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Foto © Samuel Mendonça

Na Festa da Sagrada Família que a Igreja celebrou no passado domingo, o padre Mário de Sousa lembrou aos casais que “o amor é mais do que a paixão”.

Evocando a fórmula da celebração do matrimónio, o pároco da paróquia matriz de Portimão lembrou aos cônjuges que prometeram um ao outro serem fiéis, amarem-se e respeitarem-se, “na alegria e tristeza, na saúde e na doença”, por “todos os dias” das suas vidas. “Não é enquanto der. Não é enquanto me apetecer. Não é enquanto tu me servires, nem enquanto encontrar em ti encantos. É na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. Isto é amor”, frisou o sacerdote na missa do passado sábado que teve lugar no pavilhão Portimão Arena, durante a qual foi feito o acolhimento da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima.

“Amor não é gostar no outro daquilo que ele tem que me dá jeito a mim! Isso é egoísmo! Não é gostar do outro enquanto ele corresponde à minha maneira de pensar e à minha maneira de ver. Amor é gostar tanto do outro que sou capaz, não de levar uma vida inteira a tentar mudá-lo para que ele se conforme a mim, mas de tentar mudar-me a mim para corresponder ao carinho que ele me tem. É gostar tanto do outro que procuro corrigir aquilo que em mim fere, aquilo que são arestas na relação e na amizade, e tentar transformar o meu coração para poder ir ao seu encontro e manifestar-lhe, não apenas nas palavras do dia do casamento, o quanto gosto dele, o quanto o amo, o quanto o aprecio, o quanto o respeito”, complementou o prior da matriz de Portimão perante cerca de 3.000 pessoas.

Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

Pedindo às inúmeras famílias presentes que não se iludam, o sacerdote advertiu que “a paixão desaparece” “Não é assim? E ainda bem, porque paixão é uma palavra latina que significa sofrimento. Quem está apaixonado está num sofrimento constante, está sempre inseguro, nunca está em paz”, afirmou, acrescentando que “o amor é mais do que a paixão”. “O amor é gostar tanto do outro que não encontro mais ninguém e não entrego o meu coração a mais ninguém, porque é com aquela pessoa que quero partilhar todos os dias da minha vida, os bons e os difíceis, os de sorriso e os de dificuldade, os de alegria e os de tristeza. Uma família é isto. Consagram-se um ao outro, diante de Deus que os criou, prometendo ser, um para o outro, sinal da presença e do carinho do Senhor”, sustentou, advertindo que “o amor, por natureza, tem de sair de si próprio e não se pode fechar” porque “quando se fecha, deixa de ser amor” e “torna-se egoísmo”.

Neste sentido, o padre Mário de Sousa explicou que a capacidade de amar foi dada por Deus ao homem, “criado à sua imagem e semelhança”. “Tudo aquilo que Deus faz é a manifestação do amor que Ele é. Por isso criou o homem. Não podia ficar fechado em si mesmo. Precisou de sair e de manifestar o amor que Ele é em alguém criado à sua imagem e semelhança, que já sabemos não ser no rosto porque Deus não tem corpo. Deus criou-nos à sua imagem e semelhança e por isso só poderemos ser verdadeiramente felizes quando amarmos e nos sentirmos amados”, afirmou.

Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

O sacerdote exortou os cônjuges a reconhecerem os seus erros e a perdoarem-se mutuamente. “Como a vida pode ser diferente se partirmos de nós próprios, se dermos o primeiro passo, se não ficarmos fechados no nosso orgulho, mas tivermos a capacidade de dizer: «perdão, desculpa porque eu não sou perfeito. Sei que te magoei. Sei que a culpa foi minha. Vamos recomeçar. Não nos vamos deitar aborrecidos. Vamos refrescar e renovar essa promessa primeira que fizemos no dia do nosso matrimónio»”, apelou, lembrando as três palavras que o papa Francisco já disse serem “essenciais na vida de um casal”: “Se faz favor, obrigado e desculpa”. “Pensem lá qual foi a última fez que disseram ao vosso marido ou à vossa esposa ‘se faz favor’, ‘obrigado’ ou ‘desculpa’”, pediu.

“A nossa vida podia ser tão diferente se tivéssemos a humildade de perceber que não somos perfeitos. Todos nós temos dificuldades, falhas da nossa maneira de ser e o casamento é precisamente para se ajudarem um ao outro a superar isso que nos diminui enquanto seres humanos para que, juntos, possam ter um único projeto de vida, um único caminhar, um único sonhar, com as dificuldades todas da vida”, acrescentou, lembrando que “nada na vida que seja importante, é fácil”. “Tudo se constrói com esforço, empenho e carinho”, alertou.

“Vai-se a paixão. Ainda bem porque fica aquilo que é o mais importante: o respeito, o carinho e a amizade”, prosseguiu, pedindo Deus que ajude os casais a descobrir que no marido e na esposa “há alguém que não tem só defeitos, mas tem muitas qualidades”. “Quando estamos a falar com alguém que tem uma nódoa na camisa, a gente esquece o resto da camisa e só olha para a nódoa. Muitas vezes, nas nossas relações pessoais, a gente fixa-se na nódoa e esquece-se que à volta da nódoa há tanta camisa bonita e tanto tecido limpo”, lamentou, pedindo “que cada um dê graças pelo marido e pela esposa que tem, peça perdão pelas suas faltas de coerência e pelas demonstrações, às vezes parcas, de carinho respeito e amizade e pense também no que é preciso fazer para que a sua vida familiar se enriqueça e ganhe a dimensão da eternidade”.

No final da eucaristia vespertina da Festa da Sagrada Família realizou-se a bênção das famílias presentes.