Foto © Arlindo Homem/Agência Ecclesia

O papa Francisco pronunciou hoje pelas 16h27 (menos uma em Lisboa) o nome do arcebispo português D. José Tolentino como novo cardeal da Igreja Católica, numa cerimónia que decorreu na basílica de São Pedro.

A celebração começou com um momento de oração em silêncio, do Papa, diante do altar da Confissão, sobre o túmulo do apóstolo São Pedro, seguindo-se a saudação dos novos cardeais, antes de uma oração proferida por Francisco, a leitura do Evangelho e a homilia.

Após esta intervenção, o papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. José Tolentino Mendonça foi o segundo dos 13 prelados presentes.

Francisco entregou ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

No anel cardinalício são evocadas as colunas da Basílica de São Pedro, a cruz e os apóstolos Pedro e Paulo.

Na leitura da bula pontifícia, por lapso, houve uma repetição de igrejas e o papa indicou uma diaconia errada ao cardeal português.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

D. José Tolentino Mendonça disse que o papa sublinhou a sua faceta de poeta, quando o saudou, antes do consistório. “Foi interessante, quando ele se abeirou de mim, eu disse-lhe baixinho: ‘Santo Padre, o que é que me fez?’ E ele riu-se e disse: olha, a ti eu digo aquilo que um poeta disse, ‘tu és a poesia’. Foram palavras que eu guardo no meu coração, no fundo para dizer uma coisa essencial, que a Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção a um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética”, referiu aos jornalistas, após a cerimónia.

Foto © Arlindo Homem/Agência Ecclesia

O arquivista e bibliotecário da Santa Sé declarou que o papa “considera que esse campo é também importante para a missão da Igreja e para aquilo que ela hoje é chamada a ser no mundo”.

D. José Tolentino Mendonça riu-se quando foi questionado se o barrete pontifício pesava mais do que o solidéu de bispo. “Nestes momentos, nós nem nos lembramos dessas coisas, mas ao solidéu já estava habituado, o barrete é a primeira vez que o uso, de maneira que, se calhar, neste momento sinto mais o peso do barrete do que do solidéu”, admitiu.

O novo cardeal chegou à Sala Régia do Palácio Apostólica com uma cruz pastoral de prata, que pediu aos três bispos da Diocese do Funchal (D. Nuno Brás e os seus predecessores, D. António Carrilho e D. Teodoro de Faria) que abençoassem.

“Trago-a hoje em sinal da história que me trouxe aqui”, explicou.

Questionado sobre o que sentiu, aquando da imposição do barrete cardinalício, D. José Tolentino sublinhou a dimensão da fé: “Senti tudo: senti o abraço de Deus, senti a responsabilidade de cada passo, e senti que há uma coisa maior do que eu”.

“Em determinados momentos, acho que todos, crentes, laicos, padres, cardeais, país de família, sentimos que a vida é maior. Foram passos conscientes, não foram uns passos quaisquer”, concluiu.

Após o Consistório, Francisco e os novos cardeais foram cumprimentar o papa emérito Bento XVI, com quem rezaram no Mosteiro Mater Ecclesiae, onde este reside.

A chamada ‘visita de cortesia’ aos novos cardeais decorreu entre as 18h00 e as 20h00 locais (menos uma em Lisboa); no caso do cardeal português, teve lugar no espaço da Sala Régia, do Palácio Apostólico.

Biblista, investigador, poeta e ensaísta, o novo cardeal foi nomeado a 1 de setembro e é o sexto prelado português a integrar o Colégio Cardinalício no século XXI, o terceiro no atual pontificado.

D. José Tolentino Mendonça nasceu em Machico (Arquipélago da Madeira) em 1965, tendo sido ordenado padre em 1990 e bispo a 28 de julho de 2018; foi reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica em Portugal.

A 26 de junho de 2018, o papa nomeou D. José Tolentino Mendonça como arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica, elevando-o à dignidade de arcebispo; o até então vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa orientou nesse ano o retiro de Quaresma do Papa Francisco e seus mais diretos colaboradores.

D. José Tolentino Mendonça, comendador da Ordem do Infante D. Henrique, título que lhe foi atribuído em 2001 pelo ex-presidente da República Jorge Sampaio, e da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, atribuída por Aníbal Cavaco Silva, antigo chefe de Estado.

Dezenas de portugueses acompanharam a criação cardinalícia de D. José Tolentino Mendonça no Vaticano, onde marcaram presença a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.

Portugal teve até hoje com 46 cardeais, a começar pelo chamado Mestre Gil, escolhido pelo Papa Urbano IV (1195- 1264).

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