A recolha de dados junto da população, que é visitada em domicílios, associações locais ou juntas de freguesia, está a ser realizada ao abrigo de um protocolo que a câmara assinou com as autoridades de saúde de Cuba e que fez com que a autarquia algarvia fosse pioneira no envio de doentes à ilha do Caribe para receberem tratamentos que tinham dificuldade de obter através do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Luís Gomes (PSD), explicou à Lusa que os dados sobre o estado de saúde dos munícipes vão permitir saber cientificamente as principais necessidades da população e as dificuldades que têm no acesso aos cuidados através do SNS.

Assim, e como aconteceu em 2008, quando enviou doentes a Cuba para serem operados às cataratas e fez o Governo encontrar uma forma de melhorar o acesso dos algarvios à especialidade de oftalmologia, a autarquia espera ficar na posse de dados que lhe permitam depois definir medidas para as autoridades de saúde responderem com maior eficácia nas especialidades em que a sua população tem mais carências.

“O objetivo é termos um conhecimento claro do que são as condições de acesso à saúde da população de Vila Real de Santo António. As pessoas, hoje, o problema que têm é não terem condições para acederem aos cuidados de saúde”, afirmou Luís Gomes.

O autarca reconheceu que “os tempos de espera estão a aumentar para cirurgia e para consultas, em áreas como oftalmologia ou a ortopedia”, e é necessário tentar inverter isso, mas tendo um maior conhecimento das necessidades concretas da população.

Sílvia Romão foi uma das beneficiárias do programa e na consulta com as médicas cubanas que foram à sua residência foi possível saber que não ia ao médico há 12 anos, desde o nascimento da segunda de dois filhos.

“Trabalho desde as 11:00 às 24:00 e não tenho tempo para ir ao médico”, justificou, sublinhando que, por vezes, sente fortes dores de cabeça e toma vários comprimidos, mesmo sem prescrição.

Questionada sobre o trabalho que está a ser realizado pela autarquia, esta residente em Monte Gordo respondeu que é “bom, porque é difícil as pessoas acederem aos médicos, quer por falta de tempo, quer por dificuldades em arranjar transporte” para chegar a Faro caso seja necessário ser assistida por alguma especialidade médica.

“Ainda o que me valeu quando o meu filho teve doente e tinha que ir a Faro foi o transporte dado pela câmara, que ajudou sempre que precisei”, disse.
As dificuldades no acesso são sentidas por cada vez mais pessoas e até já a classe média tem problemas para aceder aos serviços de saúde, considerou outra beneficiária do programa, Fernanda Pires.

“A idade não ajuda e os problemas vão surgindo, mas é cada vez mais difícil conseguir fazer alguma coisa através do SNS”, afirmou, frisando que o programa “é mais uma ajuda para conseguir ter assistência”.

Lusa