
O padre José Águas considerou no sábado que o renovamento litúrgico preconizado com o Concílio Vaticano II, concretamente através da constituição ‘Sacrosanctum Concilium‘ (SC), ainda não está totalmente assimilado, uma conclusão já adiantada na última assembleia diocesana.
“Esta constituição ainda hoje não é suficientemente conhecida e ainda hoje não está devidamente posta em prática”, afirmou o orador na Jornada de Pastoral Litúrgica promovida pela Igreja algarvia, através do seu Departamento da Pastoral Litúrgica, este ano dedicada ao tema “A Liturgia, fonte e escola de Santidade”.
Na iniciativa, realizada no Centro Pastoral de Ferragudo, o sacerdote defendeu a importância de se “revisitar a constituição” para “redescobrir o tesouro que ainda está escondido” nela e nos documentos (sobre a música, a leitura ou o local sagrado) emanados pela comissão constituída após o concílio porque “ainda são ilustres desconhecidos”.
O padre José Águas, apresentado juntamente com o cónego José Pedro como os “grandes promotores da aplicação da reforma litúrgica conciliar” que “contribuíram muito para a excelência daquilo que é hoje a liturgia na diocese” algarvia, começou por lembrar na sua intervenção sobre o tema “A ‘Sancrosactum Concilium’: da memória aos desafios pastorais na Diocese do Algarve”, que o renovamento litúrgico começou no século XIX com a “redescoberta das fontes, da patrística”.

“Esta renovação foi caminhando e entrou no nosso século”, lembrou, atribuindo a essa responsabilidade, sobretudo, a Pio XII que “publicou uma encíclica extraordinária – Mediator Dei – sobre liturgia que teve um impacto muitíssimo grande no desenrolar do concílio”. “Lembro-me da celebração da Semana Santa segundo o rito antes da reforma de Pio XII e depois dela, da vigília pascal celebrada de manhã, às 10h. Foi com Pio XII que se restaurou a Quinta-feira Santa na tarde, a adoração do Santíssimo, a Sexta-feira como dia da Liturgia da Palavra e, sobretudo, a noite Pascal”, lembrou.
O orador destacou então que a SC, que “define a liturgia como fonte e cume da vida cristã”, “foi a maior revolução”. “Todas as constituições foram importantes, mas a que teve mais visibilidade foi a da liturgia”, evidenciou, lembrando que esta foi o “primeiro trabalho do concílio”. “O concílio determinou que se usasse o vernáculo porque havia grande mal-estar”, reconheceu, acrescentando que um “aspeto extraordinário” e “dos mais importantes” foi a reforma ter estabelecido que “o Mistério Pascal está no centro da vida da Igreja”. “A Páscoa é o fundamento de toda a nossa liturgia”, evidenciou, destacando simultaneamente a sua “centralidade” na vida cristã.
O conferencista alertou para o perigo do “revivalismo” mas também lamentou que se tenha perdido a antiga expressão “ite missa est” e com ela o sentido de envio no final da missa. “Hoje propõe-se, primariamente, a Lectio Divina e esquece-se a Liturgia das Horas”, criticou ainda, lembrando que “o concílio reviu e renovou a oração das horas”. Lembrando igualmente os abusos nos cânticos, lamentou que, na eucaristia, “não se cante o que mais convinha cantar: os diálogos”. “Fizeram-se inovações fantasiosas. Atenção: Não é a minha missa. É a da Igreja”, advertiu, aconselhando: “quando olharmos ao missal, não olhemos primordialmente àquilo que rezamos. Olhemos às rubricas, a vermelho”.