O padre António de Freitas considerou no passado sábado a caridade como a “fé em movimento que leva muitos homens e mulheres a voltarem-se para Deus”.
“A fé em movimento consiste numa resposta de amor ao Deus que já primeiramente nos amou”, sustentou o sacerdote por videoconferência nas XIX Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve que refletiram no Centro Pastoral e Social em Ferragudo sobre o tema “Caridade, a fé em movimento”.
“Aquilo que nos move é o amor como resposta de fé a Deus”, sublinhou, defendendo que para os cristãos, a caridade, antes de uma resposta social, “tem de ser uma resposta de amor a Deus”. “A caridade na vida da Igreja e de um cristão não pode se vista como experiência de voluntariado”, alertou.

“A caridade é a resposta do homem a Deus através dos irmãos mais necessitados em quem se deve ver a presença do Senhor e a quem devemos manifestar o rosto misericordioso do mesmo Senhor”, complementou, explicando que “o amor provoca uma resposta que só pode ser de amor”. “Uma resposta de amor que vai ao encontro d’Aquele que primeiro nos amou e ao encontro daqueles a quem o Senhor nos pede que amemos e o amemos em cada um deles”, precisou no encontro que contou com cerca de 65 participantes.
“Não é darmos algo, é darmo-nos a nós mesmos”, resumiu, considerando não ser possível “pensar a fé sem a caridade” por serem dimensões “inseparáveis”. “Uma reclama a outra, uma é consequência da outra”, afirmou, sublinhando a caridade como “verdade essencial que identifica a Igreja” e não como “um complemento” do ser Igreja.
“A caridade é caraterística essencial da Igreja. A Igreja ou é caridade ou não está a ser imagem e semelhança de Deus”, alertou, acrescentando que “a caridade não pode jamais ser pensada como um complemento, muito menos como um subsistema do agir e da ação pastoral da Igreja”. “Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar para outros”, evidenciou, realçando que “pertence à sua natureza” e “é expressão irrenunciável da sua própria essência”.
“Isto deve levar-nos a mudar os paradigmas de programação e de organização pastoral das nossas comunidades, colocando totalmente de parte a ideia de ação caritativa como um complemento da ação evangelizadora e da ação litúrgica”, advertiu, apelando a um “justo equilíbrio entre as três dimensões”.
“Até nos nossos percursos de transmissão de fé e de iniciação cristã, a caridade ou ação sociocaritativa surge muitas vezes como uma espécie de atividade complementar aos demais elementos de transmissão da fé”, lamentou.

O orador alertou ainda que “a caridade é algo de toda a comunidade”. “Nunca devemos pensar a caridade como trabalho, tarefa ou propriedade só de alguns. Uma das reflexões que deveremos fazer é o lugar da caridade no dia a dia da comunidade como aspeto fundamental que não pode ficar relegado a um grupo particular ou a uma organização. O grupo organizado não pode esgotar a dimensão caritativa de cada cristão”, afirmou, acrescentando que “a caridade organizada é necessária”, mas “não pode substituir o empenho de cada crente pelos mais fragilizados”.
“A caridade está muito antes e vai muito para além de uma oração que se faz, que também é necessária, ou de um saco de comida e roupa, também necessários, ou de uma petição que se assina, talvez necessária”, alertou ainda, acrescentando o perigo da institucionalização da caridade nas organizações e nos centros sociais e paroquiais. “Temos de ter cuidado com isto para que não seja substituição da comunidade cristã. Mais do que estruturas, que nos fixam e aprisionam, embora sejam necessárias, é sobretudo necessário reiventar processos e modos de sermos uma Igreja que é comunidade de amor, que se faz pela fé movimento constante e presença assídua nas especificidades da humanidade”, pediu.