
A Diocese do Algarve promoveu no passado sábado uma ação de formação sobre a presença no ambiente digital que desafiou as paróquias e grupos católicos a exercerem também a sua missão na rede.
A iniciativa, promovida através do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais e da Cultura no Centro Paroquial de Santa Bárbara de Nexe, incidiu sobretudo nas redes sociais e destinou-se aos responsáveis por estas nas paróquias e movimentos eclesiais.
O diretor do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais (SDCS), que abordou o tema “Os desafios da cultura mediática”, desafiou os participantes a serem “testemunhas na rede” e a ajudarem a “tornar o ambiente digital um autêntico espaço de existência cristã”, de “pluralidade”, onde importa “incentivar à presença e à comunhão”. “Se não evangelizarmos o ambiente digital, ninguém evangeliza”, alertou o padre Miguel Neto.

O sacerdote acrescentou que a rede pode servir para ajudar a aproximar de Cristo e dos problemas dos outros. “A Igreja tem de ajudar os jovens a viver a fé na rede”, sustentou, realçando que “a internet não é um instrumento de comunicação”. “É um ambiente, um lugar da vida pública e experiência social onde cada um pode produzir e difundir aquilo que quiser de forma rápida, gratuita e muito eficaz”.
O formador insistiu que “a Igreja tem de exercer a sua missão na rede” também. “É tão importante cativar uma criança a ir à catequese à porta da escola, onde já não podemos entrar, como divulgar essa mensagem no Facebook”, afirmou, ressalvando que, ainda assim, “o lugar de conexão não é mais importante que o lugar de comunhão”.
O sacerdote disse que a presença dos cristãos naquele meio tem de ser “pela verdade”. “O cristão deve estar no digital do mesmo modo que está no ambiente físico: a mesma identidade, a mesma postura, os mesmos valores”, frisou, lembrando que a realidade atual é composta pelos dois ambientes.

Considerando que “o conhecimento, a informação” constitui “a principal fonte de riqueza no mundo de hoje”, o padre Miguel Neto alertou para a existência de uma “nova identidade relacional” e assegurou que “a rede criou um novo paradigma de comunicação”. “Passámos a comunicar horizontalmente. Hoje em dia todos estamos ao mesmo nível de relação de comunicação”, sustentou.
O sacerdote alertou para os “riscos” do “isolamento” e do “crescimento do individualismo”, “não o individualismo físico, mas o existencial”, e considerou que o “maior perigo” da presença na rede é o da “tribalização digital”, protagonizada por “grupos fechados que não admitem o contraditório e a pluralidade”.
A terminar, o padre Miguel Neto aludiu à importância de “definir estratégias pastorais” também no âmbito da presença digital. “É importante que o nosso espaço virtual seja um agregador daquilo que se partilha na nossa comunidade”, afirmou.
Sandra Moreira, técnica de comunicação, lembrou à verdade juntam-se também como “premissas” para comunicar na rede a “coerência” e a “realidade”. “Mais do que uma ferramenta, [a rede] é um sítio onde mostramos quem somos, como somos e aquilo que queremos que os outros saibam de nós e como saibam de nós”, afirmou, lembrando que o “papel fundamental dos gestores de redes sociais” é serem “chamados a ser missionários dentro das redes sociais”.

A formadora, que também pertence à equipa do SDCS, disse ser essencial conhecer para quem se comunica e a quem se quer chegar, exortou a “usar a linguagem da ternura e do toque” e a publicar “conteúdos de qualidade”. “Se não os conseguimos produzir em cada uma das nossas paróquias temos de começar a procurar sítios que são de referência”, afirmou, dando como referência “O Vídeo do Papa”.
Sandra Moreira apelou a uma “estratégia para comunicar”. “Antes de pensar em fazer qualquer coisa nas redes sociais [importa] pensar se temos capacidade para alimentá-la”, aconselhou. A formadora deixou ainda algumas “dicas para comunicar”, referindo-se à importância da imagem e de se “ser regular na comunicação”.
Numa vertente mais prática, o diretor de Folha do Domingo, Samuel Mendonça, abordou as especificidades das redes sociais Twitter, Facebook e Instagram, deu exemplos da sua aplicação e enumerou algumas ferramentas para trabalhar com elas.

Luís Santos abordou questões legais suscitadas pelo uso dos canais digitais de comunicação, nomeadamente os direitos de autor das imagens e para as consequências de quem as usa ilegalmente, bem como a nova lei do Regime Geral de Proteção de Dados.
Aquele jurista explicou que, segundo a legislação, o consentimento no uso de dados de menores tem de ser dado pelos pais dos mesmos até aos 13 anos de idade e que as paróquias precisam de deixar claro para que fim se destinam esses dados. “Temos de nos assegurar de que quem prestou o consentimento ficou esclarecido”, alertou, lembrando que a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens desaconselha a “exposição de crianças nas redes sociais”.
O formador advertiu que a violação da lei da proteção de dados pode levar à aplicação de “multas elevadas”.
O bispo do Algarve, que participou na formação, juntamente com mais oito pessoas das paróquias da Fuseta, Moncarapacho, Pechão, São Pedro de Faro, Silves e Tavira, do vicariato do Siroco (Olhão) e do Movimento dos Focolares, considerou aquela ação “necessária e urgente em relação a toda a diocese”. “Queremos ir aperfeiçoando sempre no que diz respeito à legislação”, afirmou D. Manuel Quintas, aludindo também à “ação evangelizadora da Igreja” e ao serviço que é chamada a prestar. “Isto pode ser uma riqueza, mas também um instrumento de realização da missão da Igreja”, considerou.