O bispo do Algarve presidiu ontem ao final da tarde à inauguração e à Eucaristia de reabertura das obras de ampliação da igreja de Nossa Senhora de Fátima do Montenegro, ainda sem estarem totalmente concluídas, mas o suficiente para a comunidade paroquial já poder celebrar lá condignamente.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois de uma breve visita às obras e antes da Eucaristia, D. Manuel Quintas descerrou a lápide da inauguração juntamente com o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau. Após a bênção da água, com a qual aspergiu e benzeu o novo ambão, a nova pia batismal, o novo sacrário e, de maneira particular, o novo altar que também foi dedicado, aquele responsável católico disse na homilia sentir-se “particularmente feliz” com aquela comunidade paroquial “depois de um caminho nada fácil”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo do Algarve manifestou a sua “gratidão a Deus” que “dá força no meio das dificuldades, dos imprevistos”. “Gratidão àqueles que possibilitaram estarmos aqui hoje reunidos, seja os membros desta comunidade paroquial, seja todos aqueles que apoiaram o vosso pároco para realizar esta obra”, afirmou, considerando haver “uma grande harmonia na igreja”, cujas obras foram iniciadas no princípio de 2021.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aproveitando a dedicação do altar, que faria depois da homilia, D. Manuel Quintas explicou a razão daquela pedra não se chamar “simplesmente mesa”. “Altar é muito mais do que uma mesa. Vai ser ungido com o óleo do Crisma, vai ser crismado, tal como nós fomos ungidos no dia do nosso Batismo, no dia do nosso Crisma”, distinguiu, lembrando que “aqueles que são ordenados presbíteros ou bispos também são ungidos com o óleo do Crisma”. “E ser ungido com óleo do Crisma quer dizer ser consagrado, dedicado a Deus, ser cristão de verdade. Portanto, transformar esta pedra num altar onde Cristo se oferece a si mesmo. É por isso que renovamos sobre o altar a doação de Cristo na Última Ceia que é também a doação de Cristo na cruz”, desenvolveu.

D. Manuel Quintas, acrescentou assim, que o altar, “elemento central em todas as igrejas”, “é como se fosse a pessoa de Cristo, precisamente pela sua entrega a Deus, dedicação, doação”. “É o altar que faz com que este espaço seja templo sagrado. Somos também templo de Deus, casa onde Deus habita”, prosseguiu, pedindo aos presentes que renovassem também naquele dia a sua consagração a Deus, a sua “dedicação a Deus pelo Batismo e pelo Crisma”.

Depois da dedicação do novo altar que, para além de benzido foi também incensado, revestido e iluminado, prosseguiu a Eucaristia com a consagração e a comunhão, após a qual se realizou a procissão com a reserva eucarística até ao sacrário onde foi depositada e incensada.

No início da celebração, o pároco do Montenegro tinha explicado ter sido o padre José Gomes da Encarnação, antigo pároco, “quem sonhou e ajudou muito a elaborar o projeto”. “É bom termos consciência dos nossos antecessores. Sem eles não poderíamos fazer as obras que fazemos”, referiu o cónego Carlos César Chantre, lembrando que o sacerdote “só não avançou mais porque morreu num brutal acidente” em 1959 e que foi o padre António Patrício, seu sucessor, quem “executou o projeto e a obra” “com muitas dificuldades, mas um homem tenaz”.

“O padre [António] Rocha, felizmente aqui presente, também colaborou nestes trabalhos na constituição de uma comunidade mais forte”, continuou o cónego César Chantre, lembrando que o padre António Martins foi o primeiro pároco daquela paróquia desmembrada da paróquia de São Pedro de Faro e que o padre José Nabais também ali trabalhou. “Tudo isto com uma comunidade maravilhosa. Esta gente tem-me ensinado o princípio da paciência e da persistência. São muito humildes, não criam problemas. Antes pelo contrário, aceitam tudo. Reagem, mas depois aceitam. Esta paciência desde 2020 sem igreja para celebrar tem-me ajudado muito também a crescer na fé”, afirmou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No final da Eucaristia, o pároco agradeceu ao pároco de São Luís de Faro pela solidariedade no empréstimo de bancos daquela igreja. “Os bancos que estão previstos para aqui são os adequados, mas não há capacidades financeiras para lá chegar. São cerca de 90 mil euros”, referiu.

O sacerdote realçou que o custo da obra, inicialmente previsto em pouco mais de 400 mil euros, já ascende a 720 mil 144 euros e que as entradas foram até ao momento de 633 mil 516 euros e o reembolso do IVA de 109 mil euros. O cónego César Chantre explicou que o Estado comparticipou com 49 mil 664 euros porque “se o Estado é laico, a Nação é crente” “e o Estado jurou servir a Nação, logo o povo que é crente”. E o sacerdote lembrou que ainda faltam as capelas mortuárias previstas numa quarta fase com orçamentação de 800 mil euros, acrescentando que “o projeto está feito”. Assumindo que a paróquia não tem capacidade para avançar, apelou ao apoio do Estado, evidenciando que “não há uma religião para a morte”. “Morrem todos, aqueles que acreditam e aqueles que não acreditam. Por isso, o Estado tem de verificar também isso. É um problema de saúde pública, uma causa pública”, realçou, confidenciando: “o presidente da Câmara garantiu-me que se o Estado não abrir a bolsa, ele tentará que a Câmara colabore”.

A Câmara Municipal de Faro apoiou com 210 mil euros, a comunidade e particulares com 15 mil 510 euros, o Cabido da Sé de Faro com 10 mil euros, um particular com 5.000 euros, o arraial popular da paróquia com 3.280 euros, o Santuário de Fátima com 2.000 euros, outras festas paroquiais com 1.443 euros e a Junta de Freguesia com 548 euros. “Têm sido extraordinárias as pessoas daqui a darem o que podem e o que não podem. A Junta de Freguesia tem estado a colaborar nos bastidores, quer nos transportes, quer em outras ajudas que vai dando”, acrescentou, explicando ainda que o Seminário de Faro emprestou 150 mil euros e um particular 77 mil euros.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, destacou a “melhor capacidade de acolhimento de uma comunidade muito forte que lutou muito” para que o dia de ontem tivesse sido uma realidade.

A inauguração terminou com a atuação da Real Tuna Infantina da Universidade do Algarve, que está sedeada naquela freguesia.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A terceira fase em curso das obras – igualmente comparticipada no âmbito de nova candidatura ao subprograma 2 (para obras com orçamento igual ou inferior a 100 mil euros) com investimento elegível de 70.471 euros e apoio de 35.235 euros – contemplará a pintura exterior da Igreja e o seu arranjo exterior e tem um prazo de execução de 90 dias.

A obra agora inaugurada permitiu passar de 96 lugares sentados para 235, também duplicar a área do coro alto, renovar o presbitério, revestir o teto com madeira para melhorar a acústica e substituir o pavimento. Incluiu ainda a construção de sacristia com uma casa de banho e outra instalação sanitária para serventia do público. A intervenção adaptou também o edifício à legislação atual, por exemplo no que respeita às normas relativas à segurança referentes concretamente à construção antissísmica e antifogo.

O projeto de alargamento da igreja foi iniciado pelas arquitetas Teresa Valente e Patrícia Malobbia da Câmara Municipal de Faro, tendo passado depois para as mãos do arquiteto Rogério Paulo Inácio.

A igreja do Montenegro, cuja primeira pedra foi benzida a 05 de janeiro de 1964 e inaugurada a 12 de outubro de 1966, foi um projeto com autoria do arquiteto Alfredo Carlos Villares Braga dos serviços técnicos da Câmara Municipal de Faro em terreno oferecido por Bernardino Bonixe.

Obras de ampliação da igreja de Nossa Senhora de Fátima do Montenegro vão ser inauguradas