O padre Getúlio Bica, ordenado sacerdote no passado dia 12 deste mês, pelo bispo do Algarve regressou ontem à tarde à paróquia de origem para celebrar a sua ‘Missa Nova’.

Na igreja de Ferreiras, que foi pequena para acolher todos aqueles que fizeram questão de estar presentes, o novo sacerdote do Algarve começou por agradecer a todos essa participação e evocar a memória de várias pessoas da comunidade já falecidas, entre elas a do seu pai, que disse estarem ali “espiritualmente”.



Na homilia, o padre Getúlio Bica disse ter sido através da Igreja, mas naquela paróquia concreta, que aprendeu a “amar e a ser mais fiel a Deus”. “Fui aprendendo a amar a Deus no exemplo daqueles que davam a vida pelas celebrações, para que tudo ali acontecesse. Então, a minha vocação tem três pilares: a família, onde fui aprendendo a amar e a desenvolver a capacidade de amar; um sacerdote, o senhor cónego Carlos César chantre, que desde essa altura celebrava connosco; e uma comunidade, a comunidade que veio a nascer aqui com este templo de São José de Ferreiras. Foi com estes três pilares que fui aprendendo a amar a Deus, a ser-lhe fiel”, afirmou.


O sacerdote acrescentou que foi “descobrindo este amor” na entrega ao longo da caminhada e disse ter sido aquela paróquia que lhe “deu a maior lição” da vida, num dia em que sentiu “um vazio muito grande no coração”. “Foi no falecimento do meu pai. No dia do funeral estava lá representada a moldura humana da comunidade e nesse dia passei a compreender o significado de comunidade. É neste amor que me foi transmitido que comecei a ser mais fiel a Deus”, sustentou, manifestando o desejo de “caminhar para que, cada vez mais, corresponda a este amor que Deus tem” por ele e por cada um.



“Hoje estou a sentir, uma vez mais, o amor de Deus na sua Igreja, a Igreja fiel que espera o seu Senhor. É a esta Igreja que me entrego para dar todos os dias da minha vida. E é na fidelidade, que espero também a ajuda de todos – não pode ser só palmas e sorrisos –, para que quando eu não estiver bem me digam para que eu possa melhorar e caminhar neste amor e ser-lhe mais fiel”, prosseguiu.
O sacerdote lembrou ainda que cada pessoa “tem muitos talentos”, mas disse haver um que é “transversal a todos”. “Somos diferentes, com experiências de vidas diferentes, mas é o talento do amor que está no nosso coração que nos faz iguais. Assim, amando e descobrindo este talento que é amar, todos os outros são para colocar ao serviço dele, fazendo com que se desenvolva o amor entre cada um de nós, nas comunidades e na Igreja, para que ela seja santa e para que também nós possamos ser santos”, afirmou.
No final da celebração, o novo padre agradeceu ainda a Deus “pelo dom da vocação que colocou” no seu coração e a um numeroso elenco de entidades com quem se cruzou, incluindo os vários sacerdotes e diáconos, a quem ofereceu um terço com o pedido de que rezem por ele. Para o fim deixou o agradecimento à família, tendo pedido à mãe e à irmã que o acompanhassem num emotivo momento de oração junto à imagem de Nossa Senhora.




No início da Eucaristia coube ao atual pároco sublinhar que o novo sacerdote era e continuará a ser “bem-vindo” àquela que será sempre a sua casa, para a qual disse não precisar de convite nem de se anunciar, até porque a sua história pessoal se confunde com a daquela igreja. “A nossa comunidade, que tu tanto amas e que tanto te ama, alegra-se, como a mulher que dá à luz diante do filho que nasceu, ao acompanhar a consequência do teu livre ‘sim’ a Deus e à Igreja”, afirmou ainda o padre Pedro Manuel, que, para além de lhe agradecer pela sua anuência a Deus, ainda destacou a “simplicidade” da sua “perseverança” e a “constância” do seu “‘sim’ diário”, “sobretudo quando foi difícil”.
Por outro lado, o pároco identificou a história da vocação do novo presbítero a uma das parábolas bíblicas. “Há uns que o Senhor chama no início do dia, há outros que chama a meio da manhã e outros a meio do dia. Creio que tu és daqueles que o Senhor chamou a meio do dia para dar recompensa igual”, afirmou, advertindo-o para a simbologia do momento em que ocorre a sua ordenação. “Não te deve ser indiferente teres sido ordenado no encerramento da Semana do Seminário e celebrares a tua ‘Missa Nova’ no Dia Mundial do Pobre. Vocações e pobres, dois altares onde o teu ministério deve sempre acontecer”, referiu, acrescentando: “para nós é o padre Getúlio cujas mãos ungidas para abençoar, consagrar e perdoar são para nós motivo e Ação de Graças. Obrigado pela tua vida, pela tua vocação e pela tua entrega”.

Já o primeiro pároco do padre Getúlio Bica, o cónego César Chantre, considerando que ele é “fruto de uma comunidade missionária”, defendeu no final da Missa que o novo padre vai “ser um grande instrumento de Deus” para que o “perdão” e o “amor” “continue nas comunidades missionárias de que o Algarve vai precisar”.

No final da celebração compareceu o bispo do Algarve que quis reforçar a ideia que já tinha deixado na ordenação. “O padre Getúlio é, de facto, a confirmação de que Deus não nos abandona, de que Deus continua a acreditar em nós, nos jovens e nos menos jovens. Sobretudo, é a confirmação da importância e da necessidade da resposta à vocação a que o Senhor nos chama”, afirmou D. Manuel Quintas.
Tendo presente as três vocações consagradas que já surgiram daquela jovem paróquia, o bispo diocesano agradeceu aos seus paroquianos “por tudo” o que têm feito, “acompanhando as vocações que vão surgindo” ali, e pediu que a «porta» continue “aberta”. “Eu não queria deixar o Algarve como bispo sem haver mais alguém aqui de Ferreiras a seguir o caminho do padre Vasco e do padre Getúlio”, afirmou, acrescentando que a diocese continua a precisar da sua “oração, generosidade e doação”.


D. Manuel Quintas entregou ainda ao novo sacerdote a medalha comemorativa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mandada cunhar pela Santa Sé, por ter sido ordenado no ano daquele encontro com o Papa, entrega que também fez ao pároco de Ferreiras por a paróquia ter acolhido um grupo de 370 franceses na semana que antecedeu o encontro de Lisboa. A medalha apresenta ao centro, entalhada na esfera armilar, a Catedral Patriarcal de Santa Maria Maior, igreja matriz e principal local de culto católico da cidade de Lisboa. À volta, em sentido circular, desenvolve-se a expressão latina “DIES MVNDIALIS IVVENTVTIS LISBONAE MMXXIII” e acima, entre as duas torres, destaca-se o logotipo da JMJ Lisboa 2023. Em círculo, em direção ao lado externo, estão representados os 13 patronos da Jornada Mundial da Juventude, “todos Santos ou Beatos, que dedicaram suas vidas ao serviço dos jovens”.

Por fim, D. Manuel Quintas ofereceu ainda um terço que recebeu do Papa Francisco à mãe do padre Getúlio Bica, pela “doação e generosidade da família em não obstaculizar, mas antes em apoiar e incrementar que um filho seu se consagre a Deus”.