
Teve ontem início a Quaresma, um período de 40 dias – excetuando os domingos –, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.
Na sua mensagem (disponível abaixo) para este tempo litúrgico de conversão, o bispo do Algarve sublinha que a misericórdia é mais importante do que os atos de culto e de sacrifício.
O documento, divulgado ontem à tarde, tem como tema “Prefiro a misericórdia ao sacrifício”, uma recomendação de Cristo repetida em diversas situações (Mt 9,13; 12,7) que o prelado lembrou ter sido também “ilustrada com diversas parábolas” (Lc 10,29-37; 6,36-38; 15,1-32) e que apresenta como proposta “inspiradora” deste caminho quaresmal. “Não nos determos no exterior e superficial, mas procurarmos e assumirmos o que efetivamente conduz a uma mudança de atitudes e gestos”, pede D. Manuel Quintas.
“A consciência de nos sabermos e sentirmos amados por Deus (…) constitui a motivação mais mobilizadora do caminho de conversão que a Liturgia, em tempo de Quaresma, nos convida a percorrer”, começa por escrever o bispo do Algarve, referindo-se também à mensagem quaresmal do Papa Francisco, marcada pelo apelo contra um mal global. “Nela encontramos estímulo para este caminho e a oportunidade de, em comunhão com toda a Igreja, enfrentarmos o mal-estar provocado pela «globalização da indiferença», assente numa atitude egoísta à escala mundial, com consequências profundamente gravosas para os mais desfavorecidos”, refere.
O bispo do Algarve destaca então que “a misericórdia, como resposta à misericórdia de Deus, é mais importante que os atos de culto (cf Os 6,6, Mt 5,7; Lc 6, 38; 15,1ss)”. “A Quaresma vem recordar-nos, através dos insistentes apelos da Palavra de Deus, que somos chamados não só a experimentar e a celebrar a misericórdia de Deus, mas também a ser misericordiosos com os outros”, lembra, acrescentando que “a superação da indiferença torna-se possível com um coração misericordioso: forte e firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus, impregnado pelo Espírito que conduz aos outros; um coração pobre que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro”.
Neste sentido, D. Manuel Quintas sustenta que “a partilha, como sinal de conversão pessoal, assume a expressão concreta da misericórdia e da caridade”. “Ao partilhar o que temos e o que somos, experimentamos a plenitude da vida que provém do amor misericordioso, pelo qual tudo nos é retribuído como bênção de perdão, paz e alegria interior. A partilha, ao nos aproximar dos outros, aproxima-nos também de Deus e torna-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos”, complementa.
O prelado conclui com um apelo ao “caminho da conversão pessoal, através duma oração mais intensa e de gestos de misericórdia e de caridade para com todos”.
Ontem à noite, na celebração de Quarta-feira de Cinzas, a que presidiu na catedral de Faro, D. Manuel Quintas explicou o sentido das mensagens escritas pelos diversos membros da hierarquia da Igreja nos principais tempos do calendário litúrgico da Igreja. “Estas mensagens não substituem a palavra de Deus, procuram é iluminá-la, criar na nossa vida as condições para acolhermos, de uma maneira mais atenta, desperta e disponível, aqueles apelos que Deus nos faz através da sua palavra”, afirmou.