O título desta cumplicidade nada tem a ver com a obra do cinéfilo italiano Luigi Zampa, em título “Ladrões de Bicicletas”, uma magistral obra do cinema neorrealista de 1948. Não!

Porque a memória não é assim tão curta, quem não se recorda daquele antigo ciclista, de nome Carlos Teixeira, que andou em passeio de ladrão, pelas agências bancárias, ameaçando e recolhendo alguns valores, sob ameaças.

Pois não demorou assim tanto que as autoridades não apanhassem o chamado “ladrão de bicicleta”, que era o seu meio de transporte para chegar ao seu fim: o roubo. Pelo que o título da crónica nada tem, nem se compara àqueles pobres heróis, na magistral interpretação de Enzo Staiolla e Lamberto Maggiorani, em “Ladrões de Bicicleta”. O tempo actual parece vir de 1948. Há a mesma fome!

Vamos, então, à razão desta cumplicidade. A Justiça Portuguesa foi activa, foi rápida, foi crucial (e chega de adjectivação) em prender e julgar o Betinho de Cascais, como é conhecido na gíria e na periferia de Lisboa, o ladrão das agências bancárias. O Betinho, simplesmente, ganhou nos tribunais da Justiça portuguesa 15 anos de prisão e uma sentença a pagar uma quantidade avultada de euros aos bancos BPI e BPN pelos seus crimes de furto. Aqui, com o Betinho, a Justiça cumpriu a sua missão. Muito bem!

Eu, simples e comum cidadão deste pequeno país em geografia, mas grande na idade, idade em saber julgar, sem diferenciar o cidadão banqueiro de qualquer Betinho de Cascais… O porquê de não se julgar o célebre banqueiro do B.P.N., levando o “pobre”, o senhor José Oliveira e Costa, de prisão a domicílio e vice-versa, e não a julgamento. Será o que penso? O tempo de prescrever, nesse jogo do empata, sem o querer “condenar” sem acto de justiça? Restam dúvidas? Um homem, um cidadão não é um objecto. Não diferenciem o cidadão Carlos (de) Teixeira, do cidadão Oliveira (e) Costa.

O País anda à deriva…

Já o ex primeiro-ministro, António Guterres faz uma Mea-Culpa do seu tempo de governação. Que lhe valha a sinceridade ao homem que no presente exerce o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. O resto é silêncio…e sem culpa.

A voz da Igreja faz-se ouvir todos os dias pelas situações em que os portugueses mais desprotegidos (aos milhões) vegetam. Agora vem o bispo de Beja, juntando-se às vozes que têm voz.

Afirma D. António Vitalino: “Porque só agora acordamos de uma vida social e política sem controlo nem preocupações? Haverá culpados, e porque não assumem a responsabilidade do rumo errado em que puseram o nosso País?” O Bispo, nas suas palavras de sacerdote comprometido perante os seus diocesanos, pede Justiça aos homens que tendo desgovernado o País, vitimando a população fragilizada.

Hoje, no dia em que escrevo esta cumplicidade, as Associações, no seu voluntariado, estão na praça pública pedindo apoios para mitigar a fome pelo País fora em vergonha. E seus dirigentes, os governantes sem ela.

Teodomiro Neto

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico