soberana dos Louletanos, em Loulé (1806-2013), defende precisamente que alguns dos aspetos únicos desta festa, nomeadamente o passear da imagem «com sentimento, mas, ao mesmo tempo, com arte», a importância e o papel dos Homens do Andor, que assumem «assim que a Mãe Soberana transpõe a porta da igreja paroquial a autoridade da Festa» e «os “Vivas!” gritados à passagem da Imagem» serão marcas de uma ligação da cidade aos imigrantes andaluzes que ali foram acolhidos no século XIX. Na verdade, o historiador considera que estas «características processionais» serão «únicas no nosso país, mas, ao invés, facilmente identificáveis nas principais procissões que se celebram na Andaluzia».

Já em relação à razão de ser do nome Mãe Soberana, o padre António de Freitas considera não ser possível «ir além de hipóteses» e explica: «O nome atribuído a Nossa Senhora em Loulé (neste caso) sempre foi de Nossa Senhora da Piedade. O título “Mãe Soberana” é tardio. José Hermano Saraiva afirmou que talvez só tenha surgido mesmo no século XX, devido ao fim da Monarquia e em oposição à República. Maria torna-se, é a Rainha eterna de Portugal. E esta afirmação foi feita pelo povo louletano em oposição à República. Daí que a República tenha mesmo chegado ao extremo de proibir a realização desta festa».

Na opinião do pároco de São Sebastião, esta devoção e festividade, bem como a história do próprio Santuário, que acolheu ao longo dos anos muitas peregrinações e esteve presente em Roma durante o Ano Mariano (1954), deverão integrar o património cultural do país, pois a «História de Portugal une-se em absoluto, desde as suas origens, à devoção a Santa Maria (terra de Santa Maria)».