O patriarca de Lisboa destacou no domingo, em Loulé, na Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como «Mãe Soberana», ter sido na “disponibilidade” de Maria que cada ser humano “pôde ousar, viver e sonhar” “fazer da sua vida um projeto de entrega, de doação, de inteira disponibilidade ao Senhor para servir a humanidade”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na Eucaristia, a que presidiu à tarde junto ao monumento a Duarte Pacheco, D. Rui Valério considerou que a Mãe de Jesus gera cada homem e mulher a serem também “filhos e filhas de Deus porque é no sim que ela apresentou que cada um deu essa resposta a Deus”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O patriarca destacou Maria como exemplo de doação que desafia a fazer o mesmo. “É aquela que nos mostra como a sua vida foi uma partilha. Connosco ela partilhou o seu próprio filho Jesus Cristo, connosco ela partilha esse destino de salvação ao qual tu também és chamado. Nossa Senhora é um sinal da vida nova presente na história que quer irromper na tua vida exatamente porque te lança este desafio: «Se eu, por ti, me deixei partir na alma e no coração; se eu a ti te entreguei aquilo que de mais querido possuo, que esperas tu para fazeres da tua própria vida uma constante e permanente partilha com os outros?»”, interrogou, considerando que Nossa Senhora estimula cada pessoa a partilhar o seu tempo e projetos “com aquele que deve ser primeiro” na sua existência, a exemplo do que ela própria fez “quando consagrava o primeiro lugar a Jesus Cristo”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Tendo destacado os pés e as mãos de Jesus como “sinais da ressurreição”, o pregador deste ano daquela que é a maior manifestação religiosa a sul de Fátima, acrescentou a eles os pés e as mãos de Maria. “São mãos que nos mostram este projeto de uma nova vida, são mãos que se estendem para ti, para te acolher, são mãos que vêm ao teu encontro para envolver. E as mãos da nossa querida Mãe são aquelas que, sobretudo nos teus momentos de aflição, te confortam como nós gostamos de ser confortados nos momentos de sofrimento e de solidão. São mãos que se estendem para me convidar a subir para o seu regaço e para me segurarem na vida”, afirmou, considerando que “as mãos de Nossa Senhora são sinal de uma nova vida, na medida em que amparam a existência”. “Em quantos momentos é que tu, se não fosses conduzido e apoiado por aquelas mãos da Virgem santa, terias sucumbido, não te terias mantido em pé?”, questionou, detendo-se também nos seus pés. “São os pés de uma Mãe que, quando tu gritas socorro e pedes ajuda, não hesita em correr para ti”, completou.

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O patriarca de Lisboa realçou em Maria o dom que as mães têm de intuir o que os filhos mais precisam. “Nossa Senhora poderá saber muito do que nós somos, muito do que nós possuímos, muitíssimo do que nós sofremos, mas o que ela sabe é aquilo que tu necessitas, aquilo de que tu precisas”, afirmou.

Detendo-se na imagem da «Mãe Soberana», D. Rui Valério constatou que “no seu regaço não está – como retratado em tantas imagens belas, afetuosas e até emocionantes – uma criancinha sorridente, atrativa”. “Está um cadáver moribundo, um sofredor, alguém cujo aspeto não é atrativo, mais que ela possui, acolhe e segura”, evidenciou, considerando que ali está Jesus, mas está também cada pessoa. “És tu que ali estás, és tu que Nossa Senhora chama para o seu regaço, é a ti que ela está a envolver, são as tuas feridas que ela está a confortar, é o teu sofrimento que ela está a consolar. Tu és aquele”, observou, considerando ser por isso que muitos a reconhecem como “Mãe, «Mãe Soberana», Senhora da Piedade”, aquela que “não repudia, não rejeita, não volta a cara”, mesmo que o aspeto de cada um, “tantas vezes, seja assim, nada atrativo”.

O responsável católico ainda que Maria é “presença e sinal de vida nova e de ressurreição”. “É por Maria, nossa querida e santa Mãe, que essa vida nova, vida divina, vida de Deus, pode ser acolhida no teu coração, na tua alma, a ponto de tornar uma nova criatura, novo projeto de homem ou de mulher que és”, afirmou na Eucaristia concelebrada pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, pelo bispo emérito do Funchal, D. António Carrilho, natural de Loulé, e por numeroso grupo de padres do Algarve.

No final da celebração, o bispo do Algarve voltou a confiar à bênção e proteção da “Santíssima e doce Mãe da Piedade” as famílias, crianças, jovens, idosos, doentes, “os mais sós e abandonados”, “os que sofrem do corpo ou do espírito”, “governantes e todos os que exercessem autoridade”, instituições sociais, forças militares e de segurança, educativas, culturais, desportivas “e todos os que se fizeram peregrinos”.

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“Aqui vimos este ano como peregrinos junto a ti, Mãe, no desejo de aprendermos contigo a fazer da nossa vida oração. Queremos renovar a nossa fidelidade a Deus, agradecer o dom da vida e consagrar-nos de novo ao teu coração imaculado”, afirmou D. Manuel Quintas na oração de consagração da diocese algarvia à «Mãe Soberana».

Aquela que é a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, voltou a atrair a Loulé na sua Festa Grande uma multidão imensa, oriunda não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país e até emigrantes.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus nos braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

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Após a chegada da imagem, junto à ermida, D. Rui Valério agradeceu, particularmente, a Nossa Senhora pela paz em Portugal. “Num momento em que no mundo, em tantas geografias, em tantos países, se escuta o rebombar dos canhões, o grito de quem sofre a guerra, nós, Mãe, aqui de Loulé, vos podemos dizer que o que nos permites escutar é um hino de alegria porque o nosso coração está em paz. Obrigado pela paz!”, rezou, pedindo que construam “pontes para ir ao encontro dos outros” e que todos sejam “servos e servas da dignidade, da paz, do amor e da justiça”.

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O patriarca, que também rezou pelo Papa Francisco, agradeceu ainda à Virgem por acolher “aqueles que padecem no sofrimento da alma e do corpo” e pediu por “quantas almas, quantos homens e quantas mulheres, em tantos horizontes da existência, não dão o seu último suspiro na mais atroz das solidões”. “Nunca nos deixes sós, nunca nos abandones, mas, particularmente, que ninguém esteja só nesse instante de à vida e ao mundo dizer adeus; que ninguém parta na eternidade privado da presença de um sorriso, de uma palavra ou de um gesto maternal”.

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Depois de a imagem ser levada de volta para a secular ermida do santuário, seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As festividades de Nossa Senhora da Piedade constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, mas um relatório de 1518 dos visitadores da Ordem de Santiago refere que na capela de Santo António da igreja matriz de Loulé já existia um “retábulo de portas com Nossa Senhora da Piedade”.